12 de Maio de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

RELATO DE EXPERIÊNCIA APLICANDO A FERRAMENTA AUTOAVALIAÇÃO PARA MELHORIA DE ACESO E DA QUALIDADE DA ATENÇÃO BÁSICA (AMAQ)

 

Unidade Básica de Saúde (UBS) Cobé / Estratégia Saúde da Família (USF) Cobé

Discente: MARLEN CHANG GARCIA

Orientadora: DANIELE VIEIRA DANTAS

A garantia da qualidade da atenção apresenta-se atualmente como um dos principais desafios do Sistema Único de Saúde (SUS). São muitos os esforços empreendidos para a implementação de iniciativas que promovam o aceso com qualidade aos serviços de saúde, motivo pelo qual gostaria de relatar minha experiência na aplicação da ferramenta Autoavaliação para Melhoria de Aceso e da Qualidade da Atenção Básica (AMAQ) na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Cobé, comunidade rural pertencente ao município de Vera Cruz/Rio Grande do Norte.

Essa atividade avaliativa foi o ponto de partida para a reorganização da equipe, fazendo uma autoanálise da autogestão para identificar os problemas e formular estratégias de intervenção para a melhoria dos serviços, das relações e do processo de trabalho, assim como identificar nossas fortalezas e debilidades para desenvolver as ações de intervenção focadas nos problemas identificados.

No primeiro momento, foi apresentada à equipe a proposta de autoavaliação, ressaltando a importância de fazer uma análise reflexiva e aprofundada na identificação das potencialidades, fragilidades e estratégias de intervenção para a melhoria dos serviços e a necessidade de escolher um instrumento orientador da autoavaliação e do planejamento para implementação das intervenções identificadas pelos atores responsáveis.

A equipe foi estimulada a discutir ademais os desafios e ações com criatividade e responsabilidade dos atores envolvidos. Finalmente foi elaborada uma matriz de intervenção com ações multiprofissionais, interdisciplinares e intersetoriais, para melhoria da organização e qualidade dos serviços da Atenção Básica, sem esquecer a avaliação dos resultados diante das intervenções.

Seguidamente começamos a aplicar a ferramenta de avaliação segundo está estruturado: Parte I – Equipe de Atenção Básica, com foco na Equipe de Atenção Básica e Parte II – Equipe de Saúde Bucal, com foco na Equipe de Saúde Bucal. Na Parte I – Equipe da Atenção Básica foram avaliadas quatro dimensões que a sua vez têm 14 subdimensões e na Parte II – Equipe de Saúde Bucal com quatro dimensões desdobradas igualmente em 14 subdimensões.

Para realizar a avaliação desses aspetos foi necessário utilizar os padrões de qualidade estabelecidos para a AMAQ, que têm uma estrutura de organização que obedecem a um formato com número de padrão, descrição do padrão de qualidade e escala numérica para o grau de adequação do padrão.

Foram examinadas detalhadamente as diferentes dimensões com suas respectivas subdimensões, avaliando os padrões de qualidade e lhes outorgando pontos segundo a percepção de qualidade percebida em cada um deles. Desse jeito conseguimos elencar os principais problemas na categoria de “insatisfatórios” para assim escolher os problemas prioritários a serem enfrentados e refletir sobre as causas dos escolhidos e selecionar os mais críticos. Foi assim que encontramos dificuldades em nosso planejamento de ações para a atenção integral à saúde na comunidade, sendo uma das causas de agendas topadas e aumento na demanda de atendimento espontâneo e urgências.

Toda equipe coincidiu particularmente nas dificuldades no tema relacionado com o aleitamento materno exclusivo, apesar de todos os esforços dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), atuando diretamente em suas visitas domiciliares, e a equipe de enfermagem instruindo e apoiando, para que as mães desde o pré-natal garantam aos seus bebês o aleitamento materno exclusivo; mesmo assim, ainda temos muita resistência à adesão a amamentação, além da falta de apoio familiar e os fatores socioculturais.

