RELATO DE EXPERIÊNCIA
TÍTULO: MUDANÇA DE PARADIGMAS EM NUTRIÇÃO INFANTIL NA ATENÇÃO BÁSICA
ESPECIALIZANDO: SORAIA LEMOS EHLERS
ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO
Pode-se afirmar que o crescimento e o desenvolvimento são as marcas da infância.
Por crescimento entende-se o processo dinâmico e contínuo de aumento global da massa corporal, no decurso do tempo.
Por desenvolvimento entende-se o processo contínuo de aquisição da capacidade de executar tarefas cada vez mais complexas.
Crescer e desenvolver-se bem se relacionam com a satisfação adequada das necessidades de nutrientes biológicos, mas também de nutrientes afetivos e socioculturais, para cada fase da vida da criança.
Pode-se inferir que o crescimento e o desenvolvimento refletem a qualidade de vida de uma população.
O acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento é, portanto, uma atribuição fundamental das equipes de Estratégia de Saúde da Família. É, por si só, o eixo integrador e centralizador de todas as ações de saúde da criança.
Nesse contexto, norteados pelo questionário proposto na presente intervenção, buscamos fazer um diagnóstico situacional da nossa equipe de ESF (equipe PSF 2, UBS Maria Zenaide, município de Rosário do Catete/SE), no que se refere à Atenção à Saúde da Criança.
Apesar de havermos verificado pontos de fragilidade a partir de nossa análise, pudemos refletir, satisfeitos, sobre os pontos positivos de nosso trabalho, enquanto equipe.
Em nosso município de atuação, dispomos de duas pediatras que atendem quase que diariamente na Clínica de Saúde da Família Dr. Edézio Vieira de Melo, a todo o município, sendo que uma delas, atende uma vez por semana, especificamente à população do Povoado Siririzinho, área rural de nossa adstrição, na UBS vinculada ao povoado, onde também atuamos.
O acesso às pediatras é livre, ou seja, não é necessário encaminhamento prévio para que o agendamento de consultas seja realizado.
É extremamente positivo que disponhamos de duas profissionais da Pediatria atendendo em nosso município. Normalmente, os genitores preferem fazer o acompanhamento de seus filhos com as pediatras, o que é compreensível. Em decorrência disso, muitas das nossas crianças deixam de realizar a maioria de suas consultas de puericultura na UBS, o que gera uma preocupação no sentido de conseguirmos cumprir o que é preconizado pelo Ministério da Saúde, concernente ao número mínimo de consultas de puericultura por faixa etária, principalmente no primeiro ano de vida, em que são recomendados sete atendimentos anuais.
Muitas das crianças que buscam nossos serviços para atendimento o fazem por problemas agudos, quando não conseguem vagas para atendimento com as pediatras. Embora haja exceções, nossas mães e pais preferem que a puericultura, ou seja, o acompanhamento quando estão saudáveis, seja realizada por essas profissionais, em detrimento da Atenção Básica.
Entretanto, a despeito de uma menor procura por consultas na UBS para essas crianças, deve-se ressaltar que realizamos a aferição mensal dos dados antropométricos de nossas crianças (o que ocorre na UBS todas as quintas), bem como realizamos a primeira consulta de puericultura de todo recém-nascido nos primeiros quinzes dias do nascimento, através de visita ao domicílio, além de mantermos um controle rígido das ações de vacinação e suplementação vitamínica, havendo busca ativa dos faltosos pelos ACS. Desenvolvemos, também, atividades regulares de atendimento às crianças nas escolas, além de atividades educativas para esse público, bem como para seus familiares e cuidadores.
As crianças em situações de risco têm calendário especial em nossa unidade, independente de acompanhamento especializado ou não. Fazemos busca ativa dessas crianças, e, quando necessário, fazemos o atendimento no próprio domicílio, quando temos dificuldades para que frequentem o espaço da UBS.
Eis o nosso questionário, com as devidas respostas:
Sim.
Sim.
Sim. Isso sempre é cobrado dos nossos ACS.
Sim, o acompanhante deve apresentar a caderneta de saúde da criança como condição prévia ao atendimento.
Não dispomos de espelho das cadernetas de saúde da criança, mas há fichas com informações sobre vacinação, peso, administração de vitamina A.
