4 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Titulo:SAÚDE DA CRIANÇA: UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE CENTRO

Especializando:Álvaro Rodrigues de Freitas 

Orientadora:Maria Helena Pires Araújo Barbosa

            A atenção à saúde da criança, no Brasil, sofreu grandes transformações ao longo do tempo. Na década de 1920, as autoridades públicas e privadas demonstram preocupação com o adoecimento infantil visto que, se as crianças permanecessem  doentes, aumentaria o número de faltas entre as trabalhadoras. Em 1970, foi implantado o Programa Nacional de Saúde Materno-Infantil com a finalidade de reduzir  a morbimortalidade entre crianças e mãe. De forma geral, nas décadas de 1980 e 1990, houve muitas conquistas sociais no âmbito da saúde, por meio da Constituição Federal de 1988 e das Leis Orgânicas nº 8.080 e nº 8.142 de 1990, as quais contribuíram para delinear as transformações no modelo de saúde brasileiro, bem como no que diz respeito à saúde da criança (ARAÚJO et al, 2014).

            Nesse contexto, com o objetivo de promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno por meio da atenção e cuidados integrais e integrados da gestação aos 9 anos de vida visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) através da Portaria nº 1.130, de 5 de agosto de 2015 (BRASIL, 2015).

            A PNAISC se organiza a partir das Redes de Atenção à Saúde (RAS) e de seus eixos estratégicos, na qual a Atenção Primária à Saúde (APS) configura-se como coordenadora do cuidado à criança e ponto central desse processo. Um dos pontos estratégicos dessa política é o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral, com especial atenção à primeira infância (faixa etária de 0 a 5 anos de idade) (BRASIL, 2015). A referida estratégia é de fundamental importância para a promoção da saúde da criança e prevenção de agravos, identificando situações de risco e buscando atuar de forma precoce nas intercorrências.

            Com o objetivo de incentivar os gestores e as equipes a melhorar a qualidade dos serviços de saúde oferecidos aos cidadãos do território, foi instituído o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) (BRASIL, 2011). No município de Campo Redondo/Rio Grande do Norte, a atenção básica propõe estratégias de qualificação, acompanhamento e avaliação das suas equipes de saúde que são norteadas pelo PMAQ-AB.

            No referente à saúde da criança, de acordo com os indicadores do PMAQ-AB, são realizadas as seguintes ações: consulta de puericultura nas crianças de até dois anos de idade; utilização de protocolos direcionados para atenção a crianças menores de dois anos de idade (exemplo: estratégia AIDPI); atualização do cadastramento das crianças menores de dois anos de idade; uso da Caderneta de saúde da criança e seu espelho; registro sobre imunização, consulta do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral, estado nutricional, teste do pezinho, violência familiar e acidentes; e busca ativa de crianças prematuras, com baixo peso, com consulta de puericultura atrasada e com calendário de vacinação atrasado. Ainda, o desenvolvimento de ações referentes ao estímulo do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e introdução de alimentos saudáveis e aleitamento materno continuado a partir dos seis meses da criança.

            Na Unidade Básica de Saúde (UBS) Centro, no referente à saúde da criança, são desenvolvidas ações a partir de uma visão integral de promoção à saúde e prevenção de agravos à criança de forma humanizada, em tempo hábil e com resolutividade, em consonância com os princípios e as diretrizes do SUS.

            A criança tem acesso ao serviço através da procura espontânea, encaminhamento por escolas e creches, visitas domiciliares pela equipe de saúde da família da unidade e encaminhamento por hospitais. Ao chegar na UBS, a criança é acolhida e avaliada (curva de crescimento/desenvolvimento, vacinação, doenças respiratórias, avaliação nutricional e outras ações) através da promoção do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral que consiste na vigilância e estímulo do pleno crescimento e desenvolvimento da criança (BRASIL, 2012).

