IMPORTÂNCIA DO CUIDADO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA
ESPECIALIZANDO: RÚTILA TAIANE PRAXEDES RITTER
ORIENTADOR: TULIO FELIPE VIEIRA DE MELO
Durante o estudo do módulo Atenção à Saúde da Criança: Crescimento e Desenvolvimento, muitas temáticas foram importantes para o entendimento de um bom funcionamento das unidades de saúde, bem como da qualidade dos serviços prestados à população. Entender a importância de prestar um serviço de qualidade à saúde da criança é um mecanismo fundamental na prática diária da atenção básica, e vem se tornando um tema recorrente nas reuniões técnicas das equipes e da própria gestão local. Determinar estratégias, metas e ações à saúde da criança na atenção básica são essenciais para detectar de forma precoce alterações no seu crescimento e desenvolvimento, bem como possibilita ainda intervir de forma positiva diminuindo com isso os riscos de complicações e agravos à saúde integral da criança.
O crescimento e o desenvolvimento são eixos referenciais para todas as atividades de atenção à criança e ao adolescente sob os aspectos biológico, afetivo, psíquico e social.
Baseado nisso o Ministério da Saúde procurou adotar medidas que pudessem promover atendimento de qualidade à saúde da criança garantindo com isso crescimento e desenvolvimento adequados, além de qualidade nos serviços de saúde. Ações de promoção do aleitamento materno, incentivo às imunizações e acompanhamento adequado do crescimento e desenvolvimento têm se tornado o centro das atenções na atenção primária da saúde da criança, qualificando os profissionais e os atendimentos prestados (BRASIL, 2002- caderno de atenção básica n.11).
Tomando como base inicial desta intervenção a avaliação externa do PMAQ (Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção) alguns pontos cruciais foram essenciais para perceber a fragilidade da temática na minha equipe (42- Unidade de Nova Natal). Infelizmente minha equipe estava desassistida de médico há quase 01 ano e durante esse período a saúde da criança foi deixada um pouco de lado. A enfermeira vinha tentando prestar um serviço de qualidade, porém diante da alta demanda e também das suas limitações técnicas a atenção à saúde da criança foi um pouco negligenciada.
Durante o estudo do módulo de saúde da criança foi necessário reunir com a equipe e analisar os quesitos do PMAQ, a partir daí percebemos o quão frágil se encontrava a atenção à saúde da criança e da necessidade urgente de realizar intervenções. Dentre as fragilidades identificadas, destaca-se: o cuidado integral à criança; o estímulo ao aleitamento materno; seguimento rotineiro nas consultas de crescimento e desenvolvimento (CD) e busca ativa das crianças após o parto. Baseado nisso, decidi juntamente com a equipe realizar intervenções que procurassem promover melhoria nos serviços e na qualidade de vida dessas crianças. A equipe foi essencial para que pudéssemos realizar com sucesso essas intervenções. Desde o inicio, as agentes de saúde se mantiveram acolhedoras e dispostas a ajudar no que fosse preciso.
Mesmo com o profissional médico anterior esses pontos apresentavam falhas. As consultas de puericultura não utilizavam a caderneta de saúde da criança, pois muitas crianças não apresentavam nenhuma descrição deste acompanhamento nos primeiros 02 anos de vida. Não havia busca ativa das crianças após o parto, bem como não havia incentivo de vacinação e aleitamento materno.
Diante de alguns dados coletados durante a reunião com a equipe percebi que precisava “organizar a casa” e instituir de forma correta o que se preconiza o Ministério da Saúde. Na verdade, essa microintervenção começou a ser desenvolvida e praticada bem antes do estudo deste módulo. Logo que entrei no programa, em janeiro de 2018, percebi inúmeras falhas que precisavam ser organizadas junto com toda a equipe para que pudéssemos realizar um serviço de qualidade e dentro das expectativas do que a atenção básica propõe e determina como cuidado continuado. Na verdade, vou relatar um pouco da minha experiência desde a entrada no programa até então e como organizei com a equipe o cuidado à saúde da criança.
Inicialmente determinei com a equipe um turno na agenda para realizar apenas o cuidado integral à saúde da criança. Toda quarta-feira pela manhã eu atendo somente criança e adolescente. As consultas procuram englobar o atendimento desde o recém-nascido (1ª consulta), acompanhamento de crescimento e desenvolvimento (CD), queixas diversas e atendimento do adolescente. As crianças que estão em acompanhamento de crescimento e desenvolvimento possuem as datas das consultas já determinadas mensalmente. Um mês a criança vem para consulta médica e no mês seguinte para a consulta com a enfermeira. Caso, a colega enfermeira perceba alguma alteração no crescimento e desenvolvimento, atraso vacinal ou qualquer outra queixa o caso é me passado e há uma exceção na agenda para trazer com maior rapidez a criança para um atendimento médico.