1. Vacinação em dia: Sim.
2. Crescimento e desenvolvimento: Sim.
3. Estado nutricional: Sim.
4. Teste do pezinho: Sim.
5. Violência familiar: Sim.
6. Acidentes: Não.
7. A equipe acompanha casos de violência familiar conjuntamente com os profissionais de outro serviço (CRAS, Conselho Tutelar)?
Sim.
1. Prematuras: Sim.
2. Com baixo peso: Sim.
3. Com consulta de puericultura atrasada: Sim.
4. Com calendário vacinal atrasado: Sim.
5. A equipe desenvolve ações de promoção do aleitamento materno exclusivo para crianças até seis meses?
Sim.
6. A equipe desenvolve ações de estímulo à introdução de alimentos saudáveis e aleitamento materno continuado a partir dos seis meses da criança?
Sim.
Uma das situações que pudemos observar, no decurso dos atendimentos domiciliares de nossas puérperas e seus recém natos, bem como em atendimentos ambulatoriais subsequentes, realizados nas UBS, foi uma prática frequente de não adesão ao aleitamento materno, com sua substituição por produtos alimentícios inadequados (leite de vaca + amido de milho, por exemplo), logo no início da vida dos lactentes.
Tal comportamento se motivava por algumas crenças, como a de que “o leite materno é fraco, não sustenta, não satisfaz”, ou “amamentar faz os seios caírem”, ou conveniências pessoais, como não ter que acordar para amamentar, não ficar “presa” ao bebê, etc. Dificuldades iniciais motivavam o abandono da prática da amamentação precocemente, sendo que, na maioria das vezes, o que notávamos eram situações de fácil resolução com uma orientação adequada.
Muitas dúvidas relacionadas ao processo de amamentação, bem como o momento certo para a introdução de outros alimentos, que alimentos e líquidos ofertar, eram frequentemente constatadas durante a prática clínica cotidiana.
Em meio a esse cenário, planejamos a realização de ações educativas para tratarmos das questões alimentares, principalmente no primeiro ano de vida. Dessa forma, preparamos algumas palestras para orientarmos nossas mamães sobre o tema, abrindo um espaço para que dúvidas pudessem ser solucionadas e para que a importância do aleitamento materno, em especial a amamentação exclusiva até os seis meses, pudesse ser valorizada e incentivada.
Nesse contexto, iniciamos nosso ciclo de palestras há mais ou menos um ano, inicialmente convocando nossos usuários e usuárias ao espaço da Associação de Moradores local, onde ocorreu nossa primeira palestra sobre o tema. Para nossa surpresa, o comparecimento foi bastante expressivo já naquela época, o que nos serviu de estímulo a continuarmos desenvolvendo o tema.
Assim, posteriormente, aprimoramos tal atividade, promovendo essas palestras, também, no espaço externo da nossa UBS, estabelecendo rodas de conversa extremamente produtivas, que fortaleceram o vínculo entre a equipe e os usuários.
Sempre que possível, recursos são arrecadados para a aquisição e a distribuição de fraldas e itens pós maternidade, como artigos de higiene, roupinhas, e a entrega acontece durante tais eventos. Muitos de nossos usuários têm dificuldades financeiras sérias, e esse auxílio se torna importante estímulo ao comparecimento aos nossos encontros.
Além do mais, sempre que há cronograma de atendimento de crianças na UBS (pesagem, vacinação, etc), procuramos aproveitar a oportunidade e iniciamos o turno de trabalho com breves orientações sobre o tema, no espaço da recepção da UBS, enquanto as pessoas aguardam.
Já foram realizados três eventos dentro dessa temática durante o espaço de tempo de pouco mais de um ano, sem considerar as curtas e oportunas palestras realizadas no espaço da recepção da UBS, acima mencionadas.
Essa tem sido uma de nossas experiências mais bem sucedidas no transcurso da minha jornada profissional junto à UBS Maria Zenaide. O real interesse dos nossos usuários e usuárias em aprenderem sobre os cuidados com sua prole, de modo geral, e com sua alimentação, de forma mais específica, bem como a percepção, durante a prática clínica, de uma real mudança de padrões de conduta comprovou que o nosso esforço transforma positivamente a realidade das famílias sobre nossa tutela. Que a educação é uma ferramenta poderosa na Atenção Básica. Que a promoção à saúde fortalece os laços entre a equipe de APS e os usuários. Enfim, que, quando plantamos bons frutos, uma satisfatória colheita se faz, inexoravelmente.
Ponto(s)