6 de dezembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

A saúde sexual e reprodutiva é uma área central da saúde preventiva, englobando aspectos fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, como planejamento familiar, prevenção de ISTs e redução da mortalidade materno infantil, todos estes inclusos nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio definidos na Conferência do Milênio, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro de 2000. No quotidiano da UBS, notam-se diversos obstáculos na realização apropriada dos protocolos existentes nesta área, a começar pela paucidade de ações educativas ofertadas à população – as ações de saúde tendem a ter caráter curativo ao invés de preventivo, focando no atendimento, muitas vezes realizado de maneira improvisado e insuficiente, ao invés de palestras ou dinâmicas que propriamente elucidem questões da área a um número maior de pessoas, já que outro revés do foco em ações curativas é a menor quantidade de indivíduos recebendo informações. A equipe 086 da UBS do Novo Horizonte planeja para o mês de agosto de 2018, uma ação envolvendo palestras focando em aspectos gerais da saúde sexual e reprodutiva, a ser realizada em escola da área. Torna-se especialmente clara a necessidade do aumento de programas educativos, principalmente voltados a faixa etária escolar, quando levam-se em conta alguns pontos da realidade regional, como a significativa porção de jovens da área que relatam início da vida sexual entre os 12 e 14 anos, a normalização da figura da mãe adolescente, com alguns fatores culturais levando inclusive a um extremo maior, onde torna-se esperada uma primeira gestação antes dos vinte anos. Muitos jovens também possuem dificuldades em procurar a UBS de maneira espontânea, seja por uma percebida dificuldade no acesso a consultas, ao tabu envolvido ainda no assunto, ou simplesmente à uma errônea ideia de não serem responsáveis primários ou não necessitarem de acompanhamento e orientação nesta área, no caso de jovens do sexo masculino. Outro ponto que enfatiza a necessidade de maior aproximação a esta faixa etária, é que neste período comumente observam-se o surgimento de dúvidas e a indisponibilidade de um maior número de palestras e conversas que abordem temas como diversidade sexual e relações de gênero, temas estes que não são atualmente abordados de forma ampla com a população. O acolhimento aos pais e responsáveis legais também possui grande importância neste âmbito, visando facilitar relações familiares possivelmente enfraquecidas por desentendimentos e má informação. Contudo, esta porção da atividade torna-se desafiadora, tendo em vista que alguns membros da própria equipe mostram-se desinformados sobre o assunto, atendo-se a preconceitos antigos. No quesito sobre doenças sexualmente transmissíveis, estas, sempre que diagnosticadas são devidamente tratadas, embora a falta de algumas medicações na rede básica, como a ceftriaxona, impeçam o seguimento apropriado de todas. Muitos pacientes não possuem meios de comprar a medicação, e por fim acabam realizando tratamentos sub-optimais ou incompletos. Casos de HIV possuem um fluxograma bem estabelecido, portanto são sempre devidamente encaminhados e notificados. Métodos contraceptivos são ofertados e explicados com relativa frequência à comunidade, tanto o preservativo masculino quanto anticoncepcionais, orais e injetáveis, enfatizando-se sua necessidade no combate não só a gravidez como às ISTs. No que se refere ao acompanhamento pré-natal, primeiramente deve-se fazer nota do grande volume de gravidezes não planejadas em acompanhamento na área, oque aponta falhas na atenção a saúde sexual e reprodutivas iniciais. Não obstante, o serviço de pré-natal em si é ofertado da maneira mais correta possível com o levantamento periódico das gestantes da área sendo feito pelos acs, inclusive das que fazem acompanhamento em outros serviços, a busca ativa de gestantes da área, inclusive de adolescentes, embora ainda assim uma boa parte inicie o pré-natal com número avançado de semanas (após a vigésima, em muitos casos). A caderneta da gestante é preenchida de maneira correta e todos os exames complementares são solicitados no momento apropriado. Por seguinte, ISTs e vaginoses (muito prevalentes na área) são propriamente tratadas, orienta-se com relação à alimentação e hábitos saudáveis, sobre a amamentação, e enfatiza-se a importância da consulta de puerpério, embora esta seja desconsiderada em sua maior parte pelas usuárias. Um desafio final observado na rotina desta UBS é a inexistência de grupos de discussão para saúde sexual, embora este ponto seja inicialmente mais difícil de contornar, por limites de espaço na unidade e escassez de locais apropriados na área. Pôde-se comprovar ao longo do texto um desafio comum observado no contexto da saúde sexual e reprodutiva: a ênfase dada ao papel da mulher, suas responsabilidades enfocadas de maneira muito mais incisiva. Algumas pequenas ações, como tentativas de educar a população, iniciando por adolescentes, passando pelo encorajamento do acompanhamento de parceiros durante o pré-natal, poderiam ajudar a diminuir este abismo de expectativas, contudo, sem mudanças maiores no contexto social em que a sociedade se encontra inserida, dificilmente observara-se uma melhora desta disparidade.

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