            A implantação da estratégia AIDPI, que é apresentada em uma série de quadros que mostra a sequência e a forma dos procedimentos a serem adotados pelos profissionais de saúde, gerou impacto positivo na assistência à saúde das crianças do território da UBS Centro (BRASIL, 2017). Esses quadros descrevem em cores, segundo os riscos (vermelho, amarelo e verde), as seguintes etapas: Avaliar e Classificar, Tratar a criança, Aconselhar a mãe, pai ou responsável pelo cuidado e consulta de retorno (BRASIL, 2017). Para exemplificar, segue abaixo um caso clínico referente à promoção do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral

            I.L.S., 2 anos e 3 meses, feminino, branca, natural e residente em Campo Redondo. Queixa principal: mãe relata que sua filha está “comendo pouco e mal”. História de saúde: nascida de parto cesáreo, APGAR 9/9, idade gestacional de 37 semanas com peso de nascimento de 2.200g, aleitamento materno exclusivo até 3 meses de idade; ganho pondero-estatural abaixo do esperado, ingestão de alimentos pouco nutritivos; imunização em dia. História familiar: mãe tabagista, pai tabagista e etilista. História social: núcleo familiar, casa de alvenaria e com saneamento básico. Exame físico: peso = 8.570g, estatura = 82 cm, IMC = 12,8 kg/m², PC = 45,6 cm; emagrecida, bom estado geral, ativa e cooperativa; pele e mucosas pálidas; murmúrio vesicular audível sem ruídos adventícios, FR = 28 irpm; abdome sem alterações com ruídos hidroaéreos presentes.

            Após investigação e análise dos dados a impressão diagnóstica foi: criança de 2 anos e 3 meses com peso muito baixo e déficit de ganho pondero-estatural. Desnutrição primária (hábitos alimentares inadequados e falta de instrução sobre o valor nutricional dos alimentos). Foi solicitado um Hemograma completo. Para finalizar, a mãe foi orientada quanto ao tratamento e retorno.

            Para obter os dados supracitados, foi utilizada a estratégia AIDPI:

Avaliar: perguntar a mãe que problemas a criança apresenta e verificar se há sinais de perigo (criança emagrecida e déficit de ganho pondero-estatural);

Classificar: peso muito baixo;

Tratar: avaliar a alimentação da criança e as possíveis causas de desnutrição, aconselhar a mãe a tratar a criança de acordo com as dietas especiais, administrar megadose de vitamina A, retorno com 5 dias e orientar sinais para retorno imediato.

            Após 5 dias, a mãe retornou com a criança a UBS e foram avaliados os sinais de perigo e foi realizado o cálculo para determinar a média de ganho de peso por dia = peso da consulta de retorno (g) – peso da primeira consulta (g) + nº de dias entre as consultas/peso da primeira consulta (em kg). Após o cálculo percebeu-se que a criança estava ganhando peso e a mãe foi parabenizada e incentivada a continuar com o tratamento. O retorno foi agendado para 14 dias.

            O processo de implantação e implementação dessa ação mostrou que a estratégia AIDPI ajuda o profissional de saúde a atender as crianças de forma correta e eficiente, impactando positivamente na atenção integral à saúde da criança. A equipe, durante todo o processo, mostrou-se disponível para realizar as adequações necessárias para a implantação da estratégia acima referida.

            Outra ação que contribui para a qualificação da assistência à saúde da criança naUBS Centro é a realização da busca ativa, entendida como uma estratégia que possibilita o deslocamento da equipe de saúde para fora do serviço, promovendo vínculo com a comunidade e a obtenção de dados imprescindíveis para a melhoria do cuidado. Através dessa estratégia a equipe de saúde da unidade obtém informações a cerca do número de crianças nascidas pré-termo, crianças com baixo peso, com consulta de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral em atraso, bem como imunização atrasada, entre outras informações. Isso permite a atuação da equipe em tempo hábil e com maior resolutividade.

 

 

REFERÊNCIAS

 

ARAÚJO, Juliane Pagliare et al. História da saúde da criança: conquistas, políticas e perspectivas. Rev. Bras. Enferm., v. 67, n. 6, 2014, p. 1000 – 1007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-71672014000601000&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 05 de ago. de 2018.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: Crescimento e desenvolvimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 272 p.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de quadros de procedimentos: Aidpi criança. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. 74 p.

 

BRASIL. Diário Oficial da União. Portaria nº 1.130, de 05 de agosto de 2015. Brasília, 2015.

 

BRASIL. Diário Oficial da União. Portaria nº 1.164, de 19 de julho de 2011. Brasília, 2011.

 

 

 

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