12 de Maio de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: A AUTOAVALIAÇÃO PARA MELHORIA DO ACESSO E DA QUALIDADE DA ATENÇÃO BÁSICA (AMAQ) COMO FERRAMENTA DE APERFEIÇOAMENTO DO TRABALHO DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA

ESPECIALIZANDO: RENATA ALLANA DA COSTA PEREIRA

ORIENTADOR: DANIELE VIEIRA DANTAS

COLABORADORES:ANTONIELLY MATEUS NUNES, CAROLINA ROSA DA SILVA, DOMINGOS AVELINO DA SILVA, EDMILSON PINHEIRO DE LIMA, ERIVALDA FERREIRA DE OLIVEIRA, LUCAS EREQUES OLIVEIRA DE MOURA, PEDRO VIANA DA SILVA E ZAIRA CRISTINA DE ARAÚJO PAULO

Iniciei a primeira microintervenção com a convocação de uma reunião com todos os membros da equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) III – Poço Comprido (Boa Saúde/Rio Grande do Norte) para a análise e resposta da Autoavaliação para Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (AMAQ). A mesma ocorreu no dia 23/04/18 e nela pude dimensionar todas as fragilidades que existem na realidade de trabalho da unidade, bem como avaliar as potencialidades para solução das mesmas.

Figura 01

Figura 01. Equipe ESF III – Poço Comprido reunida para resolução e análise do AMAQ.

Após a discussão dos critérios da dimensão “Unidade Básica de Saúde”, vi que a subdimensão “Atenção Integral à Saúde” apresentou uma nota insatisfatória (menor que 5 pontos) no quesito acompanhamento e desenvolvimento de ações voltadas aos usuários de tabaco do território.

O grupo de tabagismo estava sem atividades na unidade há aproximadamente 01 ano. Além de pequenos problemas como a falta insumos por parte da gestão (como folders educativos e o datashow), a equipe não dispunha do suporte do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) para realizar essa atividade e nem de um controle sobre o quantitativo real do número de fumantes ativos na área (apesar desse grupo de pacientes ser uma realidade durante as consultas médica ou de enfermagem).

O tabaco é considerado um grave problema de saúde pública visto que seu uso está associado a diversas doenças (como doença pulmonar obstrutiva crônica, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico e câncer) e enorme ônus ao sistema de saúde (estima-se que em 2008 foram gastos aproximadamente R$ 20,68 bilhões com os problemas relacionados ao tabagismo) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Trata-se de uma droga adição capaz de ser evitada, visto a quantidade de medicações e suporte que se pode oferecer ao usuário dependente da nicotina.

Apesar de no último século a prevalência dessa dependência tenha diminuído no nosso país, o tabagismo é hoje a principal causa global de morbimortalidade prevenível (BRASIL, 2001). Segundo os últimos estudos epidemiológicos brasileiros realizado pela Fiocruz e IBGE (2014), o paciente tabagista é, em sua maioria, do sexo masculino, morador da zona rural, com poucos anos de estudo (0 a 8 anos) e com renda inferior a 1 salário mínimo. Esse perfil de fumante coincide com o paciente atendido em minha área, o que destaca a importância de se trabalhar o tema na unidade.

Deve-se ter em mente que o paciente tabagista é tanto aquele que faz uso do tabaco fumado (cigarro industrializado, cachimbos, charutos e cigarros de palha) quanto o que utiliza a forma não fumada (mascar fumo). O uso de tabaco não fumado, ao contrário do que muitos pensam, também relaciona-se a diversos problemas de saúde, como dependência e neoplasias malignas (CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009).

A interrupção do tabagismo está associada a inúmeros benefícios a longo e curto prazo para o paciente, como: redução do risco relacionado às doenças crônicas; melhora da autoestima e da aparência do paciente; melhora do convívio social com indivíduos não tabagistas e melhora no desempenho das atividades físicas (BRASIL, 2001).

Existem estudos que mostram o quanto o apoio ofertado pelos serviços de saúde ao tabagista que deseja interromper o tabagismo é deficiente e insuficiente, apesar do elevado número de fumantes que desejam parar de fumar (IBGE; FIOCRUZ, 2014). Frisa-se dessa forma a importância de se qualificar e preparar a equipe da AB (assistência básica) para acolher e dar seguimento ao seu tratamento.

