TÍTULO: MICROINTERVENÇÃO EDUCATIVA NA EQUIPE DA UBS DR° JOSÉ MEDEIROS PARA APERFEIÇOAR A ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.
ESPECIALIZANDO: YOSIEL OLIVA PÉREZ
ORIENTADOR: TULIO FELIPE VIEIRA DE MELO
A Atenção Básica possibilita o primeiro acesso aos usuários ao sistema de saúde, inclusive às que demandam assistência em saúde mental. O cuidado em saúde mental na Atenção Básica é feito a partir de ações que são desenvolvidas pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo bastante estratégicas já que são feitas em um território geograficamente conhecido, possibilitando aos profissionais de saúde uma proximidade para conhecer a história de vida, seus vínculos sociais, bem como com outros elementos dos seus contextos de vida (BRASIL, 2013).
É nesse sentido é que nossa equipe no dia 12 de Julho do presente ano e no expediente da tarde, realizou uma autoavaliação, além de uma palestra educativa na sala de reuniões da UBS Dr° José Medeiros do município de Caicó. Participaram da reunião o enfermeiro, 2 técnicas de enfermagem, 3 agentes comunitários de saúde, técnica de odontologia, residente em enfermagem, administradora e médico. O principal problema que justificou a realização dessa reunião foi o aumento do número de atendimentos de usuários com alguma doença mental e o uso crônico de medicamentos de psicotrópicos, o que provocou na equipe a vontade de melhorar o atendimento ainda mais desses usuários.
No começo da autoavaliação tomamos como ponto de referência o caso de uma usuária de nossa área, e a partir desse quadro clínico planejaríamos as diferentes ações.
YPA, do sexo feminino, 34 anos de idade, com antecedentes patológicos pessoais de ansiedade. A usuária veio à UBS referindo sintomas como: perda de interesse por sua pessoa, sentimento de culpa, descontentamento geral, choro excessivo, isolamento social e pensamentos suicidas, tudo isso a partir da morte de uma irmã. Pelos sintomas, decidimos reajustar o tratamento e encaminhá-la para psicologia e psiquiatria. Além disso, conversamos com os familiares sobre a gravidade do problema. Dias depois, ainda não sendo possível a interconsulta com o Psiquiatra e sabendo que o dia anterior teve uma tentativa suicida contra ela e seus filhos. Ela foi avaliada novamente pelo médico que decidiu encaminhá-la para o CAPS III por tratar-se de uma urgência psiquiátrica. Com pouco tempo fomos informados que o CAPS III não contava com Psiquiatra. Com isso decidimos encaminhá-la ao Hospital e logo depois transferida para o CAPS III. A usuária foi internada por 7 dias e agora continuamos com o seguimento pela equipe da UBS, NASF e CAPS III para recuperação de seu quadro clínico.
Diante dessa situação-problema é que a equipe busca melhorar e aperfeiçoar o atendimento às pessoas com algum transtorno mental, além de identificar dificuldades, potencialidades e poder conhecer ainda mais sobre a organização da rede de saúde mental em nosso município.
Começando pela base, o município de Caicó-Rn conta com as UBS que são quem incorpora ações de promoção e educação para a saúde na perspectiva da melhoria das condições de vida da população, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) que regulamenta e tipifica as equipes de apoio e suporte à saúde da família, e está integrado por vários funcionários que dois a três dias da semana devem assistir a cada UBS, além do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), especificamente o CAPS III, já que temos uma população acima de 200.000 habitantes. O CAPS III tem a peculiaridade de que funciona 24 horas além dos feriados e fins de semana. São para atendimento de adultos, atendendo à população de referência com transtornos mentais severos e persistentes. A frequência dos usuários depende de seu projeto terapêutico, podendo variar de cinco vezes por semana com oito horas por dia a, pelo menos, três vezes por mês.
Durante a avaliação da organização da rede de saúde mental se identificaram fragilidades como: a equipe do NASF está incompleta e as vezes não podem chegar a fazer o atendimento na UBS porque não contam com a infraestrutura adequada para algum tipo de atendimentos, inexistência de contra referências por parte do CAPS III a pesar que são enviados todos os usuários com encaminhamentos, além de instabilidade de Psiquiatras no CAPS III.
Merece ressaltar algumas potencialidades da rede como: excelente comunicação e articulação entre a UBS o CAPS e o NASF e elevado comprometimento dos funcionários de essas instituições para com os usuários.
Uma vez conhecidas as dificuldades, potencialidades e a organização da rede de saúde mental em nosso município, a equipe se questiona “como poderíamos ter melhor controle de esses usuários que procuravam atendimento?”.
Para isso se decidiu melhorar o registro que já tiníamos, e elaborar a relação dos usuários com Transtornos Mentais Severos/Graves ou que fazem uso de medicações de controle especial ou drogas, que coleta uma maior quantidade de informação sobre esses usuários e que seria atualizada pelo pessoal da triagem cada vez que os usuários fosse a consulta. Durante a construção do instrumento, a equipe fez um amplo debate sobre que dados que poderiam ser colocados e que permitisse à equipe ter um maior controle e seguimento sobre esses usuários.
Muitas dificuldades foram identificadas nesse processo, tais como: chegar a um consenso sobre os aspetos a ser colocados nesse instrumento, conseguir colocar a maior quantidade de dados solicitados pelo Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção (PMAQ), fazer entender a toda a equipe sobre a necessidade de aumentar as ações educativas dirigidas as pessoas que fazem uso crônico dos medicamentos psicotrópicos, além de conseguir negociar o desmame da maior quantidade de usuários com uso crônico dessas medicações.
Também foram achadas potencialidades dentro da equipe, já que contamos com um excelente agendamento das consultas dos usuários em sofrimento psíquico e o tempo de espera para o primeiro atendimento das pessoas que procuram o posto de saúde é mínimo, já que sempre se dá prioridade a esses casos novos.
São poucos os dias que até agora transcorreram para falar sobre as mudanças depois da micointervenção, mas já observamos um aumento no número de atividades educativas com as pessoas que fazem uso crônico de psicotrópicos, além da diminuição das doses de medicações indicadas para começar o desmame em alguns usuários. Hoje podemos afirmar que depois dessa microintervenção e com sua continuidade, a equipe espera melhorar ainda mais o trabalho até agora feito e dirigido aos usuários com necessidade de atendimento de saúde mental, além de estar abertos para perceber as peculiaridades de cada situação que se apresenta sendo esse um elemento chave.
REFERÊNCIAS
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 176 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 34.
Ponto(s)