ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
ESPECIALIZADA: RAIANA MACIEL MIRANDA
ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS
A Saúde Mental é uma área que veio sofrendo intensas transformações nos últimos tempos. Tanto em termos de avanço científico, surgimentos de novas medicações, como também na forma de se lidar com o doente e sua doença. Houve uma importante quebra de preconceitos e estereótipos antes existentes e passou-se a refletir e buscar novas formas de proporcionar uma melhor atenção à saúde a esses indivíduos.
Dessa forma, ainda estamos engatinhando nesse processo. A Rede de Atenção à Saúde Mental ainda é muito frágil e possui muitas falhas em sua execução. É nítida a falta de estabelecimentos adequados e profissionais capacitados a lidar com essas questões.
A Unidade de Saúde da Família (USF) de Santarém localiza-se na Zona Norte do município de Natal, Rio Grande do Norte (RN) e lá a rede está extremamente desfalcada. No momento, temos apenas um psiquiatra na Policlínica para atender toda a demanda da Zona Norte e um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), sendo este voltado para o uso de álcool e outras drogas (CAPS AD). As urgências são destinadas as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) ou Hospital Doutor João Machado (HDJM). A minha Unidade conta com a participação do Núcleo Ampliado em Saúde da Família (NASF), porém a psicóloga está sendo transferida para outro setor.
A demanda é extremamente alta e muitos casos que necessitam de acompanhamento especializado ou suporte maior no tratamento ficam sem a assistência adequada pela falha no sistema de saúde. Um exemplo dessa falta de estruturação que culminou levando a crise do paciente foi o ocorrido com um jovem de 17 anos. Ele chegou à consulta trazido pela avó. Ela queixava-se que o menino estava com comportamento alterado, indisciplinado e possível uso de substâncias ilícitas. Tentamos articulação com o CAPS AD, o qual se situa vizinho a Unidade, mas no primeiro momento afirmaram que o menino era menor de idade e não poderia ser atendido lá. Logo, foi optado por tentar atendimento no CAPS Infanto Juvenil na Zona Oeste, porém familiares se recusaram devido à distância e falta de recurso para transporte. Consulta com o especialista na Policlínica não foi possível, devido existência de apenas um profissional para atendimento.
Enquanto articularmos uma reunião de matriciamento para melhor discursão do caso com o CAPS AD vizinho, o paciente entrou em surto e teve que ser internado as pressas no HDJM para manejo. Esse caso gera a reflexão sobre os entraves existentes no fluxo o qual muitas vezes o paciente só consegue ter acesso à rede após o surto o que vai totalmente contrário à ideia da atenção integral ao paciente.
Na semana seguinte a internação do jovem, conseguimos realizar a reunião de matriciamento com o psiquiatra e a funcionária do CAPS AD, NASF e minha equipe (Figura 1), na qual foi exposto o caso e discutido a estratégia de condução mediante os déficits encontrados na rede de saúde. Assim, refletimos também a importância de manter esse matriciamento como suporte dos casos clínicos da Unidade, marcando reuniões regulares para discursão de casos, bem como interconsultas entre médico da USF e psiquiatra se necessário.
Figura 1: Reunião de matriciamento entre equipes da USF de Santarém, do CAPS AD e do NASF.
Outro ponto extremamente recorrente e muitas vezes banalizado na rotina da Atenção Básica é o número de usuários de medicações psicotrópicas que se perdem mediante a conduta de renovação de receitas. Desse modo, para tentar ter um controle em relação a esse ponto criamos uma tabela online utilizando a ferramenta do Google Drive, na qual cada Agente de Comunitário de Saúde (ACS) e o médico podem ter fácil acesso e manter atualizada a lista de pacientes que fazem uso dessas medicações, o motivo que usam e a última consulta médica que teve para avaliação do uso, conforme abaixo.
USF SANTARÉM – EQUIPE 35
ACS: MICROÁREA:
Prontuário |
Nome |
Data nascimento |
Comorbidades |
Psicotrópicos |
Início tratamento |
Última consulta |
Acompanhamento Especialista |
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Portanto, é clara a necessidade de estruturação tanto física como de profissionais em termos de número e capacitação para melhor cuidado a Saúde Mental. Nem mesmo os próprios funcionários reconhecem ao certo como funciona o fluxo e no final das contas quem fica realmente prejudicado é o paciente que não tem a assistência adequada e, muitas vezes, somente consegue acesso à Rede de Atenção a Saúde Mental em estágios avançados da doença ou quando sofre uma crise.
Ponto(s)