RELATO DE EXPERIÊNCIA
TÍTULO: MELHORIAS NA ATENÇÃO AOS USUARIOS COM SAÚDE MENTAL NA UBS GETÚLIO SAVIO SOBRAL, EM ITAPORANGA D´AJUDA (SE)
ESPECIALIZANDO: ROSA MARLIE JARROSAY FROMETA
ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO
Os transtornos mentais constituem um grave problema de saúde mental a nível mundial e afetam pessoas de todas as idades, culturas e nível socioeconômico. A atenção básica tem potencial para desenvolver dois principais tipos de ações de saúde mental: o primeiro, consiste em detectar as queixas relativas ao sofrimento psíquico e prover uma escuta qualificada deste tipo de problemática; o segundo, compreende as várias formas de lidar com os problemas detectados, oferecendo tratamento na própria atenção básica ou encaminhando os pacientes para serviços especializados (BRASIL, 2013).
Em nossa UBS temos muitos casos de usuários com sofrimentos e transtornos mentais, todos eles estão registrados em uma folha-espelho (em anexo). Eles são avaliados com frequência e, dependendo de suas demandas, os casos mais graves são discutidos na reunião mensal da equipe, com apoio do NASF. Então, quando necessárias, são realizadas visitas domiciliares e os casos não resolvidos são encaminhados para o CAPS.
Neste município existe apenas um CAPS, que está composto por psiquiatra, psicólogo, clínico geral, enfermeira (um de cada), com horário de trabalho das 8:00 às 17:00 horas, de segunda feira a quinta feira. Geralmente funciona como porta aberta mais atende aquelas pessoas que são encaminhadas por um profissional de saúde. Nesse centro tem usuários que ficam o dia todo tendo alimentação assegurada, outros só são acompanhados uma vês por semana dependendo da gravidade de cada caso.
Nossa equipe trabalha muito com os usuários com o objetivo de manter o controle deles com o menor consumo de medicações possível, já que quase todos os usuários com saúde mental consumem dois ou, mas remédios controlados mais de uma vez ao dia por tempo indeterminado, incluindo as crianças. Sendo uma de nossas maiores preocupações, motivo pôr o qual nossa equipe proporciona a isto usuários um momento para pensar, refletir, boa comunicação, escutamos o que eles precisam dizer, acolhemos o usuário e suas queixas emocionais.
Anexo: Folha-espelho de Saúde Mental, Equipe de Saúde nº 10, UBS Getúlio Sávio Sobral, Município Itaporanga D´ Ajuda. Sergipe.
NOME/ SOBRENOME |
IDADE |
ENDEREÇO |
Nº DO CARTÃO SUS |
MEDICAMENTO (MG) |
QUANTIDADE |
CID |
OBSERVAÇÕES |
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Nas reuniões da equipe discutimos ações relacionadas à saúde mental, principalmente nos ciclos de vida da infância e da adolescência. Fazemos visita domiciliáriaao doente mental e seus familiares, realizando atividades de acompanhamento no uso adequado da medicação do doente, requisição de receitas de psicotrópicos, esclarecemos dúvidas dos familiares sobre a doença mental e orientações para o manejo de comportamentos do familiar com sofrimento mental, com o objetivo de melhorar o convívio entre os familiares e incluir a família no apoio ao tratamento e, sobretudo, estreitar o vínculo. A visita domiciliar, sobretudo, possibilita conhecer a realidade do portador de transtorno mental e sua família.
Em nossa área temos um caso em particular de saúde mental de um usuário de 29 anos de idade com antecedente de equizofrenia. Quando o conheci, pela primeira vez, tinha tratamento com carbamazepina, clonazepam e amitiptilina há dez anos, sua mãe referiu que ele não melhora com essas medicações e que é muito difícil conseguir agendar uma consulta com um Psiquiatra. Ele já estava em terapia no CAPS, entretanto desistiram por falta de recursos, inclusive relatando que o usuário passava o dia todo ocioso, sem atividades e que estava ficando mais ansioso.
A situação estava piorando pelo fato de haver um consumo de drogas associado e que o paciente estava ficando muito agressivo até mesmo com seus familiares (mãe e filha de cinco anos), chegando até a fazer uma cirurgia, um ano atrás, em função de agressão sofrida por arma branca, em consequência ao seu envolvimento com as drogas, onde permaneceu com sequelas, tendo atingido o rim direito e ficando, inclusive, cadeirante. Depois do incidente ele fico pior e abandonou o tratamento ao ponto que seu mãe o deixou morando sozinho. Quando a ACS falou sobre esse caso, progamamos imediatamente uma visita domiciliar, com a participação de seu mãe, e encaminhamos o caso para a equipe do NASF para a devida avaliação, onde traçamos uma estratega para a melhora do usuário:
l Atendimentos em domicílio onde ofertamos terapia de apoio, tanto ao usuário como a família, duas vezes ao mês;
l Supervisão e apoio matricial de profissionais do NASF, (Psicologo, e Psiquiatra) mensal;
l Cuidado compartilhado com os pontos de atenção secundária, como os CAPS.
Nestes momentos ele está tomando a medicação certa e controlando-se apenas com a carbamazepina, não se comportando com agressividade, entretanto ainda esta consumindo droga, em menor quantidade, segundo refere sua mãe. Já foi combinado pela equipe do NASF o internamento dele em outro município com o objetivo de tratar a dependência química.
Primeiramente, fiquei me perguntando se os serviços de atenção à saúde mental, como os CAPS, estão preparados para oferecer os cuidados necessários às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, considerando que o tema saúde mental envolve uma gama de saberes e práticas de cuidado, uma vez que deve levar em conta a subjetividade da pessoa que busca atendimento nessas instituições. Essa questão está diretamente ligada à atuação dos profissionais da área de saúde mental, bem como à condução da Política de Saúde Mental por parte dos gestores e também de todos os atores envolvidos nesse processo, incluindo os próprios usuários e familiares.
Um dos motivos mais significativos que me levaram a refletir sobre o tema são as queixas dos usuários e seus familiares sobre os atendimentos nos Centro de Atenção Psicossocial, além da espera para conseguir uma consulta, que demora meses, e geralmente os usuários não são bem atendidos pela equipe de acolhimento. Temos como dificuldade o fato de que o psiquiatra trabalha uma vez na semana, enquanto que o acolhimento acontece todos os dias são acolhidos, pelo o resto da equipe. Esse mesmo psiquiatra faz atendimento ambulatorial uma vez na semana para o resto da população em outro centro de saúde . Esse centro de atenção não tem os recursos suficientes, tanto humanos como materiais para propiciar um atendimento adequado aos usuários que requerem de especial atenção, tendo como consequência o abandono das terapias e as consultas.
O que me proponho é realizar uma reflexão a respeito do que hoje se entende por cuidado e o que realmente se aplica no cotidiano dos serviços prestados aos portadores de sofrimento psíquico. As fragilidades que temos em nosso município é que temos apenas uma equipe do NASF, composta de uma psiquiatra e uma psicóloga, para treze equipes de saúde, o qual dificulta o atendimento imediato dos casos, bem como a contra referência depois do primeiro atendimento deles.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
Ponto(s)