HIPERDIA E SEU IMPACTO NA ATENÇÃO BÁSICA
ESPECIALIZANDO: RÚTILA TAIANE PRAXEDES RITTER
ORIENTADOR: TULIO FELIPE VIEIRA DE MELO
Durante o estudo do módulo Controle das Doenças Crônicas não Transmissíveis na Atenção Primária à Saúde, muitas temáticas foram importantes para a construção e entendimento de um bom funcionamento das unidades de saúde, bem como da qualidade dos serviços prestados à população.
Entender o funcionamento adequado das principais patologias na atenção primária é um mecanismo fundamental na prática diária da atenção básica. Dentre essas doenças, destacam-se a Diabetes Mellitus (DM) e a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) que são doenças crônicas apontadas como os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, constituindo assim a principal causa de morbimortalidade na população brasileira.
Com o objetivo de diminuir as complicações de tais doenças e promover melhor qualidade de vida à população que sofre com tais patologias o Ministério da Saúde criou o Programa Hiperdia. O Hiperdia destina-se ao cadastramento e acompanhamento de portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus atendidos na rede ambulatorial do Sistema Único de Saúde – SUS, permitindo gerar informação para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentos de forma regular e sistemática a todos os pacientes cadastrados. O sistema envia dados para o Cartão Nacional de Saúde, funcionalidade que garante a identificação única do usuário do Sistema Único de Saúde – SUS (BRASIL, 2012a; BRASIL, 2013b).
Os profissionais de saúde atuantes na Estratégia Saúde da Família (ESF) devem programar e implementar atividades de investigação e acompanhamento dos usuários. Ademais, a educação em saúde precisa ser incorporada às suas práticas cotidianas, por meio de palestras, visitas domiciliares, reuniões em grupos e atendimento individual, em consultas médicas e de enfermagem, o que favorece a adesão ao tratamento, na medida em que o sujeito é percebido como protagonista do processo (CARVALHO; CLEMENTINO; PINHO, 2008).
Tomando como base inicial desta intervenção a avaliação externa do PMAQ (Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção) alguns pontos cruciais foram essenciais para perceber a fragilidade da temática não só na minha equipe (42) bem como na Unidade de Nova Natal. Infelizmente minha equipe estava desassistida de médico há quase 01 ano e durante esse período a prática do Hiperdia foi deixada um pouco de lado. A enfermeira vinha tentando prestar um serviço de qualidade, porém diante da alta demanda e também das suas limitações técnicas o programa foi um pouco negligenciado e se resumia basicamente à renovação de receitas.
Durante a reunião com a equipe percebi que alguns pontos da avaliação do PMAQ não vinham sendo praticados como preconiza o Ministério da Saúde. A equipe 42 possui um livro onde são registrados os pacientes com DM e HAS e as medicações que fazem uso. Porém, esse livro não era atualizado há mais de 06 meses. Não havia controle dos pacientes que já apresentavam alguma complicação decorrente dessas patologias, como IAM (Infarto Agudo do Miocárdio) e AVE (Acidente Vascular Encefálico), por exemplo. Não havia atualização das medicações que os pacientes fazem uso, bem como controle de consultas e exames periódicos.
Diante da problemática vivenciada me reuni com a equipe e tentamos montar estratégias que nos pudessem atualizar esses dados e promover um serviço de qualidade à essa população. Decidimos que os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) durante as visitas domiciliares iriam realizar busca ativa das pessoas que possuem DM e/ou HAS e das medicações que fazem uso e por quanto tempo; Iriam questionar ainda sobre a última consulta e realização de exames periódicos.
Outro ponto que procurei determinar com a equipe foi delimitar na agenda um dia para atender somente pacientes do programa Hiperdia. Confesso, que foi uma conquista difícil, pois os agentes de saúde possuem a cultura de que pacientes com DM e HAS precisam apenas de suas receitas renovadas e que a consulta só seria necessário se apresentassem alguma queixa. Referiam ainda que perderiam muito em demanda geral na marcação da agenda, por conta desses atendimentos. Procurei mostrar e explicar a importância de se fazer um atendimento prioritário e preventivo desses pacientes, bem como da necessidade de acompanhamento regular desses pacientes, evitando assim complicações cardiovasculares e reduzindo à médio e longo prazo morbimortalidade.
Com relação a frequência das consultas procurei determinar com os agentes de saúde que os pacientes com DM e HAS passem por consultas a cada 3 meses. Para isso, irei alternar os atendimentos com a enfermeira procurando englobar a maior quantidade de pacientes. Caso, na consulta com a enfermeira seja evidenciado alguma alteração ou queixa o paciente é encaminhado para consulta “extra” na semana seguinte. Dessa forma, iremos promover acesso continuado e prevenção de agravos à sua saúde.
Procurei determinar com a equipe que a renovação de receitas do programa Hiperdia sejam realizadas apenas com consultas médicas, tentando excluir o máximo possível as renovações contínuas sem consultas. Tentei mostrar que o tratamento adequado dessas patologias vai além da tomada das medicações, mas que precisam essencialmente da promoção e prevenção de agravos/ complicações.
Minha equipe (42 da Unidade de Nova Natal) possui um grupo prioritário- idosos onde são realizados intervenções quinzenais. Procuramos determinar alguns temas para serem discutidos nessas reuniões que englobem também o programa do Hiperdia. As discussões são sobre alimentação saudável na terceira idade; adesão ao tratamento medicamentoso; prática rotineira de atividades físicas; complicações da DM e da HAS; prevenção de complicações entre outros. Dessa forma, iremos promover a educação continuada de toda a equipe e dos pacientes que participam do grupo.
Acredito que de todas as intervenções que eu realizei desde a minha entrada no programa até hoje, essa vem sendo a mais difícil. Além da demanda de pacientes nesse programa ser grande, existe ainda uma cultura errada dos agentes de saúde e da população de acreditarem que precisam apenas das renovações de suas receitas. Instituir algo que gere mudança e promova impacto na rotina é sempre algo difícil e que necessita de empenho e trabalho de toda a equipe.
Dessa forma é essencial a manutenção de estratégias de saúde pública específicos para população do Hiperdia. É fundamental que os profissionais de saúde promovam ações à população. É essencial entendermos que o programa Hiperdia é uma estratégia que minimiza situações de sofrimento e abandono dos usuários, bem como promove práticas integrativas do cuidado, garante acesso ao atendimento e possibilita humanização dos serviços oferecidos.
Referências
CARVALHO, V. L. S.; CLEMENTINO, V. Q.; PINHO, L. M. O. Educação em saúde nas páginas da REBEn no período de 1995 a 2005. Rev Bras Enferm, Brasilia, v. 61, n. 2, p. 243-248, fev. 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica : diabetes mellitus / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013a. 160 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36).
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013b. 128 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 37) SIS-HIPERDIA. 2012. Disponível em: . Acesso em: 13 set. 2018.
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