CAPÍTULO VI: O desafio das Doenças Crônicas Não Transmissíveis na UBS CENTRO
Especializando: André Martins Ornelas
Orientadora: Maria Helena Pires Araújo Barbosa
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) adquirem importância social em razão de sua elevada prevalência, impacto significativo na morbimortalidade e altos custos aos sistemas de saúde. Segundo dados da OMS, citado por Malta et.al. (2017), 70% de todos os óbitos no mundo se devem a esse grupo de doenças. Para responder de forma adequada às DCNT, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem importância estratégica à medida que oferece o primeiro contato e garante a longitudinalidade e a integralidade do cuidado. Na nossa UBS, o serviço foi estruturado para priorizar o atendimento de indivíduos com diagnóstico de hipertensão arterial sistêrmica e diabetes mellitus, por meio do programa HIPERDIA. A Unidade Básica de Saúde (UBS) Centro realiza atendimento semanal de indivíduos hipertensos e diabéticos, para os quais são reservadas vagas em dois turnos da semana. As consultas são realizadas pelo médico e pela enfermeira, adotando-se as orientações do Caderno de Atenção Básica número 36 e 37. Os usuários são inicialmente acolhidos pela técnica de enfermagem, onde são verificados os sinais vitais e as principais medidas antropométricas (peso, altura, IMC e circunferência abdominal). As consultas de enfermagem que outrora eram destinadas à simples “renovação de receitas” (que seriam carimbadas pelo médico sem qualquer avaliação), hoje foram reestruturadas no sentido de fortalecer o tratamento não medicamentoso e dar suporte ao médico nas situações que demandam maior tempo de consulta, como avaliação do índice tornozelo-braquial, cuidados com pé diabético e orientações quanto à aplicação de insulina. Em toda consulta, buscamos identificar os principais fatores de risco cardiovasculares – tabagismo, sedentarismo, dietas inadequadas e uso abusivo do álcool – e orientar nossos usuários quanto às modificações do estio de vida necessárias para o enfrentamento das DCNT. O apoio matricial do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), principalmente da nutrição, se configura através de consultas individuais destinadas aos indivíduos que vivem com DCNT e que não atingiram as metas glicêmica, lipídica e/ou pressórica ou necessitam de orientação nutricional para perda ponderal. O apoio do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS-AD) também é oferecido aos usuários tabagistas e etilistas, quando necessário. As principais dificuldades enfrentadas pela equipe no controle das DCNT são: • Embora a UBS disponha de registros de usuários hipertensos e diabéticos de cada microárea, não realizamos busca ativa de indivíduos com consultas atrasadas; • O tempo de espera para a primeira consulta de pessoas com hipertensão arterial sistêmica e/ou diabetes é superior a 10 dias, em razão da elevada demanda (conforme discutido em capítulos anteriores). • O rastreamento da retinopatia diabética e hipertensiva não é realizado na unidade, pois não dispomos de oftalmoscópio. Os usuários são referenciados a outros pontos da rede, porém a maioria não consegue avaliação com especialista; • Ações de orientação comunitária sobre alimentação saudável e prática de atividade física raramente conseguem ser incorporadas na rotina da UBS em razão, principalmente, da elevada demanda por atendimentos individuais. Também não conseguimos construir grupos de educação em saúde para usuários tabagistas ou com sobrepeso/obesidade. Embora os desafios sejam inúmeros, acredito que a assistência aos usuários portadores de DCNT provida por nossa UBS tem se fortalecido a cada dia. A integração da equipe é o principal ponto positivo, pois permite o enfrentamento das condições crônicas de maneira otimizada e sem demandar grandes recursos tecnológicos. Estratégias aparentemente simples como a captação do usuário (primeiro contato), monitoramento continuado do peso e da pressão arterial (longitudinalidade do cuidado) e responsabilização dos indivíduos no combate aos fatores de risco (promoção e prevenção), podem se traduzir em um melhor controle das comorbidades e redução da morbimortalidade.
Ponto(s)