24 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

RELATO DE EXPERIÊNCIA

 

TÍTULO: SAÚDE MENTAL NA UBS ELMIR BORGES (SE)

ESPECIALIZANDO: THIAGO PILOTO DE ANDRADE

ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO

 

As mudanças propostas no cuidado em saúde mental, com raízes na reforma psiquiátrica, passaram pelo combate à abordagem simplista e patologizante de atenção ao paciente com transtorno mental. Passaram também pela busca da descentralização, com o intuito de compartilhar as responsabilidades do cuidado com a família e a comunidade do indivíduo, visando dar-lhe mais autonomia e fortalecer sua cidadania (BRASIL, 2005; SILVA, 2009). A rede local de atenção à saúde mental, através de seus diversos setores, possui papel fundamental nesse processo. Como exemplo, temos o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), unidade de saúde responsável por ofertar atendimentos intermediários da Saúde Mental.

A microintervenção em Saúde Mental se dividiu em duas etapas práticas e uma última reflexiva de todo o processo. Foi relatada a experiência da criação de um instrumento de registro de dados dos pacientes com transtorno mental em uso de medicação, à nível de atenção básica, bem como a experiência de visitar uma das unidades do sistema e conhecer a rede local e fluxos de serviços intermediários da Saúde Mental.

O instrumento de avaliação construído buscou dados dos pacientes da Unidade Básica de Saúde Elmir Borges. Em conversa com os agentes comunitários de saúde (ACS), expomos a ideia de quantificar, discriminando por microárea de cada ACS, os pacientes com necessidades de cuidados em Saúde Mental. Abordamos na tabela diversas variáveis, tais como: sexo, uso de benzodiazepínicos, antipsicóticos, antidepressivos, polifarmácia, casos graves, pacientes em acompanhamento especializado. Preferimos inicialmente construir uma ficha espelho com análise quantitativa geral, para posteriormente e aos poucos, construirmos uma ficha com a lista de todos os pacientes de Saúde Mental, abordando as mesmas variáveis, a fim de saber qual indivíduo especificamente se insere em cada uma. Esta última servirá para melhor controle, inclusive para frequência de atendimento e necessidade de busca ativa.

Na segunda etapa da atividade, parte da nossa equipe da atenção básica visitou o CAPS do município, onde conhecemos alguns integrantes da equipe de saúde mental e coletou informações. Em relação às suas unidades na nossa região de saúde, a Saúde Mental possui um CAPS I, o centro de especialidades, o Hospital Regional e os Hospitais para internação, localizados na capital. O centro de especialidade recebe os casos considerados mais leves e dispõe dos medicamentos para estes na farmácia básica do município. Já o CAPS, recebe os casos considerados mais graves e dispõe de medicamentos psicotrópicos para seus pacientes (os cadastrados). Ambos possuem psiquiatra e psicólogo.

O CAPS I foi o que visitamos, chamado Irmã Augustinha e se constitui o único do município, que acaba atendendo todos os tipos de transtornos, inclusive pediátricos e álcool e drogas. Como norma do serviço, todo paciente pediátrico com suspeita de transtorno mental necessita passar pelo pediatra geral (no centro de especialidades) antes de ser atendido pela psiquiatria, pois lá não há um psiquiatra infantil. Para o atendimento de surtos, o Hospital Regional oferece o serviço, dispondo de ansiolíticos injetáveis para contenção química. Em casos graves com indicação de internação em centros psiquiátricos, a assistência social juntamente com a equipe do CAPS e o serviço jurídico tomam os encaminhamentos necessários para o paciente ser recebido nos Hospitais da Capital.

No tocante aos resultados da microintervenção, criar um instrumento de avaliação, além de ser uma exigência do PMAQ, trouxe diversos aprendizados à equipe. Ao realizar a quantificação, apesar de ser um processo trabalhoso, a equipe constatou como é grande o número de pacientes que se tornaram dependentes de psicotrópicos, bem como o desafio em mudar esse quadro, a fim de reduzir a medicalização desnecessária. Pois isso, além dos possíveis danos ao paciente, resulta em oneração desnecessária do sistema de Saúde.

Em relação à visita ao CAPS, esta se mostrou muito importante para ambas as equipes (CAPS e Atenção Básica) diante da troca de experiências ocorrida. Foi possível colher informações fundamentais para referenciar corretamente os pacientes, evitando desgastes, pelos mesmos e familiares, com o sistema. A enfermeira da equipe do CAPS relatou algumas dificuldades encontradas em relação à referência e contra referência, informando que muitas vezes faltam informações do acompanhamento de doenças básicas que o paciente possui (HAS, DM) por parte da Atenção Básica, comprometendo o serviço. Informou também a confusão por parte de alguns profissionais na hora de encaminhar pacientes com surto, que por não conhecerem o fluxo de encaminhamentos, às vezes os direciona para o CAPS em vez de para o Hospital Regional e assim serem estabilizados.

 

Referências

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental no SUS. Informativo da Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde, v.4. n.21, 2005.

 SILVA, M. B. B. Reforma, responsabilidades e redes: sobre o cuidado em saúde mental. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.14, n.1, p.149-158, Feb. 2009.

  

Figura 1. Planilha Espelho. Quantitativo de pacientes da saúde mental por microárea.

Figura 2. Encontro de equipes da Atenção Básica e CAPS.Figura 3. Fachada CAPS I Irm’a Augustinha, do município de Propriá.

 

 

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