24 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Especializanda: Kelly Karine Fraga Vieira

Orientadora: Romanniny Hevillyn Silva Costa Almino

Abordagem das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Básica

 Relato de Experiência

 

 

As doenças crônicas não transmissíveis, con­sideradas uma epidemia na atualidade, cons­tituem um sério problema de Saúde Pública tanto em países desenvolvidos quanto nos que estão em desenvolvimento. Nesse rol in­cluem-se as afecções cardiovasculares, como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), as neoplasias, as doenças respiratórias crônicas e o diabetes mellitus (DM), além das desor­dens mentais e neurológicas, bucais, ocula­res, auditivas, ósseas e articulares e as altera­ções genéticas, por se considerar que exigem contínua atenção e esforços de um conjunto de equipamentos de Políticas Públicas e da sociedade em geral (OMS, 2005).

Dentre essas, ressalta-se a relevância da HAS e do DM por serem importantes fato­res de risco para a morbimortalidade cardio­vascular e representarem um desafio para o sistema público de saúde, que é garantir o acompanhamento sistemático dos indiví­duos identificados como portadores desses agravos, assim como o desenvolvimento de ações referentes à promoção da saúde e à prevenção dessas doenças.

Os profissionais de saúde atuantes na Estratégia Saúde da Família (ESF) devem programar e implementar atividades de in­vestigação e acompanhamento dos usuários. Ademais, a educação em saúde precisa ser incorporada às suas práticas cotidianas, por meio de palestras, visitas domiciliares, reuni­ões em grupos e atendimento individual, em consultas médicas e de enfermagem, o que fa­vorece a adesão ao tratamento, na medida em que o sujeito é percebido como protagonista do processo (CARVALHO; CLEMENTINO; PINHO, 2008).

A grande defasagem entre as estimativas epidemiológicas e os dados dos serviços rela­tivos ao cadastro de pacientes com hiperten­são e diabetes demonstra a baixa efetividade das ações de controle desses problemas, es­pecialmente no âmbito da Atenção Básica, e revela também a necessidade de um acompa­nhamento mais intenso das atividades reali­zadas por parte dos gestores e dos profissio­nais de saúde responsáveis pelo atendimento. Pensando nisso, surge o HiperDia.

O HiperDia constitui um sistema de ca­dastramento e acompanhamento de hiper­tensos e diabéticos, em que os profissionais de saúde são responsáveis pelo atendimento aos usuários e preenchimento de dados. Visa o monitoramento dos pacientes captados no Plano Nacional de Reorientação da Atenção à HAS e ao DM e à geração de informação para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentos regular e continuamente.

Diante do exposto, reconhece-se que impor­tantes iniciativas precisam ser implantadas para melhorar o HiperDia, como a ampliação do acervo e da quantidade de medicamentos, a intensificação do rastreamento de doentes, o melhoramento do acompanhamento de usu­ários diagnosticados e a descentralização dos pontos de coleta de exames, sobretudo na zona rural, para facilitar o acesso a tais serviços.

É importante também envolver a rede de assistência social, como os Centros de Convivência de Idosos e Centros de Referência da Assistência Social, para difun­dir o conhecimento acerca da hipertensão e do diabetes, abordando os perigos advin­dos do controle inadequado, suas principais complicações e sequelas e a efetivação dos serviços de referência e contrarreferência.

De acordo com as normas e rotinas do Ministério da Saúde, os exames devem ser soli­citados pelo médico e/ou enfermeiro após a avaliação e não existe um período deter­minado para a solicitação, devendo ocorrer conforme a necessidade (BRASIL, 2006A; 2006B).

Na nossa Unidade Básica de Saúde (UBS) Senador Hélio Campos (SHC) realizamos consulta para pessoas com hipertensão e/ou diabetes mellitus. Normalmente, o tempo de espera para a primeira consulta é de até dois dias. A equipe utiliza protocolos para estratificação de risco dos usuários com hipertensão.

 Estudo realizado na cidade de Framingham, Massachussets, com 5209 pessoas com idades entre 30 e 62 anos levou à identificação dos principais fatores de risco de DCV (Doença Cardiovascular), como hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, tabagismo, obesidade, diabetes e sedentarismo, bem como uma grande quantidade de informações valiosas sobre os efeitos de fatores relacionados, tais como os níveis de colesterol HDL e triglicerídeos, idade, gênero e questões psicossociais (FRAMINGHAM, 2008).

Dessa forma, o escore de Framingham ainda continua sendo o mais utilizado atualmente para quantificar o risco de evolução para eventos cardiovasculares pelos pacientes.

O Escore de Framingham classifica os indivíduos por meio da pontuação nos seguintes graus de risco cardiovascular e auxiliana definição de condutas (BRASIL, 2013b).

Baixo risco – quando existir menos de 10% de chance de um evento cardiovascular ocorrer em dez anos. O seguimento dos indivíduos com Pressão Arterial (PA) limítrofe poderá ser anual após orientações sobre estilo de vida saudável.

Risco intermediário –quando existir 10%-20% de chance de um evento cardiovascular ocorrer em dez anos. O seguimento dos indivíduos com PA limítrofe poderá ser semestral após orientações sobre estilo de vida saudável e, se disponível na UBS ou comunidade e for desejo da pessoa, encaminhamento para ações coletivas de educação em Saúde.

