21 de novembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: SAÚDE DA CRIANÇA: IMPORTÂNCIA DO CUIDADO CONTINUADO NA ATENÇÃO BÁSICA

ESPECIALIZANDO: JOSÉ RIBAMAR DE LIMA JÚNIOR

ORIENTADORA: MARIA BETÂNIA MORAIS DE PAIVA

 

Durante o estudo do módulo Atenção à Saúde da Criança: Crescimento e Desenvolvimento, muitas temáticas foram importantes para o entendimento de um bom funcionamento das unidades de saúde, bem como a necessidade de intervenções mais efetivas com relação ao tema citado.

Promover atenção integral e cuidado continuado à saúde da criança é um dos desafios da atenção básica. Devido a insuficiência na assistência das equipes de estratégia de saúde da família (ESF) a prática contínua e integrativa dessa população fica negligenciada e em muitos casos com agravos significativos à sua saúde.

O acompanhamento das crianças de forma regular e rotineira, com uso do Caderno de Saúde da Criança (CSC), vem sendo um dos pilares da melhoria da saúde pública no Brasil, para tanto, o CSC aborda orientações para a organização do processo de trabalho, questões tradicionais como o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento da criança; supervisão das imunizações e até temas característicos da modernidade, como a alimentação saudável, tão essencial de ser trabalhada na situação atual de epidemia de obesidade infantil; a prevenção de acidentes e as medidas de prevenção e cuidado à criança em situação de violência também são abordadas nesse documento (BRASIL, 2012).

Baseado nesse contexto, é fundamental traçarmos metas e ações que permitam promover rotineiramente o cuidado continuado, bem como a introdução de medidas que possam diminuir os agravos à saúde infantil.

Tomando como base inicial desta intervenção a avaliação externa do Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da atenção (PMAQ) alguns pontos frágeis na minha equipe 43 da Unidade de Nova Natal foram perceptíveis. Minha equipe encontrava-se sem assistência médica há vários meses. Os atendimentos à saúde da criança estavam sendo realizados pela enfermeira da equipe. Basicamente a puericultura não estava sendo feita e os atendimentos eram baseados nas queixas /patologias.

Quando era diagnosticada alguma alteração as crianças eram encaminhadas ao pediatra com a tentativa de resolver o quadro. Muitas vezes, as consultas com os pediatras demoravam devido a problemática das longas filas de espera nos sistemas e isso acabava agravando ainda mais a saúde da criança e a manutenção do cuidado continuado.

Por mais que a enfermeira da equipe fosse uma excelente profissional e de grande experiência na atenção básica infelizmente, não conseguia prestar um serviço de qualidade, devido à alta demanda e a própria falta de assistência médica na equipe. Infelizmente não havia promoção/ prevenção do cuidado e sim o encaminhamento para tratamento dos agravos à saúde da criança.

Desde a minha entrada no Programa do Mais Médicos e durante as inúmeras reuniões técnicas da equipe 43 percebi que alguns pontos da avaliação do PMAQ não vinham sendo praticados como preconiza o Ministério da Saúde (MS).

Não estavam sendo realizadas consultas de puericultura nas crianças de até dois anos de idade, bem como a utilização da caderneta de saúde da criança para o seu acompanhamento. Não havia registro de atendimentos nas cadernetas, e muitas vezes eram utilizadas somente para verificar e atualizar vacinação. Outro ponto frágil era a prática do aleitamento materno e a busca ativa da quantidade de crianças assistidas pela equipe.

Diante das falhas e dificuldades vivenciadas desde o início da entrada no programa, em janeiro de 2018, percebi que precisava realizar algumas intervenções e procurar adaptar o atendimento prestado à saúde da criança ao que preconiza o MS.

Na verdade, essa microintervenção já estava sendo realizada muito antes do início do atual módulo. Logo que percebi a falha na equipe procurei iniciar os atendimentos de puericultura de forma regular e rotineira. Inicialmente, enfrentei resistência por parte das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), quando coloquei nas reuniões que para realizar os atendimentos regulares deveríamos ter um turno específico para esses atendimentos.