Visto a importância do tema na minha área de atuação e por se tratar de um problema que a equipe de saúde pode se capacitar e se organizar para corrigir, optou-se por trabalhar essa temática com a elaboração da matriz de intervenção.

Espero com essa microintervenção restabelecer o grupo de tabagismo na unidade, contando com o apoio da equipe, utilizando o suporte multiprofissional do NASF e de insumos disponibilizados pela gestão (medicações e datashow).

O grupo terá duas vertentes de atuação:  realizando terapia comportamental com os tabagistas ativos (associado ao acompanhamento médico ambulatorial, com uso de medicações quando necessário) e atividades de prevenção recreativas com crianças e adolescentes. A longo prazo, tenho como objetivo, reduzir os números de tabagistas na área.

Segue abaixo a matriz de intervenção elaborada pela equipe para solução do problema.

Estratégias para alcançar os objetivos/metas Atividades a serem desenvolvidas

(detalhamento da execução)

Recursos necessários para o desenvolvimento das atividades Resultados esperados Responsáveis Prazos Mecanismo e indicadores para avaliar o alcance dos resultados
Realizar a listagem de todos os fumantes do território Busca ativa de todos os fumantes para elaboração de lista do público alvo Insumos para o registro Listagem de todos os pacientes fumantes que possam se beneficiar do grupo Agentes comunitários de saúde, médica e enfermeira 60 dias Lista de todos os fumantes do território que possam participar do grupo de fumantes
Realizar reuniões com os profissionais envolvidos no grupo de tabagismo para pôr ele em prática Realizar planejamento de ação dentro do grupo, reunir profissionais de diversas áreas que contribuam para o tratamento de usuários de tabaco, a fim de conseguir a adesão ao grupo Profissionais especializados, data show, medicamentos do programa, folders educativos e palestrantes Retomar o grupo de tabagismo e conseguir maior adesão possível da população afetada Secretária de saúde, NASF e profissionais da ESF 100 dias Fichas de atividade coletiva do E-SUS comprovando a adesão ao grupo

Tabela 01. Matriz de intervenção para resolução do problema apontado pela equipe.

Logo em seguida, prosseguiu-se com a atividade em grupo. Relembrou-se os indicadores que são avaliados pelo Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) e questionei de que forma se poderia acompanhar os números dos nossos atendimentos, de modo a ter um controle da qualidade do trabalho da equipe com base nos indicadores expostos, bem como passar esses dados para a população.

Como o território em que atuo é na zona rural e cobre uma vasta área, totalizando 2.026 pacientes (segundo a última territorialização), optou-se pela elaboração de um painel de indicadores na sala de situação impresso num banner, onde se poderia atualizar o quantitativo de consultas médicas realizadas a cada mês. Assim, ao final de um certo período, seria possível calcular a média consultas médicas por habitante.

As consultas médicas são registradas diariamente na “ficha de atendimento individual e-SUS”. Semanalmente, as fichas são repassadas para um digitador da Secretária Municipal de Saúde, responsável por enviar os dados para o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB). Logo, caso seja necessário, torna-se fácil recuperar o quantitativo de consultas médicas dos meses anteriores através de plataformas virtuais. Segue abaixo um esquema da tabela que elaboramos para monitoramento do indicador.

Figura 02

Figura 02. Painel de indicadores na sala de situação elaborado pela equipe que permite o monitoramento mensal do número de consultas médicas. Estão expostos os números de consultas médicas já realizadas no ano de 2018.

Termino essa microintervenção refletindo sobre a importância do trabalho em conjunto da equipe de saúde da família. Apesar de vivermos em uma realidade com carência de estrutura e falta de insumos, a organização e o planejamento de todos os funcionários da própria unidade podem contribuir de forma intensa para uma assistência à saúde de melhor qualidade. Pequenas ações realizadas apenas pelos profissionais podem trazer impactos positivos para a comunidade atendida. A análise do instrumento AMAQ foi apenas um pontapé inicial que nos permitiu avaliar nossas fragilidades e traçar futuras ações por parte da equipe.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica nº 40 – Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica: O cuidado da pessoa tabagista. Brasília: Ministério da Saúde, /2015.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA). Programa Nacional de Controle do Tabagismo – Tratamento do Tabagismo. Disponível em: <www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa-nacional-controle-tabagismo/tratamento-do-tabagismo>. Acesso em: 24 abr. 2018.

TEODORO, Wender Rodrigues. Manejo do tabagismo na atenção básica. 2012. 27f. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, 2012.

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