18 de novembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: COMO PREVENIR E CONTROLAR AS PRINCIPAIS CAUSAS DE MORBIMORTALIDADE BRASILEIRAS?

ESPECIALIZANDO: José Ribamar de Lima Júnior

ORIENTADOR: Maria Betânia Morais de Paiva

Sendo hipertensão e diabetes as causas primárias que mais causam complicações a saúde e morte, devemos combatê-las e controlá-las de forma intempestiva. O Diabetes mellitus (DM) e a hipertensão arterial sistêmica (HAS) são responsáveis pela primeira causa de mortalidade e de hospitalizações no Sistema Único de Saúde (SUS) e representam, ainda, mais da metade do diagnóstico primário em pessoas com insuficiência renal crônica submetida à diálise (SCHMIDT; DUNCAN; STEVENS et al., 2009; SCHMIDT et al., 2011; ROSA, 2008). São problemas de saúde considerados condições sensíveis à Atenção Primária à Saúde (APS), ou seja, evidências demonstram que o bom manejo destes problemas ainda na APS evita hospitalizações e mortes por complicações cardiovasculares e cerebrovasculares (ALFRADIQUE, 2009).

Partindo desses conceitos iniciais e de acordo com o presente módulo de Tema: O desafio das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na minha Unidade de Saúde, juntamente com minha equipe de atenção básica, equipe 43, da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Nova Natal, vimos várias falhas na atenção desses pacientes com HAS e DM, decidimos então iniciar reuniões com os pacientes portadores de DM e/ou HAS, sendo realizadas quinzenalmente e os convites feitos pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) durante suas visitas ao domicilio da população geral, convidando os pacientes portadores dos agravos citados. 

Quando são feitos os convites à comunidade, as ACS informam aos pacientes que devem ir à reunião em jejum e que ao chegar será medida sua glicemia e verificada sua Pressão Arterial (PA). Após esse preparo inicial a equipe oferece um café da manhã com oferta de uma grande diversidade de frutas aos pacientes, já iniciando a reunião explicando uma das abordagens básicas para o bom controle e manejo das patologias dos pacientes, que é a alimentação saudável, rica em frutas. Nesta reunião abordamos além da alimentação, o incentivo à realização de atividade física e uso correto das medicações. 

Fazemos as reuniões em forma de roda de conversa, onde eu enquanto médico da equipe e a enfermeira abordaram os temas, colocando apresentação em slides dinâmicos, com fotos e ilustrações. Basicamente cada semana tem um tema pré-estabelecidos como, por exemplo, o tema que discorreu sobre a alimentação saudável, podendo os pacientes tirar dúvidas, expor dificuldades e até mesmo, outros pacientes colocarem possíveis soluções para a problemática. Dessa forma fazemos um controle e cuidado geral das patologias em questão.

De uma forma mais pessoal e específica, usamos os dados coletados antes da reunião, medida de glicemia e PA, para selecionar os pacientes que deverem ser atendidos com certa prioridade. Pacientes com alterações nesses exames são selecionados para ser atendidos em até duas semanas (na primeira reunião, por ter uma demanda menor, esses paciente foram atendidos na semana posterior), sendo ainda orientados a voltar diariamente na unidade para fazer medição dos dados alterados (PA e/ou Glicemia).

A consulta era baseada nas medidas de PA e/ou Glicemia, onde fazemos um ajuste de medicamentos, aumentamos a quantidade de informações sobre hábitos saudáveis e se necessário encaminhamos para serviço especializado. Vou expor aqui o casa do seu João (nome fictício), paciente diabético e hipertenso há 3 anos, seus exames pré-reunião foram PA 160 x 100 mmHg, Glicemia 180, foi selecionado para atendimento em uma semana. Paciente veio fazendo controle de glicemia PA ao longo da semana, variação de Pressão Arterial Sistólica 170 a mais elevada e 120 a mais baixa; Pressão Arterial Diastólica 120 a mais elevada e 80 a mais baixa; Glicemia 196 a mais elevada e 158 baixa. Paciente e uso de Losartana 50 mg. pela manhã e Hidrocloratiazida 25 mg pela manhã, Metformina 500 mg após almoçar. Ao longo da consulta o paciente relata fazer uso eventual da medicação por não apresentar sintomas da doença. Expliquei ao paciente que era de fundamental importância o uso regular da medicação independente dos sintomas, que as doenças que o mesmo era portador, são doenças de curso assintomático no início do quadro, porém tendo repercussão ruim se não tratada corretamente. Criamos  um vínculo, de fundamental importância no processo saúde doença e principalmente, nessas patologias que o paciente não tem sintomas. Na segunda reunião o paciente já retornou com níveis pressóricos e glicemia dentro do esperado. 

Baseado nesse paciente e em outros que são recorrentes fizemos a temática da segunda reunião, que é o fato de HAS e DM serem patologias assintomáticas ou com poucos sintomas do início, mas que tem repercussões desastrosas ao longo do tempo se não tratada e controlada de forma eficaz. Tivemos ainda a colaboração de senhor “João” dando seu depoimento e incentivando outros pacientes na adesão do tratamento.

No início das reuniões tivemos baixa demanda dos participantes, por mais que a ACS buscassem ativamente os paciente, eu e a enfermeira convidasse durante nossos atendimentos. Porém na segunda reunião já tivemos uma demanda maior, a meu ver os pacientes estão se convidando para vir às palestras. Espero que nas próximas atividades a equipe consiga sempre aumentar a demanda de participantes. Outra dificuldade que tivemos foi relacionada à questão financeira, de modo que todas as reuniões têm um custo, principalmente com as frutas do café da manhã saudável, e com as fitas para medir glicemia dos pacientes. Porém esses gastos financeiros estão sendo rateado entra a equipe e até mesmo com a colaboração dos pacientes. Sendo este um ponto que deve ser mais bem trabalhado e aprimorado para manutenção das nossas reuniões.

Minha expectativa e da minha equipe 43, como interventores em uma grande temática, como essa abordada, é que de uma forma simples e com ajuda da própria população possamos prevenir e melhorar a qualidade de vida dos pacientes da comunidade acolhida pela equipe e estamos tentando fazer com que nossa intervenção cresça e seja feita juntamente com as outras equipes da UBS de Nova Natal, sendo feitas reuniões semanais com a presença de duas equipes por semana. Temos ainda expectativa de conseguir outras profissionais para colaborar com nossas reuniões, como educador físico e nutricionista, visto que nossa UBS não tem apoio de Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASf), buscamos ainda apoio financeiro ou mesmo alimentos ( frutas) e produtos ( fitas para medir glicemia) em supermercados e farmácias da região, visando a autossuficiência da nossa microintervenção. 

 

REFERÊNCIAS :

ALFRADIQUE, Maria Elmira et al. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP – Brasil). Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 6, 2009.

ROSA, R. S. Diabetes mellitus: magnitude das hospitalizações na rede publica do Brasil, 1999–2001. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 17, n. 2, p. 131–134, 2008.

SCHMIDT, M. I. et al. Doenças Crônicas não transmissíveis no Brasil: mortalidade, morbidade e fatores de risco. In: BRASIL, Ministério da Saúde Departamento de Analise de Situação de Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde Brasil 2009: Uma analise da situação de saúde e da Agenda Nacional e Internacional de Prioridades em Saúde. Brasília: 2010.

SCHMIDT, M. I. et al. Doenças crônicas não transmissíveis no Brasil: carga e desafios atuais. The Lancet, London, 9 maio 2011. DOI:10.1016/S0140-6736(11)60135-9.

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