1 de Fevereiro de 2019 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

CAPÍTULO III: PLANEJAMENTO REPRODUTIVO, PRÉ-NATAL E PUERPÉRIO

ESPECIALIZANDO: WALESKA PEREIRA CÂMARA

ORIENTADOR: TÚLIO FELIPE VIEIRA DE MELO

 

 

            Mesmo dispondo de todas as informações e orientações necessárias para que o planejamento seja não só realizado, mas principalmente aceito pela nossa comunidade, ainda nos deparamos com uma realidade totalmente diferente para a qual nos instruímos e nos dispomos, pois muitos casais tomam a decisão de terem seus filhos visando receber alguns benefícios dados pela prefeitura por fazerem parte de uma colônia de pescadores.Enquanto do outro lado, nos deparamos com um número grande de mães solteiras que se envolveram com turistas ou empregados de algumas empresas como das eólicas, que passam um determinado tempo trabalhando na região e elas iludidas, engravidam pensando que terão um futuro mais promissor ao lado do “companheiro” momentâneo. Desta forma, ao serem abandonadas, o que seria um planejamento familiar, passa a ser uma gravidez indesejada.

            A nossa Unidade de Saúde mensalmente tenta-se reunir as gestantes para uma breve discussão e orientações de como ter o acompanhamento adequado de suas gestações e pedimos aos esposos que as acompanhe nas consultas que são alternadas entre a médica e a enfermeira. As consultas são agendadas e programadas de acordo com a idade gestacional e com as necessidades diárias das gestantes e suas intercorrências. Nessas ações em que nos reunimos fazemos um levantamento do desejo e planejamento da mãe ou do casal participante em ter a criança e esclarecemos suas dúvidas desde o envolvimento sexual, psicológico e social dos mesmos envolvidos. Não esquecendo de sempre ressaltar que a decisão de ter filhos e constituir uma família é do casal e de grande importância para vida de ambos, visto que com a chegada dos filhos tudo muda.

            “Todas as pessoas possuem o direito de decidir se terão ou não filhos, e o Estado tem o dever de oferecer acesso a recursos informativos, educacionais, técnicos e científicos que assegurem a prática do planejamento familiar” (RAMOS, SÉRGIO PASSOS, 2011).   Desta forma e de acordo com as diretrizes do Ministério da saúde, juntamente com a ajuda do NASF, fazemos reuniões de aconselhamento com a grande maioria das gestantes e contamos com apenas 5% da participação dos esposos, pois a maioria encontra-se no mar pescando e os outros são desconhecidos que vão embora do município. Em nossas reuniões fazemos um levantamento entre as gestantes que tem feito regularmente o planejamento familiar e as gestantes que engravidaram ocasionalmente, e as separamos em grupos para administrar melhor as necessidades e dúvidas de cada grupo. Após a reunião/ação, iniciamos o atendimento individualmente e o seguimento do pré-natal. Como também acompanhamos aquelas mulheres que estão tentando engravidar e que não conseguem.

            Por mais que falamos e orientamos sobre a importância do planejamento familiar e de toda a preparação e estrutura para receber uma criança, percebemos que essa preocupação não existe por parte da maioria das mulheres e que as crianças são criadas pelos avós. Essa é uma triste realidade que enfrentamos, mesmo oferecendo, orientando e educando as mulheres sobre a importância de todos os métodos contraceptivos e da necessidade de usá-los tanto para prevenir uma gravidez indesejada, assim como forma para não adquirir uma doença infectocontagiosa.

            Outro ponto muito importante abordado em nossas ações é a diversidade sexual, relações de gêneros e prevenção de HIV/AIDS e outras DSTs como Sífilis, tentando de forma amena incluir esses assuntos durante o planejamento familiar e também em outras ações em que toda a comunidade esteja envolvida, a fim de não só prevenir certas doenças, mas como preparar os pais para aceitação dessa realidade que cresce a cada dia entre os relacionamentos, que sejam por fatores genéticos, ou que sejam por opção sexual mesmo. Além de fazermos as sorologias para o grupo que consideramos de risco através dos relatos dos próprios pacientes, e muitas vezes de pedidos dos mesmos por se envolverem com pessoas de risco.

