8 de agosto de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

NO POUCO, TEMOS MUITO

 

ESPECIALIZANDO: RANIEL XAVIER DA CUNHA BEZERRA

ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS

 

          Em julho de 2018, na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Igapó, o tema central de discussão foi a atenção à saúde mental. Durante esse mês, pudemos refletir sobre a forma como estávamos manejando nossos pacientes que apresentavam queixas psiquiátricas ou que faziam uso de psicotrópicos. Essa temática tem uma importância fundamental no nosso cotidiano visto que boa parte da demanda que atendemos diariamente envolve a saúde mental.

          Na primeira etapa da nossa microintervenção, nos reunirmos para discutir sobre os pontos que são avaliados na entrevista de avaliação externa do Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção (PMAQ) e chegamos a algumas conclusões. Inicialmente percebemos que não possuímos um registro dos usuários em uso crônico de benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, estabilizadores de humor e ansiolíticos de um modo geral. Baseado nisso montamos uma ficha para fazer esse registro (Figura 1).

 

Figura 1. Ficha de registro de usuários em uso de psicotrópicos da UBS de Igapó.

 

         Além disso, não temos o registro do número dos casos mais graves de usuários em sofrimento psíquico e nem dos usuários com necessidade decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Outro ponto em que falhamos é na falta de ações para pessoas que fazem uso crônico de psicotrópicos para acompanhamento e avaliação dos casos e diminuição das doses quando indicado.

         Contudo, geralmente os usuários em sofrimento psíquicos são atendidos no dia em que solicitam, de modo que o tempo de espera para o primeiro atendimento dessas pessoas é muito curto. Os agendamentos são feitos conforme a demanda do paciente e mensalmente ou bimestralmente para renovação de receitas.

        Passada essa primeira etapa, procuramos entender como está organizada a rede de pessoas e de serviços de saúde mental no nosso território. Chegou-se à conclusão de que dispomos, como apoio matricial, apenas do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) Norte II. Em conversa com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), pudemos constatar a ausência de pacientes atendidos na nossa área pelo CAPS AD e a principal hipótese levantada pelos próprios ACS foi a de que os pacientes se sentiam envergonhados de sua condição de dependentes químicos e que, portanto, não revelavam que eram tratados no CAPS AD.

        Apesar da ausência de casos, fomos conhecer o CAPS AD Norte II. O serviço nos foi apresentado pelo enfermeiro. A unidade conta com um atendimento de demanda aberta ou por encaminhamento, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, com atendimento ao público adulto a partir dos 18 anos de idade e que possuem problemas do uso de álcool e outras drogas, residentes na zona norte de Natal. Entretanto, caso a unidade de saúde solicite, esse serviço também atende pacientes com quadros graves de doenças psiquiátricas, podendo fazer, inclusive, visita domiciliar. As crianças e adolescentes que moram na zona norte de Natal com sofrimento psíquico são encaminhadas ao CAPS Oeste II. 

        Os encaminhamentos podem ser feitos não necessariamente pelo médico, mas pela enfermagem, pelo diretor da unidade e até mesmo pelos ACS. O contato com o CAPS é feito por telefone tanto para encaminhamento, como para pedir orientações e até mesmo para agendar o matriciamento. As reuniões de matriciamento ocorrem geralmente nas terças-feiras e é feita por um médico psiquiatra, funcionário do CAPS. Esse psiquiatra pode, inclusive, fazer atendimento. A contrarreferência também é feita por telefone ou através do preenchimento de formulário.

        Compete ao CAPS AD Norte II acolher o paciente com problemas do uso de álcool e outras drogas, estabelecer o projeto terapêutico de acordo com a necessidade de cada um (atualmente só trabalham com o atendimento semi-intensivo, todavia esperam em breve oferecer o atendimento intensivo). O processo terapêutico inclui tratamento medicamentoso, participação de oficinas terapêuticas, grupo operativo e terapêutico e acompanhamento familiar. Para tal contam com uma equipe multidisciplinar composta por psiquiatra, clínico geral, psicólogo, assistente social, enfermeiro, nutricionista, farmacêutico, estando atualmente sem terapeuta ocupacional. A unidade (Figuras 2, 3, 4, e 5) conta ainda com recepção, acolhimento, três salas de atendimento individualizado, duas salas de atividades coletivas, um espaço de convivência, um posto de enfermagem, quatro quartos coletivos, uma sala de reunião, uma direção e administração, uma farmácia, um repouso médico, uma sala de acolhimento noturno, uma sala de aplicação de medicamento, uma cozinha, um refeitório, um vestuário masculino e um vestuário feminino.

 

Figura 2. Sala de Atendimento do CAPS AD Norte II.

 

Figura 3. Quarto coletivo do CAPS AD Norte II.

 

Figura 4. Sala de grupos do CAPS AD Norte II.

 

Figura 5. Salão de Convivência do CAPS AD Norte II.

 

        Os atendimentos são estendidos a um familiar o qual é considerado um codependente químico. Ele tem acesso à consulta clínica, consulta psiquiátrica, medicamentos, contudo, para tal, deve participar necessariamente do grupo familiar que é um grupo terapêutico com todos os familiares dos outros usuários do CAPS.            

        Lamentavelmente, para pacientes com doenças psiquiátricas que não são dependentes químicos, o acesso ao psiquiatra, quando necessário, e à psicologia é muito difícil, de tal forma que os pacientes chegam a esperar um ano para se consultarem. Nossa rede de pessoas e de serviços de saúde mental, infelizmente, não é muito dinâmica e diversificada, de modo que a maioria das pessoas que precisam de psicoterapia e avaliação por psiquiatra está esperando serem chamadas por um longo período de tempo.

        Apesar da constatação da nossa triste realidade, a experiência de poder conhecer o CAPS AD Norte II foi muito gratificante e certamente estreitará nossa relação, permitindo um melhor manejo dos pacientes usuários de álcool e drogas, quando aparecerem no nosso serviço, bem como dos casos graves de sofrimento psíquico que mereçam uma atenção especial.     

 

 

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