A LINHA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA TEPEQUEM, EM AMAJARI, RR.
ESPECIALIZANDO: ZURAMY RODRIGUEZ CERVANTES
ORIENTADOR: ROMANNINY HEVILLYN SILVA COSTA
A experiência a ser relatada nesse tópico diz respeito à microintervenção sobre o funcionamento da linha de cuidado em saúde mental na Estratégia de Saúde da Família – ESF Tepequem, com a elaboração de um instrumento de avaliação externa do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica –PMAQ-AB, bem como a elaboração de um Projeto Terapêutico Singular para um paciente atendido em saúde mental, com o objetivo de avaliar os serviços e construir indicadores de qualidade.
Sabemos que o atendimento em saúde mental que passa pela ESF, são atendimentos de casos como, o uso de álcool e drogas, depressão, entre outros. Muitas pessoas procuram a Unidade, apresentando sinais de depressão que necessitam ser cuidados. Mais do que isso, trabalhar a prevenção dessa doença é essencial na sociedade e que acaba passando despercebido.
Saúde Mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um amplo espectro de variações sem contudo perder o valor do real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro (FERNANDES; MOURA, 2009).
A população que sofre de algum transtorno mental é reconhecida como uma das mais excluídas socialmente. Essas pessoas apresentam redes sociais menores do que a média das outras pessoas. Para Fernandes e Moura (2009) a segregação não é apenas fisicamente, permeia o corpo social numa espécie de barreira invisível que impede a quebra de velhos paradigmas.
Na ESF Tepequem, o atendimento à saúde mental funciona da seguinte forma:
Figura 01 – Atendimento em Saúde Mental na ESF Tepequem, Amajarí, RR.
Fonte: Autor próprio
O paciente chega até a unidade, portando alguns sinais e sintomas referentes a depressão, dependência química e alcoólica, transtornos obsessivos – compulsivos (TOC), entre outros, que são avaliados e encaminhados para um diagnóstico preciso por profissionais especializados. Assim, serão acompanhados na referência em saúde mental do município, geralmente o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) ou o Núcleo de Atenção à Saúde da Família – NASF (com encaminhamentos para o psicólogo) e continuarão a serem acompanhados pela equipe da Unidade de Saúde, em visitas domiciliares ou até mesmo em atendimentos de rotina clínica.
Dessa forma, há um acompanhamento adequado dos pacientes em saúde mental pelo município, mas é preciso estabelecer indicadores de qualidade, através da construção de um instrumento de avaliação externa do PMAQ. Esse instrumento foi construído baseado nas perguntas do PMAQ e foi direcionado à equipe, para que esta pudesse preenche-lo no período de dois meses. Segue abaixo o instrumento:
Figura 02 – Ficha espelho do instrumento de autoavaliação externa.
Fonte: Ministério da Saúde (2017)
A construção do instrumento de registro solicitado pelo PMAQ foi simples, obtive acesso a ficha espelho pelo manual do instrumento de avaliação externa do “saúde mais perto de você” – acesso e qualidade, do Ministério da Saúde (2017). Com a ficha em mãos, marquei uma reunião com a equipe para explicar como iríamos proceder.
Essa reunião foi realizada no mesmo dia, na parte da tarde, onde compareceram Agentes comunitários de saúde (ACS), auxiliares de enfermagem, enfermeira e médica da Unidade. Foi repassado a importância de coletar essas informações para gerar indicadores de qualidade dos serviços e foi estipulado um prazo de dois meses para a coleta.
A conversa com a equipe foi apreensiva, pois principalmente os ACS relataram que não iria dar tempo de realizar a coleta nesse período, mas informei que se não desse tempo o prazo se estenderia para mais um mês. As potencialidades da conversa foram positivas, pois a equipe entendeu que é muito importante gerar esses indicadores para acompanhar o atendimento em saúde mental. Referente as dificuldades, foi mesmo em relação ao curto período de tempo e o acesso aos prontuários que iria ser cansativo, mas acabaram concordando em realizar esta tarefa.
Referente a elaboração do Projeto Terapêutico Singular, temos uma paciente, a A.M.O, de 29 anos, em atendimento referenciado ao CAPS, por apresentar diagnóstico de Depressão leve. Foi mantido contato com o CAPS e NASF, para a elaboração desse PTS. Essa paciente veio de outra cidade morar no território atendido pela minha Unidade, então continuei seu atendimento. Faz uso de Sertralina 50mg 1 cp manhã.
Dessa forma, temos as seguintes metas para resolver o problema:
– Problema: Depressão Leve
-Meta a curto prazo: Conhecer melhor a história de vida da paciente e seu prontuário; Encaminhar ao NASF para atendimento psicológico; Encaminhar ao CAPS para acompanhamento psiquiátrico; Marcar retorno para 30 dias. Na consulta médica, realizar exame físico e solicitação de exames complementares.
– Meta a longo prazo: Manter uma interação com equipe do CAPS e psicólogo do NASF para melhor atender a paciente; Orientar paciente a participar de atividades grupais como o grupo de arte terapia do CAPS; Avaliar estado da paciente em retorno.
– Divisão de responsabilidades: Agentes comunitários de saúde: acolhimento com visitas domiciliares; Enfermeira: acolhimento com visitas domiciliares; Marcação de consultas e encaminhamentos; Interação com reuniões e familiares; Médica: Atenderá através da consulta e fornecerá orientações quando necessário. Fará encaminhamentos para especialidades se necessário e realizará intervenção medicamentosa; Psicólogo (NASF): atendimento uma vez na semana por 30 dias; Psiquiatra (CAPS): acompanhamento do caso da paciente.
– Avaliação: Reuniões: ocorrerão reuniões periódicas (duas vezes ao mês) para avaliação das metas planejadas. Se for necessário serão reavaliadas mediante o alcance dos resultados positivos no atendimento ao paciente. Reuniões com as equipes de apoio do NASF e CAPS serão necessárias.
Diante dessa construção de linha do cuidado para a paciente, a articulação com o CAPS e o NASF foi proveitosa e produtiva, servindo como base de orientação para o atendimento de pacientes com sofrimento psíquico. Acredito que essa parceria deve sempre acontecer, pois facilita o atendimento e coloca em prática a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) dentro do município, apresentando uma grande potencialidade no atendimento em saúde mental. Como fragilidade desse sistema ainda encontramos a falta de especialistas, que prolonga o atendimento e aumenta as filas de espera, mas com o funcionamento da Rede Viva, conseguimos ultrapassar essas barreiras.
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Atenção Básica. PMAQ. Instrumento de Avaliação Externa para as Equipes de Atenção Básica (Saúde da Família e Equipe Parametrizada). Distrito Federal – Brasília, 2017.
FERNANDES, Flora e MOURA, Joviane A. A Institucionalização da Loucura: enquadramento nosológico e políticas públicas no contexto da saúde mental (parte II). 2009. Disponível em: <http://artigos.psicologado.com/psiquiatria/>. Acesso em 02 de julho de 2018.
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