RELATO DE EXPERIÊNCIA
TÍTULO: ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
ESPECIALIZANDO: RAUL ENRIQUE GARCIA BAUZA
ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO
A Atenção Primária à Saúde é reconhecida mundialmente como a responsável pela solução dos principais problemas de saúde da comunidade, inclusive em relação à saúde mental. Este relato de experiência irá abordar a organização da rede de saúde de saúde mental na UBS Jader Pereira de Farias, do povoado Brejão, do Estado de Sergipe.
Estima-se que 15% das pessoas sofrerão de um distúrbio psicopatológico ao longo da vida (excluindo o uso de substâncias), sendo, na maioria dos casos, processos a longo prazo (VIDAL et al, 2013). E a nossa cidade não é a exceção. O objetivo fundamental da experencia está em lutar pela melhoria do atendimento, por parte da equipe, aos usuários que sofrem das doenças mentais.
A Atenção Primária à Saúde pode desempenhar um papel importante no novo conceito de abordagem deste problema, considerado pelo Ministério da Saúde como uma prioridade de saúde, econômica e social. A prevenção e a abordagem precoce são desafios necessários em que o primeiro nível de atenção possa desempenhar um papel fundamental. Da mesma forma, a corresponsabilização dos profissionais da saúde mental e da atenção primária no acompanhamento desses pacientes permitirá seu tratamento em contextos mais integrados na família e na comunidade, identificando as debilidades e fortalezas do programa em nossa equipe. A prevalência de transtornos mentais diagnosticados na APS, chega a um terço da demanda, incluindo o sofrimento difuso com sintomas psiquiátricos subsindrômicos. Os transtornos mentais são mais frequentes e mais prevalentes no sexo feminino, entre indivíduos com baixa escolaridade, baixa renda, tabagistas e mulheres vítimas de violência (VIDAL et al, 2013).
Há evidências suficientes para afirmar que há muito que pode ser oferecido por esses grupos de pessoas em risco para prevenir futuros transtornos mentais. A experiência clínica e a pesquisa mostra que a intervenção precoce em certos casos, não apenas dos profissionais de saúde, mas também de recursos de assistência social e/ou institucional e comunitária, pode prevenir graves transtornos psicossociais no futuro, às vezes irreparáveis.
No povoado Brejão nossa equipe brinda serviços de saúde a um total de 2076 usuários. A UBS possui o registro dos usuários em uso crônico de benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos e estabilizadores do humor com um registro de 104 usuários dependentes de esse grupo de medicamentos, o que representa o 5,0% do total dos usuários e um alto grau do uso indiscriminado de medicamentos psicotrópicos. No Brasil, esse alerta foi reforçado por estudos que mostraram uma grave realidade relacionada ao uso de benzodiazepínicos. (WANDERLEY et al, 2013).
No registro dos usuários consumidores de álcool e outras drogas temos um total de 21 alcoólistas, e de 38 usuários que usam outras drogas, deles, temos três que ingressaram para desintoxicação. Certamente é uma realidade, e temos conhecimento que existe um sub registro tendo em conta as características dessas doenças e do impacto biopsicossocial do uso de substâncias onde nem todos os usuários reconhecem o uso, nem para eles, nem para nós.
Os usuários com doenças mentais já são identificados pela família ou amigos, pelos agentes comunitários de saúde e pelos profissionais da UBS durante as consultas. Sendo de especial importância o acompanhamento aos pacientes pertencentes aos seguintes grupos:
Infância-adolescência: Cuidar de mulheres e crianças durante a gravidez e o puerpério; Gravidez na adolescência; Filhos de famílias monoparentais; História de patologia psiquiátrica em pais; Atraso escolar/distúrbios no desenvolvimento da linguagem; Prevenção do abuso infantil; Detecção precoce de distúrbios alimentares.
