O CUIDADO AO USUÁRIO COM DOENÇA CRÔNICA NÃO TRANSMISSÍVEL DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA III – POÇO COMPRIDO
ESPECIALIZANDA: RENATA ALLANA DA COSTA PEREIRA
ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS
COLABORADORES: ANTONIELLY MATEUS NUNES, DOMINGOS AVELINO DA SILVA, EDMILSON PINHEIRO DE LIMA, FREDIANO RODRIGUES DE OLIVEIRA, NAYANA PRISCILLA LOURENÇO DE MACEDO, PEDRO VIANA DA SILVA, RANA DANIELE ALVES CLEMENTINO E ZAIRA CRISTINA DE ARAÚJO PAULO
Há cerca de algumas décadas, o Brasil vive um processo de transição demográfica e, por consequência, de transição epidemiológica. A queda das taxas de fecundidade, a melhora das condições de saúde e o aumento da expectativa de vida, média de 76 anos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2018), estão fazendo a população brasileira envelhecer cada vez mais, em detrimento aos demais segmentos da pirâmide etária. Devido a essas mudanças, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e suas complicações surgem como uma das principais causas de mortalidade e morbidade na atualidade, comparado às doenças infecto-parasitárias que eram a principal causa de óbito nas décadas do século XX.
Segundo o plano de ação 2008-13 da Organização Mundial de Saúde (OMS) para DCNT, entende-se por essas as seguintes doenças: doenças cardiovasculares (com destaque a hipertensão arterial sistêmica), diabetes, neoplasias e doenças respiratórias crônicas. Por se tratarem de doenças de longa duração, são responsáveis por grande ônus de gastos diretos (cuidados ambulatoriais e hospitalares). Além disso, somam-se os gastos indiretos decorrentes do absenteísmo, aposentadorias precoces e perda de produtividade (BRASIL, 2005).
Dessa forma, frisa-se a importância de se realizar uma assistência básica em saúde de qualidade, focando na prevenção de fatores de risco modificáveis (alimentação, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e consumo de drogas) e promoção a um modo de viver mais favorável e com melhor qualidade de vida, visto que são abordagens que previnem as complicações das DCNT e demandam um menor custo (BRASIL, 2005).
Diante dessa exposição, iniciei a sexta microintervenção com a convocação de uma reunião de equipe com os membros da Estratégia de Saúde da Família (ESF) III – Poço Comprido (Figura 1). Essa foi realizada no dia 13 de setembro de 2018 e na ocasião respondemos os questionamentos propostos ao término do módulo “Controle das doenças crônicas não transmissíveis na minha unidade de saúde”.
Figura 1. Registro da reunião em equipe da ESF III – Poço Comprido.
A equipe realiza o acompanhamento regular dos hipertensos e diabéticos da área através de consultas médicas e de enfermagem, que ocorrem trimestralmente com cada profissional, de forma intercalada. Nas consultas são realizadas: medidas antropométricas (peso, altura e cálculo de índice de massa corpórea-IMC); avaliação de sinais vitais (pressão arterial e frequência cardíaca); aferição de glicemia (em caso de pacientes com diagnóstico de diabetes); registro de medicações que o paciente faz uso e a forma como o mesmo administra as mesmas; solicitação e checagem de exames laboratoriais anuais para controle de complicações dessas doenças (como eletrocardiograma, bioquímica e fundoscopia com especialista); além de exame físico detalhado buscando alterações que podem surgir em razão dessas doenças (como pesquisa de pé diabético).
Normalmente, os usuários que procuram a unidade com diagnóstico prévio de hipertensão ou/e diabetes ou com suspeita clínica conseguem agendar consulta com algum dos profissionais da equipe em tempo hábil, aguardando no máximo sete dias, visto que cada dia da semana destina-se a atendimento de uma área rural de determinado Agente Comunitário de Saúde (ACS).
Na primeira consulta, é realizada a anamnese completa do paciente com registro no seu prontuário, sempre buscando fatores de risco cardiovasculares maiores (como eventos cardiovasculares adversos anteriores) e outras complicações que direta ou indiretamente se desenvolveram pelas DCNT (como insuficiência cardíaca), a fim de estratificar esses pacientes. Além disso, solicitamos exames laboratoriais gerais para rastreamento de comorbidades que permitem uma estratificação desse risco de maneira quantitativa, utilizando-se escores.
O registro das consultas ocorre em prontuário físico, bem como em uma folha espelho elaborada pela equipe de enfermagem do município específica para o programa de cuidado para pacientes hipertensos e diabéticos (Figura 2).
Figura 2. Folha espelho desenvolvida pela equipe de enfermagem da atenção primária do município de Boa Saúde, Rio Grande do Norte (RN) para o programa de cuidado para pacientes hipertensos e diabéticos.
Em nossa unidade, sempre estratificamos o risco cardiovascular utilizando o escore de Framingham, que estima o risco do indivíduo desenvolver um evento cardiovascular adverso nos próximos 10 anos levando em conta sua idade, sexo, valor de pressão sistólica, dosagem de colesterol total e sua fração de elevada densidade (HDL), uso de medicação para hipertensão, tabagismo e presença de diabetes.
A equipe possui uma lista de todos os pacientes hipertensos e/ou diabéticos segundo a sua estratificação de risco cardiovascular (Figura 3), permitindo um acompanhamento mais próximo e rigoroso de pacientes que foram estratificados como alto ou moderado risco, mensalmente e bimestralmente, respectivamente.
Figura 3. Lista dos pacientes hipertensos e/ou diabéticos da ESF III – Poço Comprido estratificados com risco cardiovascular alto ou moderado.
Todos os pacientes que necessitem de consulta com especialista, devido a complicações das DCNT ou doenças de base de difícil manejo clínico, são encaminhados via secretaria municipal de saúde para atenção secundária e/ou terciária. A equipe dispõe de um livro no qual registra todos os encaminhamentos dos pacientes hipertensos e/ou diabéticos para outros níveis de atenção (Figura 4).
Figura 4. Livro de encaminhamentos da ESF III – Poço Comprido.
Nas consultas individuais sempre estimulamos a importância das mudanças de estilo de vida como um importante alicerce associado ao tratamento farmacológico e, quando possível, contamos com o auxílio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) no desenvolvimento de ações que fomentem a discussão sobre essas doenças, esclarecimento de dúvidas e maneiras para que os pacientes tenham uma melhor qualidade de vida (Figura 5).
Figura 5. Oficina conjunta realizada pela equipe ESF III – Poço Comprido com o NASF com o tema “como utilizar o sal de ervas para controle da pressão arterial”.
Concluímos esta microintervenção enfatizando que a nossa equipe realiza um trabalho proveitoso no controle dos pacientes hipertensos e diabéticos da área, tanto no tocante ao tratamento medicamentoso quanto ao não medicamentoso, sempre estimulando mudanças de estilo de vida, conseguindo controle da doença e evitando complicações cardiovasculares futuras.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. A vigilância, o controle e a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis – DCNT – no contexto do Sistema Único de Saúde brasileiro. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2018. Projeção da População 2018: número de habitantes do país deve parar de crescer em 2047. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/21837-projecao-da-populacao-2018-numero-de-habitantes-do-pais-deve-parar-de-crescer-em-2047>. Acesso em: 20 de out. 2018.
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