TÍTULO: OS DESAFIOS DO PLANEJAMENTO FAMILIAR NO CONTEXTO DA SAÚDE DA FAMÍLIA
ESPECIALIZANDO: Jefferson Endrisse
ORIENTADORA: Maria Betânia Morais de Paiva
A saúde da família é umas das prioridades para a saúde pública, revela ser um indicativo de que o governo compreende a importância da família como sistema. O planejamento familiar foi construído em relação aos métodos, para controlar o número de filhos por famílias, sendo que a adequação do número de filhos atualmente está relacionada à renda familiar, e pelo aspecto cultural de cada região constituindo importante função no desenvolvimento e na promoção da qualidade de vida (SANTOS; FREITAS; 2011).
Nossa Unidade Básica de Saúde (UBS) conta com os contraceptivos básicos enviados pelo Ministério da Saúde (MS), porém muitas vezes são esquecidos nos armários, alguns até vencidos e em outros casos, não abordados pelos profissionais e não explicados da melhor forma de escolhê-los e usá-los. Toda minha equipe ao responder a lista de questões no que se refere ao planejamento reprodutivo e pré-natal, verificou algumas falhas, no que se refere aos métodos contraceptivos e nas orientações para os casais que querem informações sobre o tema. Pensando em todo esse contexto, começamos a trabalhar nesses pontos negativos identificados.
Temos como base que todos devem ter uma vida sexual segura, ter autonomia de quando quer reproduzir. Adolescentes garantindo sigilo da consulta aos responsáveis; adultos, independente da orientação sexual ou de gênero, com direito ao acesso e orientações por um profissional da saúde, englobando todo planejamento reprodutivo pelos critérios de elegibilidade dos métodos anticoncepcionais definidos pela OMS adequada para cada pessoa (BRASIL, 2002).
Quando um paciente solicita a anticoncepção devemos seguir alguns passos importantes como, registrar antecedentes patológicos e obstétricos, questionar sobre parceiros, medicação em uso e os direitos sexuais e reprodutivos, identidade de gênero prevendo uma possível inseminação artificial e a fertilização in vitro. Se houve algum sangramento e se usou algum método anticoncepcional anteriormente a avaliação clínica, no exame físico realizá-lo conforme o método de escolha e os critérios de elegibilidade, seguida da orientação de todos os métodos disponíveis na unidade inclusive enfatizar o uso de preservativos, sobre sua função pela equipe multiprofissional, é de grande importância, pois a oferta deve ser livre, esclarecida e aconselhada no momento da consulta, sendo que a escolha pelo método pode ser influenciada pela renda da paciente e pela disponibilidade no serviço de saúde, a grande maioria tem optado pelos injetáveis tanto mensais quanto trimestrais, conforme relato abaixo:
“Prefiro injeção trimestral, pois acabo não esquecendo de tomar no dia, assim não fico na dúvida se tomou ou não” afirma, uma paciente de 18 anos que iniciou a anticoncepção trimestral em nossa unidade durante esse trabalho”.
Alguns pacientes relatam a interrupção do uso da pílula porque ela “falhou” e uma gravidez sobreveio, ou por que teve alguns efeitos colaterais como dores de cabeça, enjôos e vômitos; por outro lado, outras usuárias decidiram trocar de pílulas, pois acham a distribuída pelo posto “fraca”, duvidando de seu efeito e em relação ao preservativo houve uma forte recusa ao preservativo feminino, pela dificuldade na colocação do mesmo ou perspectiva negativa dos parceiros. Com relação ao Dispositivo Intra Uterino (DIU), apesar de ser um método disponível é de baixíssima utilização.
Outro fator que afeta a decisão é a carência de recurso material, influenciando negativamente no entendimento das mulheres em planejamento familiar, liberdade de escolha e na continuidade de uso do método.
Esse trabalho com a população envolve toda a equipe de saúde, onde, palestras e rodas de conversas são de grande importância e vão muito além do consultório, acabando com o “tabu” de falar sobre sexo e são percebidas como forma de qualificar a atenção em planejamento familiar. Algumas vezes nos deparamos que a usuária não esta com o parceiro nas reuniões, assumindo assim toda responsabilidade pela decisão.
A maioria das usuárias que participaram de alguns grupos expressaram ter gostado dos quais participou, o fato de ter esclarecido dúvidas e aprendido mais sobre gravidez, como evitar doenças e sobre os métodos disponíveis.
Montamos um cronograma para essas atividades com a população de nossa área, onde foi bem aceito, mas com poucas pessoas. Foi discutido com professores e pais a possibilidades de realizarmos palestras nas escolas para adolescentes tendo como objetivo orientar dos riscos de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’S) e gravidez precoce. As mulheres constituem o público-alvo das consultas sobre planejamento familiar nesse serviço, pois são mais curiosas, inibidas e trazem consigo dúvidas dos parceiros e mais da metade delas já fizeram uso de algum método anticoncepcional anteriormente e uma pequena parte tem interesse de iniciar, muitas com medo de engravidar de seus parceiros.
Essa experiência foi de extrema importância, pois este tema, pouco abordado em nossa área e a pouca oferta dos anticonceptivos intimidavam os pacientes em ter uma conversa com o profissional e de ir buscá-los na unidade de saúde. Considerando, também que as UBS localizadas na área rural em que atuamos são pequenas. Os poucos profissionais que trabalham são conhecidos, facilitando o contato com as usuárias.
Anteriormente, o trabalho de planejamento familiar nas unidades consistia em uma consulta rápida de enfermagem e distribuição do método em seguida, caso a paciente ainda tivesse dúvidas deveria marcar uma consulta ginecológica com o médico. Caso a agenda da unidade estivesse cheia no dia, não era disponibilizado tempo para realização de atividades educativas em grupo ou palestras. Em algumas pesquisas feitas com as usuárias notamos que os resultados demostram que reuniões de grupo foram avaliadas positivamente configurando como espaços de troca de experiências e aquisição de novos conhecimentos, além do planejamento reprodutivo favorecer mulheres em atendimento pré-natal e no pós-parto. Vales destacar, a contribuição dos ACS na divulgação das atividades programáticas com esse público alvo.
Alguns pontos negativos que dificultaram nesse processo foram em razão de níveis precários de escolaridade, timidez, costumes culturais e o alto número de usuárias laqueadas. As condições de acesso das usuárias ao planejamento reprodutivo ainda necessitam ser mais incrementadas, mais divulgadas e uma melhor oferta de grupos em horários diferentes ao de trabalho das usuárias. Outro ponto importante é em relação a iniciativa política de gestores municipais na organização dos serviços.
Devemos nos preocupar mais com a saúde da mulher no intuito de provocar a integralidade no atendimento as nossas usuárias, incluindo outros temas que também fazem parte como o pré-natal, auxílio-maternidade por exemplo, que tem como função garantir a renda durante o período de licença, com esse benefício, a família pode ter recursos para auxiliar na fase inicial de desenvolvimento da criança que podem ser discutidos nos grupos, entre outros temas que fazem conexões com o planejamento familiar.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Assistência em Planejamento Familiar: Manual Técnico/Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica de Saúde da Mulher – 4a edição – Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
Brasil. Ministério da Saúde. Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres / Ministério da Saúde, Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa – Brasília : Ministério da Saúde, 2016.
SANTOS, J.C.; FREITAS,P.M.. Planejamento familiar na perspectiva do desenvolvimento. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 16, n. 3, p. 1813-1820, Mar. 2011.
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