            Nos casos em que são constatados sorologias positivas para as doenças no pré-natal, iniciamos os tratamentos quando dispomos das medicações ou encaminhamos para os centros de referência caso as medicações não estejam disponíveis no município. Fazemos a notificação, acionamos o conselho tutelar e começamos a busca ativa caso o paciente seja HIV + e das pessoas envolvidas para que seja iniciado o tratamento e acompanhamento através do encaminhamento para o centro de referência na Capital, pois em nosso Município não dispomos das sorologias e das medicações apropriadas.

            Visto que não temos muitos casos de doenças infectocontagiosas em nossa comunidade e apenas um caso de HIV+, procuramos fazer palestras de dois em dois meses com toda a comunidade, desde gestantes, jovens e idosos para que seja cada vez menor o número dessas doenças e contamos com o apoio do NASF, com orientações da psicóloga, do educador físico e da nutricionista, além de oferecermos um café da manhã como sendo mais um atrativo para chamar a população tão desfavorecida e carente. Fazendo assim um dia de socialização, informação, orientação e alegria para todos.

            Em nossa unidade o pré-natal é muito organizado e as consultas são todas agendadas e cumpridas conforme o calendário de cada gestante, sendo raro os casos em que precisamos fazer busca ativa, inclusive tivemos um caso em que era de uma adolescente que não aceitava a gravidez e tivemos todo o trabalho de ir até a casa da mesma e convencê-la  a iniciar o pré-natal com a nossa equipe. Este caso repercutiu de forma positiva e hoje temos procura de gestantes de outras unidades solicitando fazer o pré-natal conosco.

            Fazemos o controle das gestantes através do prontuário manual e de um caderno, onde temos todos os dados das gestantes para caso alguma delas não retorne ao seguimento que também é acompanhado pelo preenchimento da carteirinha do pré-natal dada pelo ministério da saúde. Nesta carteirinha, a cada consulta conferimos a idade gestacional, peso, altura uterina, batimentos fetais, movimentos fetais, freqüência cardíaca e respiratória da gestante, e pressão arterial, além de verificar se os exames e sorologias estão todas em dia e as ultrassonografias. Partindo de todos esses dados é que podemos encontrar alguma patologia a ser tratada antes do parto, como já tivemos um caso de toxoplasmose e a gestante foi encaminhada a unidade de referência do Estado e devidamente tratada, não tendo intercorrências durante o parto.

            Outro problema que enfrentamos durante o acompanhamento dessas gestantes é a alimentação totalmente irregular devido ao alto grau de pobreza da maioria e falta de condições básicas de higiene e saneamento. A grande maioria bebe água de poço, vivem no sol em plantações ou em currais para garantir a própria alimentação, enquanto outras vivem apenas do peixe que é a principal fonte de renda dos maridos. Procuramos orientar que as gestantes façam caminhadas juntas, que procurem alimentar-se melhor e beber água mineral ou filtrada pois encontramos muitas parasitoses na região. E como estamos sempre em contato com todas devido a região ser pequena, criamos um vínculo de confiabilidade que elas mesmas vem nos dá a notícia do nascimento de seus filhos e já agendam a consulta puerperal pois sabem que terão seguimento e orientações no CD com suas crianças.

            Lembramos também na consulta puerperal se o RN está em aleitamento materno exclusivo e se a pega está sendo devidamente correta, visto que a maioria das puérperas infelizmente não tem paciência em fazer o aleitamento materno adequadamente.

            Nossa equipe está sempre atenta e informada sobre os problemas que podemos encontrar com certas gestantes e puérperas, mas o trabalho não depende só da equipe que temos, mas sim da consciência de cada uma que teve seu filho e dos governantes que deveriam dar o mínimo de condições básicas como saneamento e água limpa para um higiene adequada.

 

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