12 de novembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA                                                                                                                                                                    

Autora: Isabela Marques de Farias 

Orientador: Cleyton Cezar Souto Silva   

                                                                                              Mudança profunda        

             Muito se conta sobre a transformação ocorrida na economia, na cultura e na religião após a Revolução Industrial, mas talvez a mudança mais impactante em nossas vidas tenha sido a transformação epidemiológica que nós, profissionais da saúde, chamamos de transição epidemiológica. Essa transição é um processo lento que ainda está em curso em nosso país e em alguns outros países.(ARAÚJO,2012)

            A transição epidemiológica é gerada principalmente, mas não somente, pela alteração nas etiologias das principais doenças que acometem a população mundial nos dias de hoje. Tempos atrás, as principais etiologias das doenças eram infecciosas. Morria-se de peste, sarampo, varíola; doenças que em países de primeiro mundo são atualmente apenas relatos em livros. Hoje essas doenças não possuem impacto significativo em países desenvolvidos, na realidade desses a morte vem de forma lenta, silenciosa e saborosa. Ela se esconde em pacotes de snacks, bacon frito, litros de refrigerante e salas de estar com televisão em ultra HD. Isso ocorre porque a revolução industrial mudou toda nossa realidade, com ela veio a informática e a era moderna. Hoje o ser humano se tornou preguiçoso, não é necessário sair à caça pois o jantar pode chegar através de um toque no celular, não é mais necessário sair de casa para se divertir pois o catálogo de filmes é renovado quase todo mês. As doenças infecciosas tornam-se cada vez mais extintas depois do Bayon e da raquete mata insetos, a medida que a sociedade evolui e dia após dia as doenças não transmissíveis assumem o topo.(PRATA,1992)

           A medicina procura avançar dia após dia no conhecimento dessas doenças e novas informações são conquistadas todos os dias. O profissional da saúde deve  se manter sempre atualizado e vigilante. Em nosso pais como ainda estamos em processo de desenvolvimento, em melhoria do saneamento e das políticas de saúde no geral, a transição epidemiológica também não está completa e o povo brasileiro é acometido por uma tripla carga de doenças que é composta por doenças transmissíveis, não transmissíveis e causas externas. Ainda são comuns em consultórios brasileiros doenças como dengue, amebíase, hanseníase entretanto, cada dia mais elas estão sendo substituídas por doenças  como hipertensão arterial e diabetes .Na realidade em que vivo de uma cidade capital, posso afirmar que as doenças não transmissíveis e provocadas por causas externas já é a realidade esmagadora dos meus atendimentos.(ARAÚJO ,2012)

                Em minha equipe de UBS a maioria das ações e trabalhos são voltados  para doenças  não transmissíveis, crescimento e desenvolvimento e saúde sexual e reprodutiva .Isso ocorre porque esses três grandes grupos são os protagonistas do nosso cotidiano. Diversos instrumentos foram criados para facilitar e monitorar nosso trabalho com esses grupos. Enfocando o grupo  das doenças não transmissíveis, elaboramos planilhas de monitoramento para cada micro área (abaixo) compostas por: nome do  paciente, data de nascimento, patologia principal e associadas, medicações em uso, IMC e data da última consulta. Essas planilhas são preenchidas pelos técnicos de enfermagem após a consulta, como médica eu registro as informações em prontuário, o paciente possui uma carteirinha entregue por nós onde durante consulta eu atualizo as informações e as agentes de saúde também possuem planilhas, como as do consultório ,onde registram os pacientes e todas essas informações. Durante as visitas domiciliares das agentes de saúde a pressão de quase  todos os membros presentes é aferida para que realizemos uma busca ativa e em alguns casos também aferimos a glicemia capilar. Em todas as consultas médicas estou sempre procurando enfatizar os cuidados preventivos e os bons hábitos de vida, calculo IMC, pergunto sobre atividades esportivas e patologias familiares dentre outros. Nossa equipe também é assídua nos trabalhos sociais e ao menos uma vez ao mês estamos participando de Ações de Saúde que buscam abordar as principais patologias vistas em consultório.

               Durante nossa reunião de equipe apresentei aos colegas de trabalho o questionário desta  micro intervenção. Discutimos cada tópico e a cada pergunta os integrantes iam relatando sua opinião sobre a efetividade das nossas ações em relação ao tema levantado. Como citei no parágrafo anterior, muito do que foi levantado pelo questionário já é realizado por nós, no entanto estamos falhos em alguns pontos. No momento do debate concluímos que somos falhos ao acompanhar o paciente no processo de realização de exames fora da UBS e de marcação de consultas quando encaminhados; não possuímos grupos de incentivo a atividade física e bons hábitos alimentares e não realizamos exame de fundo de olho.

             Responder em equipe o questionário foi algo importante porque todos puderam ver que por mais que nos esforçamos para fazer nosso trabalho de forma eficaz, sempre há pontos que precisamos melhorar e que muitas vezes passam despercebidos porque permanecemos acomodados ao acreditar que já somos eficazes o bastante. Levantamos algumas ideias para resolução dessas falhas, mas todas precisam ser discutidas com mais tempo e com funcionários superiores a nós para serem colocadas em prática. Quanto a questão dos grupos de atividade física e alimentação saudável estamos trabalhando com a equipe do NASF formas de concretizar esta ideia, quanto a fundoscopia   me comprometi em me aperfeiçoar na técnica e teoria e cobrar da secretária de saúde municipal treinamento e equipamento necessário. A falha que mais encontramos dificuldade em elaborar uma solução foi o acompanhamento dos pacientes na marcação de exames fora da UBS e consultas com especialistas, por hora acordamos que as agentes de saúde serão responsáveis por entrar em contato com os pacientes após duas semanas do  encaminhamento para obter informações sobre.

               Não há como negar a importância desta micro intervenção para nossa equipe. O debate levantado serviu para abrir nossos olhos para questões que muitas vezes são deixadas para depois devido a correria do cotidiano. Discutir com a equipe e fazer com que todos os membros apontem falhas é de extrema importância e mais eficaz do que simplesmente informá-los sobre os planos de melhora. Quando todos discutem, além de mais problemas serem vistos, a aceitação e o empenho do profissional em buscar a melhora é sempre maior.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS :

PRATA, Pedro Reginaldo. A transição epidemiológica no Brasil. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro ,  v. 8, n. 2, p. 168-175,  June  1992 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1992000200008&lng=en&nrm=iso>. access on  09  Nov.  2018.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X1992000200008.

ARAUJO, José Duarte de. Polarização epidemiológica no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde,  Brasília ,  v. 21, n. 4, p. 533-538,  dez.  2012 .   Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742012000400002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  09  nov.  2018.  http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742012000400002.

 

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