TÍTULO: ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
ESPECIALIZANDO: WALLÉRIO AMÉRICO ALVES DOS SANTOS
ORIENTADOR: TÚLIO FELIPE VIEIRA DE MELO
A saúde mental e o bem-estar sustentam diretamente os valores humanos e sociais fundamentais na independência de um ser. Com base nisso, a promoção, proteção e restauração da saúde mental podem ser consideradas como uma preocupação vital de indivíduos, comunidades e sociedades em todo o mundo1.
A prevalência estimada de comportamento e transtornos mentais é de 8,6% na população mundial, correspondendo a cerca de 650 milhões de pessoas, sendo a Atenção Primária à Saúde (APS) responsável pela maior parte do cuidado a estes usuários1. Segundo análise do Fórum Econômico Mundial, o impacto econômico global referente aos transtornos mentais será de US$ 16 trilhões nos próximos 20 anos2.
A introdução de novos psicofármacos e o aumento da frequência de diagnósticos de transtornos psiquiátricos na população são colocados como principais fatores para o aumento da utilização de psicofármacos nas últimas décadas em vários países3.Em consequência disso, vários países e a Organização Mundial de Saúde (OMS), iniciaram diversas discussões sobre o uso racional e segurança dos psicofármacos, visando combater o uso abusivo desta classe de medicamentos.
O uso racional de psicotrópicos deixou de ser uma preocupação inerente apenas do especialista psiquiatra, passando a ser vista, de uma forma mais ampla e complexa, como um problema global de saúde pública, incluindo também a participação ativa dos médicos da Atenção Básica6.
A atenção básica é caracterizada por um conjunto de ações, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde5. O medicamento está inserido em todas essas ações, o que lhe confere o aspecto de insumo essencial. Nesse sentido, a promoção do uso racional de psicofármacos deve ser priorizada em todos os sistemas de saúde no mundo7.
Estudos mostram que é preciso incentivar a APS a investigar o perfil do uso de psicofármacos em cada localidade e, a partir desta análise, realizar intervenções na comunidade, visando a promoção da segurança farmacológica e a estimulação do uso racional de medicamentos psicotrópicos (referência).
Nesse contexto, visando realizar um levantamento sobre o perfil do uso de psicofármacos em todo território adscrito no município de Lagoa de Velhos, foi criado um formulário para cadastro e acompanhamento clínico do usuário (Apêndice I). O formulário foi dividido em três partes: incialmente são solicitados os dados pessoais e medicamentos em uso; logo após, foi reservado um espaço destinado ao acompanhamento clínico, seguido pela terceira parte, reservada para acompanhamento específico do uso de benzodiazepínicos, visto a necessidade do acompanhamento especial dessa classe de psicofármacos.
Após dois meses de levantamento de dados, foi verificado que o município de Lagoa de Velhos possui 179 usuários de psicotrópicos, o que corresponde, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)XXX, a 6,5% da população local. Em uma abordagem quantitativa quanto a distribuição da população, 67% dos usuários encontram-se na zona urbana e 33% na zona rural. Dentre os usuários, a utilização de psicotrópicos é predominante no sexo feminino (63%) e maior observada em adultos entre 30 e 59 anos (52%) (Tabela 1).
Tabela 1. Prevalência etária do uso de psicotrópicos no Município de Lagoa de velhos.
Faixa etária |
Prevalência (%) |
Até 18 anos |
3% |
19 a 29 anos |
11% |
30 a 59 anos |
52% |
Maiores que 59 anos |
33% |
Fonte: autoria própria.
Foi realizado um levantamento sobre as classes farmacológicas desses psicofármacos e foi verificado que 46% dos usuários de psicofármacos, fazem uso de antidepressivos, 37% usam benzodiazepínicos, 27% anticonvulsivantes, 14% psicotrópicos, 4% hipnóticos e 1% as demais classes terapêuticas.
Devido à alta prevalência do uso de benzodiazepínicos e aos efeitos colaterais atribuídos a essa classe, uma atenção especial foi destinada a essa classe de medicamentos. Apesar de considerada efetiva, efeitos colaterais importantes devem ser considerados na prescrição. A redução significativa da capacidade de memorização de novas informações atrelado ao uso prolongado dessa classe pode interferir nos processos cognitivos, dificultando à concentração, capacidade de resolver problemas, deduzir informações e relacionar ideias8.
O município de Lagoa de velhos possui 69 usuários de benzodiazepínicos, sendo o clonazepam o mais prescrito com 57% de todas as prescrições dessa classe. Outros benzodiazepínicos também foram prescritos, tais como: Diazepam (16%), alprazolam e clordiazepóxido (10% cada), bromazepam (4%) e cloxazolam (3%).
Após conhecer o perfil do uso de psicofármacos, a nossa equipe tem como objetivo realizar um acompanhamento clínico de qualidade desses pacientes, promovendo a redução do uso indiscriminado de psicofármacos na nossa população adscrita.
Portanto, a partir do levantamento quanto ao perfil dos usuários de psicofármacos, a equipe da APS pode planejar e promover ação relativas ao combate do uso indiscriminado dessa classe de medicamentos, visando um uso racional e a redução de seus efeitos colaterais.
1- World Health Organization (WHO). Investing in mental health. Geneva: WHO; 2003.
2- Bloom DE et al. The global economic burden of noncommunicable diseases. Geneva, World Economic Forum, 2011.
3- Rodrigues MAP, Facchini LA, Lima MS. Modificações nos padrões de consumo de psicofármacos em localidade do Sul do Brasil. Rev Saude Publica 2006; 40(1):107-114
4- Management sciences for health (MSH). Manging Drug Supply. 2nd Edition. Connecticut: Kumarian Press; 1997.
5- Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
6- Moura DCN, Pinto JR, Martins P, Pedrosa KA, Carneiro MGD. Uso abusivo de psicotrópicos pela demanda da Estratégia Saúde da Família: revisão integrativa da literatura. Sanare (Sobral, Online) [serial on the internet].
7- Aquino DS. Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Ciênc. Saúde Coletiva 2008; 13(Sup):733-36
Ponto(s)