RELATO DE EXPERIÊNCIA
TÍTULO: AVALIAÇÃO DO USO DE MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS PELOS PACIENTES DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DR. JAÍ CARVALHO.
ESPECIALIZANDO: OSVALDO DE LA RIVERA GARCIA
ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO
A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto política social, funcionando com estrutura organizada, ainda apresenta desafios conjunturais marcados pela desigualdade social do país. Dentre esses desafios encontra-se a necessidade de mudança do modelo médico-assistencialista, a desprecarização das relações e dos processos de trabalho, entre outros fatores. A radicalidade consiste na ruptura com a lógica da atenção tradicional e de produção, visando à equidade na alocação de recursos públicos, igualdade de acesso, integralidade na atenção, ênfase em todos os níveis de atenção e na participação dos sujeitos nos processos de gestão. (AMARANTE, 2004)
No contexto da saúde mental várias mudanças aconteceram impulsionadas pelo movimento de reforma psiquiátrica, que pretendem transformar o modelo assistencial em saúde mental e reconstruir o estatuto social da loucura, concebendo um novo olhar para o usuário dos serviços de saúde mental. Destaca-se, com isso, o resgate da cidadania da pessoa com transtorno mental e, por conseguinte, a reconstrução de novos modelos teórico-práticos pautados no processo de desinstitucionalização e no paradigma da atenção psicossocial. (VASCONCELOS, 2008)
A criação de diversos serviços de atenção psicossocial provocou mudanças na Política de Saúde Mental no Brasil, sendo o modelo proposto baseado em uma rede diversificada de serviços na comunidade, atuando de forma integrada, descentralizada e intersetorial. As prescrições abusivas de medicamentos são observadas frequentemente para sofrimentos psíquicos que na maioria das vezes estão ligadas a problemas sociais e econômicos. Por tanto o que se encontra hoje nos serviços que atendem pacientes com problemas de transtornos mentais são terapêuticas reduzidas a psicotrópicos e falta de comunicação entre profissionais e pacientes do serviço de saúde. (SANTOS, 2009)
A questão do inegável abuso que hoje se verifica no consumo de medicamentos psicotrópicos é um sério problema a ser refletido. É fato que, além da automedicação, existe a prescrição excessiva, em especial dos ansiolíticos e dos antidepressivos, por parte dos médicos. (PELEGRINI, 2003)
Nos tempos atuais a propaganda, a disponibilidade ou a pressão da vida moderna são algumas das razões pelas quais as pessoas usam drogas psicoativas no cotidiano. A publicidade traz, ao consumidor, promessas de felicidade e de satisfação absolutas. Nas imagens veiculadas, há sempre um sorriso estampado nos rostos, de plastificada beleza, que vende a proposta de viver um prazer contagiante. (WEIL, 2004)
Segundo Câmara (2008), médicos de qualquer especialidade podem prescrever medicação psicotrópica, que compreende diversas classes de medicamentos psicoativos que visam controlar a ansiedade e aliviar a dor emocional ou melhorar o convívio social. No entanto, é de grande importância que as equipes da Atenção Básica possam ter uma expectativa realista de que tipo de problema de saúde mental pode ou não responder a uma determinada medicação.
Para sintomas psicóticos (alucinações auditivas, vozes de comando, delírios de perseguição), agitação duradoura, sintomas prolongados de tristeza e desvalia, e ansiedade incapacitante as medicações costumam apresentar respostas satisfatórias. Por outro lado, em situações onde o contexto familiar, laboral ou interpessoal é um componente importante dos fatores desencadeantes, pode ser inútil depositar grandes expectativas em torno de uma ou outra medicação. Sendo assim, é importante levar em consideração ambas as dimensões: definir um ou alguns problemas-alvo para a medicação e também fazer caber a prescrição dentro de um projeto terapêutico que agregue outras intervenções (BRASIL, 2013).
Nesse sentido, o abuso e a dependência de medicamentos psicotrópicos passam a ganhar relevância para a saúde pública. Por tanto uma avaliação da adequação da prescrição medicamentosa em saúde mental pelos usuários na Unidade Básica de Saúde Dr. Jaí Carvalho será um importante norteador da implantação do modelo assistencial preconizado na política nacional de saúde mental e ponto chave para a prevenção dos casos de dependência desse tipo de medicação. Sendo este nosso objetivo do trabalho.
Para dar saída ao objetivo a Equipe número 7, como primeiro passo: Elaboro uma planilha para registrar as informações sobre as pessoas em uso de Psicotrópicos (Anexo 1), segundo as informações do PMAQ seguindo o modelo da AMAQ, o padrão 4.36. A equipe de Atenção Básica desenvolve ações para as pessoas com sofrimento psíquico em seu território. E o padrão 4.37. A equipe de Atenção Básica desenvolve ações para os usuários de álcool e outras drogas no seu território (BRASIL, 2017)
Dando continuidade ao trabalho, o segundo passo foi selecionar um caso de pessoa atendida que necessitou de uma atenção integral em saúde mental para realizar uma linha de cuidado. Trata-se de uma usuária de 45 anos de idade, hipertensa e obesa, previamente hígida, que apresentou crise hipertensiva evoluindo com Derrame Cerebral seguido de hemiplegia direita. Desenvolveu sequela neuro-motora grave, permaneceu internada por três meses para a recuperação clínica. Recebeu alta hospitalar retornando ao domicílio na seguinte condição clínica: totalmente dependente para as atividade básicas e instrumentais de vida diária, e úlceras por pressão em diferentes segmentos do corpo, ansiedade e depressão, com uso de medicamentos psicotrópicos em altas dosagem que manteve ao usuário sonolento, com pouca interação com o meio externo. Têm como cuidadores principais seus filhos que retornaram do nordeste para dar suporte ao esposo.