Desde a minha chegada à UBS, começou ser motivo de preocupação perceber que muito a pesar das orientações fornecidas à maioria das mães optam por complementar a amamentação e o que é mais grave: substituí-la totalmente, fato que está afetando a saúde dos lactentes e vê-se refletido em aumentos da demanda de assistência médica com episódios cada vez mais frequentes de infecções respiratórias, diarreia, anemia e obesidade.

Para alcançar os objetivos/metas foi proposta o desenvolvimento de uma estratégia de intervenção educativa dirigida a promover e fomentar a pratica do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida. Dentro das atividades a serem desenvolvidas estão incluídas atividades dirigidas aos profissionais de saúde e à população em geral tanto no pré-natal, quanto no pós-parto e em visitas domiciliares a puérperas. Para desenvolver essa estratégia pactuamos revisar previamente a literatura mais atualizada para programar palestras informativas e demonstrativas, atividades grupais para troca de experiências e elaboração de instrumentos ilustrativos relacionados com o tema.

Os recursos necessários para o desenvolvimento da atividade são os recursos humanos da unidade (medico, enfermeira, ACS, Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)), um espaço físico para a realização das atividades e outros recursos materiais (notebook, cartolina, projetor, entre outros). Com essas ações esperamos aumentar o nível de conhecimentos e obter experiências positivas em relação às taxas de aleitamento materno, procurando atingir as metas de amamentação exclusiva ate o 6º mês e, a partir daí, de complementação com alimentação adequada de desmame até o 2º ano de vida.

Os responsáveis são todos os atores envolvidos no processo de trabalho na unidade, ou seja, a Equipe de Saúde da Família. Foi pactuado um prazo de 6 meses para realizar as atividades e o monitoramento das mesmas, o qual vai ser feito a través dos registros na Caderneta de saúde da Criança, prontuário individual, visitas domiciliares realizadas pelos ACS e consultas de crescimento/desenvolvimento (CDs) em conjunto médico/enfermeira.

Pra o desenvolvimento das estratégias contamos com várias fortalezas, como ter uma Equipe de Saúde da Família completa, uma estrutura física adequada da unidade, assim como agendas organizadas para o cuidado continuado/programado  e demanda espontânea, assim como a apoio do NASF. Uma das preocupações da Equipe de Saúde da Família que constitui também a maior debilidade é a relação da nutriz com seus familiares. Pois, mesmo após receberem toda a orientação no consultório, todo o apoio dado pelos agentes comunitários de saúde nas visitas domiciliares, encontramos nos familiares um dos maiores desmotivadores do aleitamento materno exclusivo, principalmente por suas tradições.

Muitas mães nos relatam as dificuldades e até podemos considerar preconceito, principalmente de avós, com a prática do aleitamento materno exclusivo. Muitas são as desculpas que as próprias mães nos dão, para o desmame precoce: “o leite é fraco e não está alimentando o bebê”, “está emagrecendo muito”, “o leite é pouco, o bebê sente sede e precisa tomar água” ou “bebê está com cólicas e precisa de um ‘chazinho’ para melhorar”. Todo isso combinado com o fato de ser uma comunidade rural com baixa escolaridade, poucos recursos socioeconômicos e uma forte tradição que provoca efeitos de criança saudável e bem nutrida e calam a criança, porém sem grandes benefícios nutricionais.

Foi uma experiência de aprendizado e muito gratificante a aplicação da ferramenta AMAQ na minha UBS (Fotos 1 a 5). Espero obter um impacto positivo com o desenvolvimento de estratégias que vêm se mostrando essenciais para incentivar e promover uma melhoria na qualidade do pré-natal e no atendimento ao puerpério, através da mobilização de toda a equipe de saúde e adoção de medidas para melhorar os padrões do aleitamento materno e redução da morbi-mortalidade infantil. Além de obter como resultado, mães com conhecimentos de qualidade e crianças nutridas e mais felizes.

Foto 1. Aplicação da ferramenta AMAQ na UBS Cobé.

Foto 2. Aplicação da ferramenta AMAQ na UBS Cobé.

Foto 3. Aplicação da ferramenta AMAQ na UBS Cobé.

Foto 4. Aplicação da ferramenta AMAQ na UBS Cobé.

Foto 5. Aplicação da ferramenta AMAQ na UBS Cobé.

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