Adultos-idosos: Perda de funções psicofísicas; Atendimento ao paciente e à família; Cuidar do paciente terminal e sua família; Perda de um parente; Aposentadoria; Mudanças frequentes de endereço nos idosos; Violência doméstica Violência no casal; Mau tratamento dos idosos.
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de referência de nosso município está localizado no município de Pacatuba, onde são atendidos os usuários dos municípios vizinhos. Nesse CAPS se oferece atendimento diário de adultos com transtornos mentais severos e persistentes, o que o classifica como sendo do tipo II. O CAPS realiza encontros matriciais onde debatemos os casos novos e os mais preocupantes, também aproveitamos os encontros para incrementar o treinamento e os conhecimentos dos professionais da UBS.
Também as equipes se reúnem para discutir a política da atenção da saúde mental, a forma do agendamento das consultas, tendo em conta a particularidade de cada um dos usuários, a necessidade de diminuir mais o tempo de espera para o primeiro atendimento de pessoas em sofrimento psíquico na UBS e a urgência de realizar ações para o acompanhamento dos usuários com uso crônico de medicamentos.
Na Etapa I da intervenção a equipe melhorou o instrumento para registrar as informações do programa tendo em conta a necessidade do que o instrumento fosse simples e mesmo assim tivesse a capacidade de documentar as relações com os pacientes. Sendo assim, o instrumento foi mostrado à equipe e foi avaliado por todos. Depois da discussão foram confeccionadas a Ficha do Registro dos usuários consumidores de álcool e outras drogas e a Ficha do Registro dos usuários consumidores de psicotrópicos.
Foi discutida a necessidade do treinamento continuo dos profissionais e o conhecimento especifico sobre o assunto para garantir a integralidade do atendimento. É importante atuar como terapeutas e gestores da atenção dos pacientes referenciando aos serviços especializados além da humanização no atendimento do sofrimento humano.
O problema do uso e abuso de medicamentos também foi reconsiderado, assim como o aumento da dependência, pelo que se faz urgente implementar ações de saúde nas pessoas que fazem uso crônico dos medicamentos, assim como com as famílias, sobre as consequências para a saúde. a equipe aproveitará a oportunidade de que as consultas desses usuários são agendadas em grupo, para fazer uma discussão sobre o uso racional desses medicamentos.
Na ocasião também foram discutidos o aumento de casos de intentos suicidas no interval de um ano, quando comparando com o ano anterior, assim, saímos da micro intervenção com uma estratégia para aplicar em grupos de risco, assim como com os familiares dos usuários que já são identificados como risco suicida, com o apoio dos especialistas do CAPS.
Depois de muito discutir identificamos as maiores dificuldades do programa da atenção na saúde mental na UBS. A maior de todas que não depende do nosso trabalho, sendo o fato de que não temos ainda um NASF. Outra dificuldade diz respeito às características dos usuários que apresentam este tipo de doenças, porque é difícil a aproximação até eles, sobretudo aos usuários de drogas, inclusive para atualização do registro deles no instrumento.
A potencialidade do programa na nossa equipe é o apoio e os encontros matriciais com o CAPS, assim como o interesse da equipe e dos gestores no melhoramento do programa. Outra das potencialidades foi que, com o caso apresentado na etapa II da intervenção, se demostrou a preparação da equipe para a resposta rápida e a atenção integral, além de que ainda precisamos melhorar muito vamos a continuar o treinamento com mais casos problemas, já que a equipe mostrou um melhor desenvolvimento com essa dinâmica.
REFERÊNCIAS
VIDAL, C. E. L. et al . Transtornos mentais comuns e uso de psicofármacos em mulheres. Cad. saúde colet., Rio de Janeiro, v.21, n.4, p.457-464, 2013.
WANDERLEY, T. C.; CAVALCANTI, A. L.; SANTOS, S. Práticas de Saúde na atenção primária e uso de psicotrópicos: uma revisão sistemática da literatura. Rev. Ciênc. Méd. Biol., Salvador, v.12, n.1, p.121-126, 2013.
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