Foram necessários múltiplos profissionais com cuidados interdisciplinares (medico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, nutricionista, psicólogo, psiquiatra e agente comunitário de saúde). Por meio da reunião de matriciamento, entre ESF e NASF, discutiram-se ações diversas que contemplavam não apenas a saúde física, como também a ampliação do suporte à família para o bem estar biopsicossocial dos cuidadores, além de fortalecimento de todos para o enfrentamento da doença e a reabilitação. Foi construído um projeto terapêutico singular (PTS) que contemplava intervenções em domicilio. Os profissionais envolvidos diretamente no PTS foram: médico de família, enfermeiro e auxiliares de enfermagem, agentes comunitários (ESF), nutricionista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, médico psicólogo, e psiquiatra (NASF).
O sistema de referência pela equipe foi rápido, avaliando a usuária em 72 horas (pelo NASF). Além disso foi feita uma contrarreferência, com as recomendações e cuidados diários necessários. Sendo muito importante a redução do uso de medicamento psicotrópico para melhorar a qualidade de vida.
Os desafios encontrados para o desenvolvimento foram: os familiares encontravam-se perdidos com relação ao prognóstico de E., que gerava expectativas e estimulações não condizentes com o quadro clinico. Assim, em planejamento entre as equipes as ações iniciaram-se pelo acolhimento de suas angustias. A família estava diante de uma situação nova e que gerava muito sofrimento já que E, necessitava de cuidados integrais. As ações em clínica ampliada através do cuidado interdisciplinar, possibilitaram um cuidado integral da família e da usuária. A integração real entre as equipes ESF/NASF por meio da construção dos vínculos, a possibilidade de co-responsabilização das ações entre equipes e familiares permitiram que se discutissem abertamente a melhor forma do cuidado humanizado. Foi de muita ajuda a redução do uso de psicotrópicos.
Conclui-se que, o uso indevido de psicotrópicos envolve todos os atores sociais por vários motivos, dentre eles destaca-se os terapêuticos, a automedicação e a praticidade e/ou conforto por alguns profissionais gerando grande preocupação quanto à falta de informação sobre as consequências do seu uso crônico pelos usuários. Outro levantamento preocupante é quanto à forma de dispensação.
Ações de proteção, promoção, recuperação da saúde e prevenção de doenças são desenvolvidas com enfoque multiprofissional, entre os integrantes da equipe da ESF. Todos profissionais tem uma grande responsabilidade na promoção da saúde tornando-se notável a necessidade e a importância da disponibilização do tratamento e do uso de medicamentos no tratamento dos reais transtornos na saúde mental.
REFERÊNCIAS
AMARANTE, P.; OLIVEIRA, W. F. A inclusão da saúde mental no SUS: pequena análise cronológica do movimento de reforma psiquiátrica e perspectivas de integração. Dynamis: revista tecno-científica, Blumenau, v.12, n.47, p.5-21, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Autoavaliação para melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica: AMAQ. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
PELEGRINI, M. R. F. O abuso de medicamentos psicotrópicos na contemporaneidade. Psicol. cienc. prof., Brasília , v.23, n.1, p.38-41, 2003.
SANTOS, D. V. D. Uso de psicotrópicos na atenção primaria no Distrito Sudoeste de Campinas e sua relação com os arranjos da clínica ampliada.[Dissertação]. Campinas: Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, 2009.
VASCONCELOS, E. M. Abordagens Psicossociais, Reforma Psiquiátrica e Saúde Mental na ótica da Cultura e das Lutas Populares. Volume II. São Paulo: Hucitec, 2008.
WEIL, A. The Natural Mind: A Revolutionary Approach to the Drug Problem. Boston: Houghton Mifflin, 2004.
ANEXOS:
Planilhas para registrar as informações sobre as pessoas em uso de Psicotrópicos:
Avaliação do uso de medicamentos psicotrópicos |
Coleta de datos |
Nome:________________________________ Prontuário:__________________
Data de nascimento:_______________ Sexo:_____________________________
Cartão de SUS:______________________________________________________
Antecedentes patológicos pessoais:______________________________________
Antecedentes patológicos familiares: ____________________________________
Alergia a medicamentos: ______________________________________________
Hábitos tóxicos: _____________________________________________________
No. |
Data |
Diagnóstico |
CID 10 |
Medicamentos |
Padr (1) |
Espec (2) |
1 |
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2 |
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5 |
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(1) Padronização do medicamento para fornecimento ao cliente (será anotado posteriormente à coleta) – anotar M (padronização municipal), R (RENAME) ou Não (não padronizado)
(2) Especialidade do médico prescritor – anotar código CG clinico geral, NEU neurologista, PSI psiquiatra, Outr outras especialidades, SR sem registro
Ponto(s)