Alguns ACS não aceitaram tal determinação, por acreditar que “tirar um turno da agenda” só para atendimentos de criança seria um prejuízo enorme na agenda de atendimentos gerais. Instituir um turno foi um grande desafio desde o início do programa. De acordo com os meses e com os resultados obtidos consegui mostrar para as agentes de saúde que a prática de promoção/ prevenção de saúde tem um resultado a médio e longo prazo e que faz parte da atenção básica. Mostrei que ao longo desses 08 meses de programa, ocorreu uma diminuição da procura por parte das mães com relação a queixas respiratórias, gastrointestinais, angústia por falta de informações dentre outras, queixas diversas.

Atualmente, as consultas de puericultura são realizadas em conjunto com a enfermeira da equipe. Um mês a criança passa em consulta médica e no mês seguinte com a enfermeira. Dessa forma, promovemos de forma contínua e regular o acesso ao cuidado continuado da criança. Há durante as consultas intervenções e orientações sobre alguma alteração evidenciada ou dúvidas quaisquer que possam surgir por parte dos familiares.

Ainda nesse enfoque de atenção à saúde da criança dou ênfase, em minhas consultas, na parte de alimentação saudável, incluindo aleitamento materno exclusivo até os sexto mês; destaco a importância de se realizar a triagem neonatal, prevenção de acidentes, de manter vacinas atualizadas, de estar sempre com a caderneta da criança em todas as consultas e orientações sobre violência familiar. Realizamos ainda, a busca ativa das crianças utilizando o final do pré-natal para marcar as consultas, bem como, o controle de crianças que necessitam de cuidado integral e continuado.  

Atualmente, existe um projeto sendo desenvolvido dentro da unidade Básica de Saúde (UBS) de Nova natal em torno da saúde da criança. Durante as consultas pude perceber que algumas crianças encontravam-se fora dos escores gráficos padronizados pelo MS presentes na caderneta da criança.

Muitas crianças encontravam-se acima do peso e poucas em estado de desnutrição.  Tomando como base, a identificação desses dados procurei a colega médica da equipe 42- Dr. Rútila Praxedes que também está vinculado ao PMM  e fomos discutir se havia dados semelhantes na sua esquipe. A partir desses dados, resolvemos realizar uma abordagem coletiva e multidisciplinar nessas crianças. Juntamente com alguns profissionais da odontologia, que já realizam um trabalho na escola do bairro, resolvemos elaborar um projeto e tentar intervir de forma positiva e contundente na questão da obesidade/desnutrição infantil. Iremos determinar um dia no mês e vamos realizar na escola do bairro uma ação.

Iremos pesar e medir o Índice de Massa Corpórea (IMC) dessas crianças e traçar um gráfico com esses dados. O objetivo é identificar as crianças que se encontram em quadro de obesidade/desnutrição e intervir por meio de ações educativas e de promoção e prevenção da saúde. Ainda temos alguns pontos que precisam ser amadurecidos nesse projeto, além de contar também com melhor adesão de outros profissionais. Esperamos conseguir conquistar público para o desenrolar desse projeto, bem como melhoria desses escores e da qualidade de vida dessas crianças.

De uma forma geral estou bastante satisfeito com o trabalho que venho realizando na saúde da criança. Percebi durante esses meses que a adoção de medidas simples foi crucial e significativa para mudar o cenário do cuidado continuado na minha equipe.

Vem ocorrendo uma diminuição no número de atendimentos de nossas crianças em acolhimento e vem diminuindo a pressão da população por atendimento dessas crianças fora do período das consultas regulares, como consulta de agravos agudos como pneumonia, diarreia, febre e outras demandas que eram altas em nossa equipe. As mães, que hoje em dia já estão mais orientadas sobre as queixas e agravos principais da infância, já não levam suas crianças para atendimento por uma simples febre, ou por um episódio de fezes amolecidas.  As mães já sabem esperar a data das consultas regulares, já sabem o que é ‘normal’ da criança e o que é doença que requer maior atenção.

Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde estabeleçam estratégias e ações continuadas sobre a saúde da criança na atenção básica, fornecendo assim melhor qualidade nos serviços oferecidos, autonomia nas escolhas das decisões e promoção e prevenção da saúde, diminuindo assim os agravos e impactos negativos à saúde.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

Brasil – Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde – Departamento de Atenção Básica. In: Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. [Cadernos de Atenção Básica, n◦ 33]. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.

 

Brasil – Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde –
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. In: Manual
para uso da caderneta de saúde da criança.
 Brasília: Ministério
da Saúde; 2005

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