CAPÍTULO IV: ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE – UM NOVO OLHAR.
ORIENTANDO: WELLINGTON DA SILVA BESSA
ORIENTADOR: TULIO FELIPE VIEIRA
COLABORADORES: ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF DOS DOURADOS, NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF DE SÃO MIGUEL DO GOSTOSO/RN.
A atual situação da saúde mental no Brasil é reflexo dos intensos movimentos antimanicomiais que surgiram, juntamente com a reforma sanitária, na década de 80. Viu-se que o modelo hospitalocêntrico e centrado no controle da doença não produzia bons resultados referentes à reintegração do paciente a sociedade, até pouco tempo, marginalizado em função de seu quadro mórbido. Os ideais propostos pela reforma psiquiátrica, reforçados pela Lei nº 10.216, vieram afirmar os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, redirecionando o modelo assistencial em saúde mental para os atuais, cujo maior objetivo é a reintegração do sujeito ao pleno convívio familiar e com a sociedade. Baseado nos preceitos dessa nova política de saúde mental, a atenção básica cumpre importante função na construção da rede de atenção psicossocial – RAP, pois é a atenção primária que se encontra mais próxima dos usuários, sendo porta de entrada, formadora de vínculo e coordenadora do cuidado. Diante disso, as unidades básicas e suas equipes devem apresentar-se capacitadas para garantir o acolhimento e assistência desse público.
Ainda que novos olhares tenham se expandido sobre os portadores de transtornos mentais e usuários de drogas, com relação à abordagem e condutas, ainda existem muitos desafios na execução de todo o processo. Seja pelo preparo acadêmico imaturo, medo ou preconceito, muitos serviços acabam negligenciando o atendimento dessas pessoas, fazendo com que a evolução do quadro não siga todo o potencial disponível. Por isso, a discussão sobre temas pertinentes, articulados com os serviços de apoio disponíveis, relatos de experiências dos usuários e suas famílias tornam-se ferramentas úteis na construção de conhecimentos e melhorias na capacidade dos profissionais em ofertar novos recursos. Baseado nisso, esta microintervenção objetiva alcançar, em colaboração com a ESF e NASF, melhorias na oferta de cuidados aos clientes com transtornos mentais e usuários de drogas.
Inicialmente, estabeleceu-se um momento de encontro entre a equipe da ESF e o NASF para dialogar sobre o assunto, oportunamente marcado para o dia do matriciamento.
Nesse hiato, foi confeccionada uma ficha espelho, que servirá de instrumento de apoio para todos os usuários vinculados à saúde mental, nela constam informarções relevantes para acompanhamento, mudança de condutas e comunicação entre o usuário e as diversas formas de cuidado da RAP, tendo como referência os itens apontados pelo Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção – PMAQ.
Chegado o dia do encontro, onde participaram os profissionais da atenção básica e NASF, dialogou-se sobre o contexto histórico da saúde mental e suas deficiências, as reformas propostas e o modelo atual. Reforçaram-se as características positivas da proposta biopsicossocial, advindas com a reforma sanitário-psiquiátrica e demonstrou-se, em data show, a ficha espelho, a qual foi modificada em alguns pontos após o olhar crítico dos profissionais, tendo como modelo final a exposta em fórum coletivo.
Terminado esse momento, ficou claro que a rede de atenção à saúde mental de São Miguel do Gostoso conta apenas com as unidade básicas de saúde e NASF modalidade II. Não há suporte municipal em Centro de Apoio Psicossocial – CAPS, o mais próximo se encontra no município vizinho, mas não suporta a demanda de outras cidades. Além disso, não há serviços residenciais terapêuticos – SRT, Centros de Convivência – Cecos, ou enfermarias para os quadros de excesso de sintomas. Os casos mais complicados e que exijam outras formas de cuidado são oferecidos sobre a forma de referenciamento a ambulatórios especializados.
Em decorrência dessa realidade, evidenciam-se fragilidades e limitações quando se trata da oferta de serviços de apoio à atenção básica em saúde mental, agravado pela demanda substancial de usuários nesse perfil, de forma que muitas pessoas têm de aguardar longo intervalo de tempo para o acesso a outros serviços que não a porta de entrada, pois o NASF, assim como os demais setores, se encontra sobrecarregado. Além dessas deficiências, dificilmente há contra-referências, o que dificulta a garantia da integralidade e coordenação do cuidado. Entretanto, psicólogo, assistente social e demais profissionais de apoio à saúde da família se mostram solicitos e preocupados com os interesses dos usuários, assim como, participativos e atuantes na elaboração de ideias que venham a promover melhorias na assistência à saúde.
É inegável a necessidade de melhorias na atenção e assistência aos transtornos mentais e dependência química. É uma evidência palpável em todo o Brasil, sobretudo nas comunidades mais carentes, as quais estão mais susceptíveis a instabilidades emocionais decorrentes de motivos financeiros, educacionais, violentos e outros quaisquer. O município de São Miguel do Gostoso exemplifica bem esse quadro social, sendo por isso, merecedor de intervenções factíveis a realidade local.
Ponto(s)