Título: Cuidados à Saúde Mental na Atenção Básica. Relato de experiência na UBS 8, Nossa Senhora das Dores. Sergipe S/E.
Aprendizado: Yordanis Carbo Salazar
Orientador (a): Maria Helena Pires Araújo Barbosa
A atenção básica e a saúde mental são temas constantes em diversos artigos. Por isso é importante ressaltar a importância da Atenção Primária à Saúde, por meio da Estratégia de Saúde da Família, como porta de entrada para a Saúde Mental. Um dos problemas mais comuns e de alta prevalência nos territórios de saúde de todo o Brasil.
A saúde mental não está dissociada da saúde geral. E por isso faz-se necessário reconhecer que as demandas de saúde mental estão presentes em diversas queixas relatadas pelos usuários que chegam aos serviços de saúde da atenção básica. Devido à dificuldade cada vez maior de atendimentos pelos psiquiatras, em especial os que fazem uso de substâncias Psicotrópicas. Por tais motivos a Unidade Básica de Saúde (UBS) vem acolhendo os casos de demandas de saúde mental.
Cabe aos profissionais o desafio de perceber e intervir sobre essas questões. É por isso que neste relato de experiência faremos alusão aos cuidados em saúde mental no nosso território de abrangência. Desse modo, um dos objetivos deste relato é sensibilizar os profissionais sobre a linha de cuidado em saúde mental. Afinal, a linha começa pela equipe de saúde da família e a atuação não é somente transcrever os psicotrópicos, usados em muitas ocasiões indiscriminadamente, ou encaminhar para o psiquiatra se apresenta alguma queixa psicológica.
O nosso objetivo principal no atendimento à saúde mental na UBS é acolher os usuários que necessitam de suporte emocional na própria UBS e possibilitar, por meio da responsabilização compartilhada maior resolutividade de problemas de saúde mental pela equipe local. Desse modo, após um levantamento do perfil dos usuários acolhidos pela equipe, os casos que demandam atenção em saúde mental são encaminhados para os demais elementos da rede de atenção como: Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) ou Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
Para realizar uma microintervenção com foco na saúde mental foi realizada pela equipe uma autoavaliação com o instrumento avaliativo do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ/AB). O instrumento é composto de ações e atividades desenvolvidas no âmbito da saúde, para cuidar da população no ambiente em que vivem. Na reunião feita com equipe, levou-se em consideração, alguns fatores importantes para o enfrentamento da situação problema, como são: a urgência e a capacidade de enfrentamento ao problema. Também foi identificado na equipe os atores envolvidos nesse processo para as possíveis soluções, como a própria equipe de saúde, o NASF-AB, o CAPS e a comunidade que demanda este serviço.
Durante o desenvolvimento das microintervenções, as redes de apoio passaram a ocupar um lugar, junto a Estratégia de Saúde da Família (ESF), uma perspectiva de ampliar sua clínica, realizar projetos terapêuticos por meio de discussões e trocas de saberes multiprofissionais, de forma a facilitar a vinculação e responsabilização, evitando a lógica dos encaminhamentos desnecessários.
Como resultado da microintervenção, criamos duas planilhas como instrumentos de monitorização, uma delas já foi feita na primeira intervenção no início do ano (apêndice 1), e a segunda foi desenvolvida durante a realização desta, (apêndice 2 – Registro dos usuários que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas). Essas ferramentas criadas permitem o melhor acompanhamento dos usuários de saúde mental. Isto permitirá estabelecer ações mais específicas com este grupo terapêutico de usuários.
Para a resolutividade deste problema de saúde, temos que reconhecer que se faz necessário uma fusão entre as redes de apoio matricial e a UBS. O êxito desta fusão vai depender da comunicação entre estes serviços e o estabelecimento das referências e contra referências, que as vezes se comporta como uma fragilidade, já que o matricialmente feito conclui com a avaliação do Psiquiatra do CAPS, e devido que temos somente um na região o acompanhamento fica inconcluso, e ai voltamos a uma cadeia inquebrantável: ´´o uso de psicotrópico de forma crônica até serem avaliados pelo Psiquiatra´´. debilidade está muito sentida pela população.
Com a inserção das ações de saúde mental, a UBS tem funcionado como porta de entrada para os agravos em saúde mental, na medida em que os usuários são acolhidos de forma humanizada, criando estratégias para atendê-los, seja por meio de recurso comunitário, grupo terapêutico, avaliação clínica, visita domiciliar ou encaminhando, quando realmente se faz necessário, para a rede de atenção disponível no município.