• Alto risco – quando existir mais de 20% de chance de um evento cardiovascular ocorrerem dez anos, ou houver a presença de lesão de órgão-alvo, tais como IAM, AVC/AIT, hipertrofia ventricular esquerda, retinopatia e nefropatia. O seguimento dos indivíduos com PA limítrofe de alto risco poderá ser trimestral após orientações sobre estilo de vida saudável e, se disponível na UBS ou comunidade e for desejo da pessoa, encaminhamento para ações coletivas de educação em Saúde.

Tabela 1 – Classificação da pressão arterial para adultos maiores de 18 anos (JNC 7 – 2003)

Fonte: CHOBANIAN et al. (2003)

 

O diagnóstico da HAS baseia-se na média de duas ou mais leituras corretamente medidas.

Nossos pacientes com diabetes mellitus também recebem atenção e atendimentos especiais, com programação de consultas, realização de exames laboratoriais assim como exame do pé diabético e fundo de olho periodicamente.

Tabela 1 – Diagnóstico de DM                      Fonte: GOLDMAN; AUSIELLO, 2005

 

O diagnóstico de DM é realizado de acordo com os valores dos níveis glicêmicos em sangue (glicemia) em jejum eventual, ou 2 horas após sobrecarga dedextrosol (75 mg), teste conhecido como teste oral de tolerância à glicose (TOTG), e ainda se diante dos sintomas clássicos (polidpsia, polifagia, poliúria, perda de peso e astenia) acompanhados de uma glicemia aleatória/casual de 200 mg/dl. Para o diagnóstico em pessoas assintomáticas, é necessária a repetição do exame para confirmação.

Sabemos que o excesso de peso e a obesidade têm um papel importante na HAS e no DM. Por essa razão, controlar o peso é uma medida terapêutica e preventivapara os pacientes diabéticos e hipertensos. Esse controle está determinado por dois elementos fundamentais: a educação nutricional e a prática de exercícios físicos.

O excesso de peso, que compreende o sobrepeso e a obesidade,atualmente acomete 50,1% dos homens e 48% das mulheres (IBGE, 2010). O aumento da obesidade é uma realidade não apenas no Brasil, mas praticamente em todos os países do chamado mundo ocidental, em todas as faixas de idade e em ambos os sexos (MONTEIRO, CONDE; POPKIN, 2007;POPKIN, 2010; POPKIN, 2011; JONES-SMITH et al., 2011).

Em relação à atenção à pessoa com obesidade, a equipe realiza avaliação antropométrica (peso e altura) dos usuários atendidos e calcula o Índice de Massa Corporal (IMC) e classifica-os em eutróficos, sobrepeso e obesos. Após a identificação dos usuários com obesidade (IMC≥ 30 kg/m2), a equipe realiza o acompanhamento deste usuário na UBS, oferta ações voltadas à atividade física e à alimentação saudável, aciona equipe de Apoio Matricial (NASF e outros) para apoiar o acompanhamento deste usuário na UBS, encaminha para serviço especializado (endócrino, nutricionista, psicólogo e gastrologista). Assim como, oferta grupo de educação em saúde para pessoas que querem perder peso.

Tabela 3 – Classificação segundo a OMS a partir do IMC

 

Diante das temáticas abordadas, percebemos o quão difícil é controlar tais comorbidades, visto que o tratamento não é apenas terapêutico, envolve também mudança no estilo de vida (atividade física e dieta).

Além dessas dificuldades, nossa equipe identificou a falta de adesão à terapêuti­ca, desconhecimento dos usuários acerca da HAS e o do DM, a defasagem nos tipos de medicamentos ofertados, a dificuldade na marcação de exames laboratoriais essenciais no diagnóstico da HAS e\ou DM como hemograma, urina, creatinina, glicemia de jejum, colesterol total e frações, triglicerídeos e eletrocardiograma.

As potencialidades observadas tangem à gratuidade e a dispensa­ção dos medicamentos nas Farmácias Populares, além das reuniões em grupo e palestras realizadas por nossa equipe.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diabetes Mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2006a.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Hipertensão Arterial Sistêmica para o Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006b.

 ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde, 2013b. (Cadernos de Atenção Básica, 37).

 ______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Revisão da Portaria MS/GM nº 687, de 30 de março de 2006 [Internet].Brasília: MS; 2015 [citado 2017 mar. 14]. Disponível em:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnps_revisao_portaria_687.pdf

CARVALHO, V. L. S.; CLEMENTINO, V. Q.; PINHO, L. M. O. Educação em saúde nas páginas da REBEn no período de 1995 a 2005. RevBrasEnferm, Brasilia, v. 61, n. 2, p. 243-248, fev. 2008.

FRAMINGHAM HEART STUDY, 2008. Disponível em: <www.framinghamheartstudy.org>. Acesso em: 15set. 2018.

MONTEIRO, C. A.; CONDE, W. L.; POPKIN, B. M. Income-specifictrends in obesity in Brazil: 1975-2003. American JournalofPublic Health, Washington, v. 97, n. 10, p. 1808-1812, oct. 2007. Epub 2007 Aug. 29.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Preventingchronicdiseases: a vital investment. OMS: Geneva, 2005.

World Health Organization. Obesityandoverweight [Internet]. Geneva: WHO; 2016. [cited 2017 Mar 14]. Availablefrom: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs311/en/

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