Em prol de uma atenção básica eficiente
Neste primeiro relato irei contar a vocês sobre a experiência que vivi, juntamente a toda a minha equipe, ao aplicar a AMAQ em nossa realidade profissional analisando sob diferentes pontos de vista os diversos indicadores que buscam a melhoria da atenção básica. Serão relatados os principais pontos desse processo, tanto negativos quanto positivos, além da descrição do processo de criação de nossa matriz de intervenção e de nosso novo instrumento que irá nos auxiliar a coletar os dados necessários para atendermos os indicadores do PMAQ.
Confesso que já no primeiro momento tivemos um impasse, ao solicitar a presença das agentes de saúde para uma reunião extra, que estava fora de nosso cronograma de reuniões, algumas se mostraram indispostas e a situação ficou ainda pior quando relatei que precisava do apoio delas para aplicação da AMAQ. Fui questionada sobre a necessidade da aplicação da AMAQ neste momento, já que elas haviam aplicado este instrumento recentemente para a realização do terceiro ciclo do PMAQ no final de 2017. Expliquei que o instrumento pode ser aplicado a cada seis meses caso a equipe considere viável e que esta aplicação neste momento, me auxiliaria no aprendizado do conteúdo de minha especialização. Assim mesmo, elas se mostraram descontentes com nossa reunião e só cederam porque expliquei a importância desta para minha formação e posterguei a atividade para a data da nossa próxima reunião já programada.
Essa resistência ocorreu porque as agentes de saúde do meu município de atuação estão em atrito com o prefeito, já que este não liberou e não tem previsão de quando irá liberar, a bonificação financeira pelo sucesso do terceiro ciclo do PMAQ. Recentemente as agentes realizaram uma paralização de suas atividades para reivindicar o bônus que lhes foi prometido. Outro motivo para a indisposição é que infelizmente na região de nossa UBS não contamos com linhas de ônibus, nem mesmo nas proximidades, e a grande maioria das agentes de saúde, contrariando o ideal, não residem em sua área de atuação.
Resolvido o impasse da data do encontro, nos reunimos em uma manhã onde discutimos cada indicador da AMAQ e chegamos a um consenso (nota) para cada um deles. Em nossa discussão concluímos que a atenção básica em Macapá exerce bem seu papel de porta de entrada preferencial ao SUS, a gestão municipal mantém a UBS sempre abastecida dos insumos necessários para seu bom funcionamento, está sempre atenta a situação de saúde para assim planejar suas decisões e constantemente realiza capacitações para suprir as necessidades educacionais dos profissionais da ESF. Em contraposição, o município não investe no plano de carreia dos técnicos e enfermeiros, deixa muito a desejar quando necessitamos encaminhar nossos pacientes para atenção especializada ou quando necessitamos de um exame diagnóstico rebuscado, como uma tomografia computadorizada ou endoscopia.
Nosso debate foi rico e consideravelmente importante para meu crescimento profissional na atenção básica e melhor conhecimento da área, já que comecei minha atuação nesta equipe há apenas quatro meses. Ao final da discussão da AMAQ concordamos em elaborar um novo instrumento (anexo 1), que se enquadre melhor aos indicadores do PMAQ, esse será aplicado em nosso dia a dia e será usado por nós para a realização das estatísticas e avaliação do nosso trabalho na atenção básica.
A parte mais difícil desta atividade foi a escolha de um indicador para a realização da matriz de intervenção. Após muito debater, concluímos que a distância física e a dificuldade de transporte dos pacientes entre nossa área e UBS, devido à falta de transporte público que nos contemple, é o principal ponto que devemos intervir. Essa distância prejudica significativamente nosso trabalho e a eficiência de nossa equipe pois, muitos pacientes não retornam para entrega de exames, consultas rotineiras, alguns deixam inclusive de usar as medicações continuas por falta de renovação de receitas. Montamos portanto nossa matriz com base nesse parâmetro, traçamos como meta a realização mensal de atendimentos médicos e de enfermagem em uma das microáreas, atendendo assim as seis microáreas ao final de seis meses.
Essas consultas serão realizadas em espaços públicos adequados (igreja, quadras de esporte, escolas, entre outros) onde buscaremos construir um consultório provisório dando privacidade aos pacientes e onde também será possível a realização de aferição de pressão arterial, medidas antropométricas, medição de glicemias e entrega de algumas medicações básicas. O nosso prazo estipulado será de seis meses, encerrando-se em trinta e um de novembro de 2018 e a eficiência de nossa intervenção será analisada de acordo com os números de doentes crônicos acompanhados e em tratamento adequado, redução dos casos de AVC e diminuição dos acidentes com idosos em nossa área. Serão responsáveis pela intervenção a médica e a enfermeira da equipe.
Sob meu olhar esta microintervenção foi engrandecedora para toda equipe e principalmente para nossos pacientes. Nossa equipe se viu mais unida, mais consciente de nossas falhas, mais estimulada a realizar melhorias e de quebra, relembramos juntos cada ponto do PMAQ, que jamais deveria ser esquecido em nosso dia-a-dia. Pude perceber em cada membro de nossa equipe o semblante de conscientização, a vontade em alcançar melhorias e a “luz do estímulo”. Meu papel nesses seis meses será, dentre tantos outros, o de manter essa “luz acessa”. Acredito que o impacto desta intervenção será significativo havendo redução na incidência de doenças crônicas e suas consequências, controle das doenças prevalentes, redução do número de pacientes omissos ao tratamento, uma população mais consciente e comprometida com sua saúde e uma equipe mais atenta as necessidades dos seus pacientes, mais comprometida, mais unida, mais proativa! Como forma de agradecimento pela presença de todos em nossa reunião e principalmente buscando reforçar a união de nossa equipe, preparei um café da manhã reforçado para recebe-los.
Referências
Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mais perto de você: Acesso e Qualidade do Programa Nacional do Acesso e da Melhoria (documento síntese para avaliação externa): manual instrutivo. Brasília, 2012d. Disponível em:http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/manual_instrutivo_pmaq_site.pdf . Acesso em: 13 jun.2018.
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Anexos