Para construir uma linha de cuidado em saúde mental, a equipe escolheu uma usuária que foi identificada no acolhimento à demanda espontânea pela Agente Comunitária de Saúde (ACS). Trata-se de uma mulher de 36 anos de idade, mora com seu esposo, um filho de 5 anos, e a mãe. Tem uma história obstétrica (Gesta 2, parto 1, aborto espontâneo 1). Ela é evangélica há muitos anos e professora da escola dominical das crianças. Recentemente tinha informado ao ACS que não menstruava há 4 meses e que em breve estaria fazendo exames e indo para minha consulta para mostrá-los. Ela relatou que Deus tinha lhe revelado que teria o filho da promessa. Aliás informou que seriam dois, motivo pelo qual o ACS solicitou a família o comparecimento na UBS. Uma vez que compareceram na consulta já tinha feito os exames (beta HCG negativo e ultrassom transvaginal negativo para saco gestacional), mas ela não aceitou os resultados. A mesma apresentou sintomas de gravidez, e referia contrações uterinas, até mesmo solicitou para mim fazer o parto dela, e ficava falando versículos bíblicos sobre a vinda do filho da promessa. A mesma estava sem juízo crítico da realidade.
Após ser identificada no acolhimento foi solicitada a avaliação pela equipe de matriciamento do NASF-AB, a qual após a primeira entrevista decidiu encaminhá-la para o CAPS. As entrevistas aconteceram na moradia dela, propiciando assim, a participação dos familiares e a equipe de matriciamento junto à equipe de trabalho da UBS. Além disso, permitiu a aproximação da equipe de matriciamento com a realidade do território e sua contextualização, o que contribuiu para a descrição e discussão do caso. Foram entrevistadas duas pessoas (mãe e esposo dela) do núcleo da família que moram na mesma casa. Importante enfatizar que a minha área de abrangência é de alta vulnerabilidade social, que conta com suporte matricial da equipe NASF.
Após umas semanas de uso de psicotrópicos, e várias práticas integrativas junto à família (apoio emocional, deveres de casa compartilhado e entrevistas semanais com o médico da área), a usuária conseguiu melhorar o quadro psicótico. Como expressei antes percebemos que o cotidiano dessa prática se encontra em construção na rede, que gera algumas dificuldades de entendimento da proposta de trabalho, tanto por parte da equipe da UBS quanto por parte da própria equipe de saúde mental. Um equívoco frequente é o de tentar encaminhar os usuários seguindo a lógica ambulatorial de especialidades. As dificuldades enfrentadas não inviabilizam o trabalho, pelo contrário, creio que estas microintervenções devem ser expandidas para todas as UBS, pois assim reduziremos o fluxo de encaminhamentos desnecessários, trabalharemos com a responsabilidade compartilhada dos casos e aumentaremos a capacidade resolutiva das UBS.
Nós devemos entender a atenção básica como um espaço privilegiado que deve ser aproveitado para a promoção da saúde e prevenção de transtornos mentais. Isto seria uma grande potencialidade nas nossas equipes. Compreendemos também o desafio de atuar de forma mais proativa na saúde mental e contamos com um CAPS e um NASF-AB como apoio matricial importante para o trabalho, constituídos por profissionais qualificados (psicóloga, assistente social, enfermeira especialista em saúde mental, nutricionista, educador físico e farmacêutico). Sendo assim, espero que esta reflexão exposta neste relato de experiência possa criar no profissional da atenção básica possa contribuir para que o profissional para se colocar disponível como ouvinte e cuidador, no momento que estiver diante de um usuário com algum tipo de sofrimento psíquico.
Ficha de Usuários de Psicotrópicos
UBS # 8
Maria Adeli Dos Santos.
No. |
Nome e Sobrenome |
Idade |
Sexo |
Microárea |
Medicamento |
Doses |
Observações |
01 |
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02 |
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Apêndice # 2
REGISTRO DOS USUÁRIOS DE DROGAS (ÁLCOOL, CRACK E OUTRAS)
No |
Nome |
Idade |
Nascimento |
Uso de Drogas |
Acompanhameto pelo CAPS |
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Álcool |
Crack |
Outras |
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1 |
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25 |
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