25 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

O CUIDADO  ÀS DOENÇAS CRÔNICAS DOS USUÁRIOS DA USF GRAMORÉ

Especializanda: CAROLLYNE DANTAS DE OLIVEIRA

Orientador: Isaac Alencar Pinto

 

               Com a transição epidemiológica que vem ocorrendo nas ultimas décadas as doenças crônicas vem se tornando cada vez mais relevantes. No ano de 2020 as pesquisas descrevem que essas serão as causas de cerca de 80% da carga de doenças dos países em desenvolvimento. Em 2013 estimava-se que apenas 20% da população nesses países apresentavam uma adesão adequada aos tratamentos de suas comorbidades (BRASIL, 2013; OMS, 2013). 

              Diante disso em 2013 foi instituída, no SUS, a Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas. O principal objetivo dessa implementação foi promover uma melhoria na atenção e no cuidado à esses indivíduos, procurando ampliar as estratégias de cuidado à essa parcela da população (BRASIL, 2014).

             Hoje entre os grupos de doenças crônicas de maior impacto mundial estão as doenças cardiovasculares , o câncer, o diabetes e as doenças respiratórias crônicas. Tais comorbidades estão na maioria das vezes associadas a fatores de risco como álcool, sedentarismo, tabagismo e alimentação com pouco teor nutricional, que podem ser estrategicamente combatidas na atenção primária. (BRASIL, 2014; CHUEIRI, 2014)

            Hoje a literatura demonstra que  a atuação coordenada de equipes multiprofissionais com esses pacientes tem causado significativo impacto e tem fornecido melhores resultados na orientação, e apoio dessas pessoas com suas comorbidades. Pontos importantes que são propostos a serem incorporados na atenção básica na assistência à esses indivíduos incluem: intervenções individuais e coletivas, estratificando esses indivíduos de acordo com os ricos e vulnerabilidade, implementação de ações intersetoriais, melhoria da qualidade dos cuidados preventivos, inclusive da atenção quaternária. Também merecem destaques as práticas integrativas e complementares que vem se tornando cada vez mais presentes e importante no dia-a-dia dos usuários (BRASIL 2014; MEDINA, 2014). 

           O objetivo dessa microintervenção é descrever como está organizada a assistência aos usuários portadores de doenças crônicas, nas mais diversas unidades de saúde do município de Natal, no meu caso especificamente, a USF na qual trabalho. A microintervenção procura ressaltar os pontos fortes presentes nesta rede, bem como descrever questões que embora relevantes ainda não são abordadas na USF Gramoré. 

          Na USF Gramoré a minha equipe organiza parte das agendas de acordo com a faixa etária e/ou comorbidades dos indivíduos. Sendo assim dispomos de um turno na semana voltado especificamente para aqueles indivíduos que são hipertensos e/ou diabéticos. Os atendimentos à esse grupo populacional acontecem às quintas-feiras no turno da tarde, e envolve tanto pacientes que estão iniciando o acompanhamento, como aqueles que já são acompanhados há muito tempo. 

            Como muitos desses pacientes são idosos, e como temos um turno específico aos idosos, acaba que muitos deles também são acompanhados na quinta-feira porém no turno da manhã. O que inclusive facilita o acesso e a longitudinalidade desses indivíduos, pois assim são ofertadas mais vagas para essas pessoas, e o tempo de espera para uma consulta acaba que diminui, sendo atualmente em torno de 15 dias. 

            Durante as consultas médicas o paciente é avaliado diante de todas as comorbidades apresentadas, dos resultados de exames, da aderência ao tratamento e do controle seja da hipertensão, seja do diabetes, e fatores de riscos cardiovasculares. Assim conseguimos estratificar esses pacientes, e dar maior enfoque naqueles de maiores riscos, bem como aprimorar o tratamento desses indivíduos. Dessa forma já durante a consulta conseguimos definir a necessidade do retorno do paciente à USF, e a frequência de atendimentos e exames, seja médico ou da enfermagem.

             Esses indivíduos são controlados através do cadastro feito pelos ACS, médica e enfermeira da equipe. Que de acordo com as consultas são atualizados mensalmente, na busca de fazer um controle maior principalmente daqueles pacientes de difícil aderência ao tratamento, e naqueles de maiores riscos. No caso específico de pacientes com cardiopatias e hipertensão arterial existe um acompanhamento mais estreito entre os profissionais de saúde com esses indivíduos, e quando se observa um controle do quadro, e o paciente está estável, as consultas conseguem ser mais espaçadas, mas esses pacientes nunca deixam de serem acompanhados. 

            Quando esses pacientes, além do acompanhamento na atenção básica, necessitam de um cuidado especializado, os mesmos são devidamente referenciado para os serviços necessários. Sempre é realizado um feedback com esses pacientes na tentativa de saber se houve ou não a consulta, se o acompanhamento será continuado, quais foram as medidas tomadas pelos outros pontos da atenção. 

           Embora a falta de contra-referência dos próprios profissionais da rede dificultem um pouco esse controle, ainda que de forma precária conseguimos resgatá-lo dos próprios usuários. Já em relação aos exames mais especializados, a maioria deles acabam por bater na barreira “tempo”, pois devido a grande demanda muitos pacientes acabam esperando meses por um exame que deveria ser feito a curto prazo.

            Em relação especificamente ao diabetes mellitus a equipe não realiza exame do pé-diabético periodicamente nos usuários, entretanto durante as consultas médicas, sempre que possível, o exame é realizado. Diferente do exame de fundo de olho, que nunca é feito nesta unidade devido a falta do equipamento necessário, porém os pacientes acompanhados são pelo menos anualmente encaminhados ao especialista para este tipo de avaliação, e a depender da gravidade do quadro, a frequência do exame se torna maior. 

            Em relação aos pacientes obesos, não existe um turno específico para o atendimento geral desses pacientes. Porém os mesmo são sempre abordados em relação a essas comorbidades quando presentes nas consultas seja por esse ou outro motivos. Na USF Gramoré durante o atendimento inicial todos os pacientes aferem o peso e altura, sendo assim temos o controle contínuo do IMC desses pacientes, e conseguimos abordar o assunto mais facilmente. 

            Infelizmente não existem ações específicas voltadas para a população obesa, como atividades físicas, alimentação saudável, grupo de educação em saúde ou apoio do NASF (uma vez que não cobre nossa USF).  Porém sempre que o paciente é diagnosticado com tal comorbidade durante uma consulta, apresentamos ao mesmo as possibilidades terapêuticas, o acompanhamento regular e a ajuda necessária para uma vida mais salutar, oferecendo suporte e orientações a respeito de atividades físicas e alimentação saudável. Se houver necessidade encaminhamos os pacientes à serviços especializados, seja de nutrição, endocrinologia ou ambulatórios especializados em obesidade, além de outros serviços principalmente para aqueles pacientes que apresentam outras comorbidades associadas.

 

Referências:

1. BRASIL. Cadernos de Atenção Básica – Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica. Ministério da Saúde. Brasília. n. 35. 2014

2. BRASIL. Diretrizes  para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Ministério da Saúde. Brasília. 2013.

3. Chueiri, P.S. et al. Pessoas com doenças crônicas, as redes de atenção e a Atenção Primária à Saúde. Rio de Janeiro. Saúde Debate. n. 52, p. 114 – 124. 2014

4. Medina, M.G. et al. Promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas: o que fazem as equipes de Saúde da Família?. Rio de Janeiro. Saúde Debate. v. 38, n. especial, p. 69 – 82. 2014. 

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