CAPÍTULO V: O INCENTIVO AO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO NA CONSULTA DO PRÉ-NATAL
Especializando: Indy Lopes Batista
Orientador: Maria Betânia Morais de Paiva
Colaboradores: Ana Célia Maria Gadelha
Na década de 80, no Brasil, numa ação coordenada entre o governo federal, as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e o Ministério da Saúde, baseado na análise das condições sanitárias e epidemiológicas da população, foi elaborado o programa de “Assistência Integral à Saúde da Criança”, a fim de possibilitar a criação de elos entre a população e os serviços de saúde, através do acompanhamento sistemático do crescimento e desenvolvimento de crianças menores de 5 anos de idade. Os serviços deveriam estar preparados para resolver, a partir da unidade básica, a maioria dos problemas de saúde das crianças, inclusive os fatores indesejáveis do meio ambiente. Com enfoque na assistência integral à saúde da criança, cinco ações básicas surgiram como respostas do setor saúde aos agravos mais freqüentes e de maior peso na morbimortalidade de crianças de 0 a 5 anos de idade: Aleitamento Materno e Orientação Alimentar para o Desmame, Controle da Diarréia, Controle das Doenças Respiratórias na Infância, Imunização e o Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento(BRASIL, 1984).
O projeto de implantar um programa preventivo eficaz direcionado à Saúde da Criança, da Equipe 113 da Unidade de Saúde do Vale Dourado, esbarra em algumas dificuldades como as consultas de puericultura ser conduzida apenas pela Enfermagem por falta de disponibilidade na agenda médica, que já é preenchida com outras ações preventivas de maior demanda – como o seguimento de paciente idosos portadores de doenças crônicas – um contingente extenso na área adscrita, respeitando-se o princípio da equidade, mesmo em prejuízo da Puericultura. Esse fato traz como consequência a sobrecarga de volume de pacientes de zero a dois anos para a Enfermagem, prejudicando o cumprimento de consultas e periodicidade preconizadas pelo Ministério da Saúde de Crescimento e Desenvolvimento, caracterizando-se como mais uma dificuldade. Outro empecilho-voltado à faixa etária acima de dois anos – consiste na própria cultura dos genitores em levar a criança e/ou adolescente ao médico apenas quando o estado de saúde está comprometido, dificultando o acompanhamento e seguimento.
A tentativa de inclusão de ações sobre a Saúde da Criança são questões que vem sendo levantadas em reuniões de equipe e a resolução do questionário proposto está norteando os focos de ações, apesar de estarmos nos referindo a projetos em andamento, a ênfase da intervenção consiste em transformar todos os integrantes da equipe de saúde da família corresponsáveis na ação proposta em detrimento de uma ação individualizada.
QUESTÕES |
SIM |
NÃO |
A equipe realiza consulta de puericultura nas crianças de até dois anos (crescimento/desenvolvimento)?
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X |
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A equipe utiliza protocolos voltados para atenção a crianças menores de dois anos?
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X |
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A equipe possui cadastramento atualizado de crianças até dois anos do território?
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X |
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A equipe utiliza a caderneta de saúde da criança para o seu acompanhamento?
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X |
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Há espelho das cadernetas de saúde da criança, ou outra ficha com informações equivalentes, na unidade?
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X |
No acompanhamento das crianças do território, há registro sobre:
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QUESTÕES |
SIM |
NÃO |
Vacinação em dia |
X |
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Crescimento e desenvolvimento |
X |
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Estado nutricional |
X |
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Teste do pezinho |
X |
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Violência familiar |
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X |
Acidentes |
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X |
A equipe acompanha casos de violência familiar conjuntamente com os profissionais de outro serviço (CRAS, Conselho Tutelar)?
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X |
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A equipe realiza busca ativa das crianças:
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QUESTÕES |
SIM |
NÃO |
Prematuras |
X |
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Com baixo peso |
X |
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Com consulta de puericultura atrasada |
X |
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Com calendário vacinal atrasado |
X |
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A equipe desenvolve ações de promoção do aleitamento materno exclusivo para crianças até seis meses?
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X |
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A equipe desenvolve ações de estímulo à introdução de alimentos saudáveis e aleitamento materno continuado a partir dos seis meses da criança? |
X |
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De acordo com as dificuldades propostas já relatadas e a partir do grande número de gestantes recebidas e atendidas no programa de Pré-Natal pela equipe 113, considerou-se como a atividade mais exitosa – envolvendo a temática de Saúde da Criança – as orientações dadas às grávidas durante as consultas pré-natais quanto à necessidade do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade. Segundo o Ministério da Saúde o aleitamento materno é a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil. Permite ainda um grandioso impacto na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e regozijo de toda a sociedade.