Durante as consultas procuro orientar e esclarecer às mães sobre diversos temas. Oriento e incentivo ao aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, esclareço dúvidas alimentares, medicamentos que não podem ser feitos sem prescrição, importância da interação da criança com outras crianças e também dentro de seu contexto familiar.
Algo que precisei trabalhar inicialmente durante as consultas foi a questão vacinal. Muitas crianças apresentavam atraso de vacinas importantes. Desde então, em todas as consultas explico a importância de manter sempre atualizada a vacinação da criança. Procuro explicar os riscos e as complicações desse atraso e do impacto negativo em suas vidas caso a criança apresente alguma doença que pode ser evitada pela vacinação.
Procurei instituir com a enfermeira da equipe um protocolo de suplementação de ferro para crianças que iniciaram a alimentação após os 6 meses de vida. Todas as crianças, a partir do 6º mês, são questionadas sobre a utilização de sulfato ferroso e avaliadas se a dosagem está adequada e correspondente ao seu peso. Essa medida é realizada mensalmente e ajustada de acordo com a alteração do peso ou de outros achados clínicos.
Há ainda a busca ativa de todas as crianças/puérperas em que realizei a consulta de pré-natal. Ao finalizar o pré-natal por conta do parto, as agentes comunitárias de saúde se encarregam de marcar a primeira consulta do recém-nascido. Normalmente as consultas acontecem no dia da coleta do teste do pezinho na unidade. Mesmo, que não seja dia de atendimento à saúde da criança a avaliação do recém-nascido é realizada, possibilitando assim o atendimento precoce e o estabelecimento do cuidado continuado.
Com a adoção dessas medidas pude perceber o impacto positivo na atenção integral à saúde da criança. Atualmente, existe uma rotina tanto semanal quanto mensal nos serviços prestados à essa população, bem como no controle de morbimortalidade. Há ainda melhor controle desses dados por conta dos atendimentos realizados no Prontuário Eletrônico (PEC) onde conseguimos ter um controle geral, no final de cada mês, dos atendimentos realizados, das principais demandas e do controle da vacinação. Esses dados nos permitem construir estratégias e traçar metas de controle de qualidade dos serviços oferecidos dentro de cada mês.
Atualmente, existe um projeto sendo desenvolvido dentro da unidade de Nova natal acerca da saúde da criança. Durante as consultas pude perceber que algumas crianças encontravam-se fora dos escores gráficos padronizados pelo Ministério da Saúde da caderneta da criança. Muitas crianças encontravam-se acima do peso e poucas em estado de desnutrição.
Tomando como base, a identificação desses dados procurei o colega médico de uma outra equipe (equipe 43- Dr. José Ribamar que também está vinculado ao Programa Mais Médicos) e fomos discutir se havia dados semelhantes na sua esquipe. A partir desses dados, resolvemos realizar uma abordagem coletiva e multidisciplinar nessas crianças. Juntamente com alguns profissionais da odontologia, que já realizam um trabalho na escola do bairro, resolvemos elaborar um projeto e tentar intervir de forma positiva e contundente na questão da obesidade/desnutrição infantil. Iremos determinar um dia no mês e vamos realizar na escola do bairro uma ação. Iremos calcular IMC dessas crianças e traçar um gráfico com esses dados. O objetivo é identificar as crianças que se encontram em quadro de obesidade/desnutrição e intervir por meio de ações educativas e de promoção e prevenção da saúde. Ainda temos alguns pontos que precisam ser amadurecidos nesse projeto, além de contar também com melhor adesão de outros profissionais. Espero que consiga conquistar o público para o desenvolver desse projeto, bem como melhoria desses escores e da qualidade de vida dessas crianças.
De uma forma geral, estou bastante contente com o trabalho que venho realizando na saúde da criança. Desde o início contei com o apoio de toda a equipe e com a adesão de uma grande parte das famílias na manutenção do cuidado continuado. As intervenções que realizei desde o início do programa foram e continuam sendo fundamentais para o estabelecimento adequado da atenção integral à essa população. É extremamente gratificante poder conhecer e acompanhar mensalmente as crianças e suas famílias, bem como intervir de forma positiva quando algum agravo é identificado.
Dessa forma é essencial o planejamento e a manutenção de estratégias de saúde pública específicos para população infantil. É fundamental que os profissionais de saúde promovam ações específicas sobre o tema e que esclareçam as principais dúvidas sobre saúde da criança. Realizar ações educativas na saúde da criança promove práticas integrativas do cuidado, garante acesso continuado, possibilita humanização dos serviços oferecidos bem como promove promoção e prevenção da saúde como um todo, garantindo assim manutenção da qualidade de vida de todos os componentes do âmbito familiar.
Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança : crescimento e desenvolvimento / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012. 272 p.: il. – (Cadernos de Atenção Básica, nº 33).
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