Portanto, cabe ao profissional de saúde identificar e compreender o aleitamento materno no contexto sociocultural e familiar e, a partir dessa compreensão, cuidar tanto da dupla mãe/bebê como de sua família. É necessário que busque formas de interagir com a população para informa-la sobre a importância de adotar práticas saudáveis de aleitamento materno. O profissional precisa estar preparado para prestar assistência eficaz, solidária, integral e contextualizada, que respeite o saber e a história de vida de cada mulher, e que a ajude a superar medos, dificuldades e inseguranças (CASTRO; ARAÚJO, 2006).
A OMS, endossada pelo Ministério da Saúde do Brasil, recomenda aleitamento materno por dois anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros seis meses. Não há vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes dos seis meses, podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança, pois a introdução precoce de outros alimentos está associada a:
• Maior número de episódios de diarréia;
• Maior número de hospitalizações por doença respiratória;
• Risco de desnutrição se os alimentos introduzidos forem nutricionalmente inferiores ao leite materno, como, por exemplo, quando os alimentos são muito diluídos;
• Menor absorção de nutrientes importantes do leite materno, como o ferro e o zinco; • Menor eficácia da amamentação como método anticoncepcional;
• Menor duração do aleitamento materno.
No caso do período de pré-natal, este é o momento mais adequado para motivar a mulher a amamentar, mostrando-lhe as vantagens do uso do leite humano. Com a preparação física das mamas durante a gravidez, e o apoio psicológico a essas mães são eficazes e a própria evolução da gravidez se encarrega de preparar as mamas para o aleitamento (LA DEL CIAMPO, FERRAZ, DANELUZZI, 2008).
É nessa pré-fase que se detecta mulheres em risco para o desmame precoce as quais deverão receber maior atenção no pré, intra e pós-parto, como:
Adolescente;
Mulheres que não amamentaram filho anterior;
As que voltaram precocemente ao trabalho;
Portadoras de psicopatias, sociopatias ou doenças crônicas;
Mulheres que sofreram procedimentos cirúrgicos ou traumáticos nas mamas;
Portadoras de mamilos planos e/ou invertidos;
Mulheres solteiras que não tem apoio familiar (SANCHES, et al.,2011).
As consultas de atendimento pré-natal na Unidade de Saúde atuante ocorrem regularmente em dia fixo da semana e são alternadas entre o enfermeiro e médico, seguindo a programação preconizada pelo Ministério da Saúde quanto à periodicidade e quantidade das mesmas. Resumem-se então em diversos encontros mensais, seguidos de quinzenais, já mais próximos do parto, permitindo diversas oportunidades de orientações quanto à soberania do aleitamento materno. No decorrer de dez meses de atuação foi visto que diversas gestantes simpatizavam com as recomendações fornecidas, principalmente entre nuligestas, e, nas que traziam o genitor consigo nas consultas. Outro fato favorável consiste na maior aproximação do profissional de saúde com a gestante, levando essa relação para as consultas de puericultura da enfemeira com a mãe e o recém-nascido podendo haver um reforço na orientação e supervisão do aleitamento materno. Concluindo-se dessa forma que a intervenção foi focada em orientar e reorientar quanto à promoção e apoio ao aleitamento materno, iniciando e mantendo uma linha de cuidado integral à Saúde da Criança.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Assistência integral à saúde da criança: Ações básicas. Brasília. (DF): Ministério da Saúde; 1984.
SANCHES, M. T. C.; et al. Fatores associados à interrupção do aleitamento materno exclusivo de lactentes nascidos com baixo peso assistidos na atenção básica. Cad. Saúde Pública. 2011, vol.27, n.5, pp. 953-965..
CASTRO, L. M. C. P.; ARAÚJO, L. D. S. Aspectos socioculturais da amamentação. In: _____. Aleitamento materno: manual prático. 2. ed. Londrina: PML, 2006, p. 41-49.
LA DEL CIAMPO, I.S., FERRAZ, J.C. e DANELUZZI, R.G. Aleitamento materno exclusivo: do discurso à prática – Pediatria, v.30, n.1, 2008:22-26.
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