29 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

RELATO DE EXPERIÊNCIA

 

TÍTULO: A LINHA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL COMEÇA POR MINHA ESF.

ESPECIALIZANDO: NADIESKA CELESTE TRILLO GONZÁLEZ

ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO

 

 A Atenção Básica caracteriza-se como porta de entrada preferencial do SUS, formando um conjunto de ações de Saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. Desenvolve-se com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, próxima da vida das pessoas. Deve ser o contato preferencial dos usuários e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produzir a atenção integral (BRASIL, 2012).

A Atenção Básica tem como um de seus princípios possibilitar o primeiro acesso das pessoas ao sistema de Saúde, inclusive daquelas que demandam um cuidado em saúde mental. Neste ponto de atenção, as ações são desenvolvidas em um território geograficamente conhecido, possibilitando aos profissionais de Saúde uma proximidade para conhecer a história de vida das pessoas e de seus vínculos com a comunidade/território onde moram, bem como com outros elementos dos seus contextos de vida. Podemos dizer que o cuidado em saúde mental na Atenção Básica é bastante estratégico pela facilidade de acesso das equipes aos usuários e vice-versa (BRASIL, 2013).

A atual política de saúde mental brasileira é resultado da mobilização de usuários, familiares e trabalhadores da Saúde iniciada na década de 1980 com o objetivo de mudar a realidade dos manicômios onde viviam mais de 100 mil pessoas com transtornos mentais. O movimento foi impulsionado pela importância que o tema dos direitos humanos adquiriu no combate à ditadura militar e alimentou-se das experiências exitosas de países europeus na substituição de um modelo de saúde mental baseado no hospital psiquiátrico por um modelo de serviços comunitários com forte inserção territorial. Nas últimas décadas, esse processo de mudança se expressa especialmente por meio do Movimento Social da Luta Antimanicomial e de um projeto coletivamente produzido de mudança do modelo de atenção e de gestão do cuidado: a Reforma Psiquiátrica (BRASIL, 2013).

No primeiro momento foi reunir a equipe, integrada por médico, enfermeiro, técnica de enfermagem e agentes comunitários de saúde, para determinar como ter um melhor controle dos pacientes de saúde mental em nossa área, em quanto à quantidade, uso crónico de medicamentos controlados etc. Primeiramente a gente fez um instrumento que permitisse o registro dos mesmos, este consistiu em uma tabela que recolhia dados como: Nome e Sobrenome, Idade, Data de nascimento, No. Cartão de SUS, Endereço, Medicamentos/ Dosagem/ Apresentação/ Dose, Diagnóstico, Tempo de tratamento, Avaliação Psiquiatria/ Psicologia e Observações (ver Anexo 1).                                        

Uma de as principais dificuldades encontradas foi á falta de informação pelos pacientes sobre a medicação que utiliza e o seu desconhecimento. Pacientes que usam mais de um medicamento controlado ao dia. Pacientes que não tem acompanhamento por Psiquiatria/ Psicologista por mais de um ano.  E quanto à possibilidade de tentar minimizar o seu uso, eles alegam não saber ficar sem o uso do medicado controlado.

Pudemos perceber que a construção deste instrumento potencializou a equipe de conhecer melhor seus usuários e, além disso, discutir sobre que contexto os levou a utilizar o acolhimento à saúde mental. Também foi uma forma de organizar o acompanhamento do paciente pela equipe, e até mesmo de alertar quando ele está muito tempo sem passar por avaliação do psiquiatra. Então com muita dificuldade, tentamos marcar uma consulta para ele no CAPS, e nos casos de agudização são encaminhados para urgências psiquiátricas na capital.

A situação acompanhada diz respeito a um paciente de 50 anos, masculino, natural e proveniente de Carira (SE), casado, desempregado (taxista como profissão), pai de 3 filhos, ensino fundamental completo, evangélico. Vem acompanhado da sua esposa na primeira consulta no posto. Paciente que relata como queixa principal: Sentimentos de culpa “Pensamentos de morte”. Á esposa relata que paciente teve depressão há 10 anos e há 4 meses demonstra sinais de nova depressão em período que coincide com a morte da mãe do paciente, o que resulto em abandono de emprego de taxista, desde então, a esposa relata que o paciente apresenta, insônia, irritabilidade, perda de interesse ou prazer pela vida, dificuldade de concentração e fadiga etc.

Primeiramente este paciente é acolhido na UBS, munido de seus documentos pessoais e seu catão de SUS, depois a equipe realiza a triagem, para logo ser atendido pelo médico, e conhecendo o quadro clínico (Particularmente falando desse caso), o paciente precisa e é encaminhado para o CAPS, com o diagnóstico de “Transtornos Depressivo”. A equipe multidisciplinar do CAPS avalia as necessidades do usuário, considerando seu contexto histórico, social e psicológico e constrói o Projeto Terapêutico Singular (PTS). A partir do PTS inicia-se um acompanhamento terapêutico (biopsicossocial) onde o usuário do serviço recebe apoio psicossocial partir de atividades terapêuticas, culturais e sociais, objetivando sua reabilitação psicossocial.

Na minha região, a saúde mental ainda está em uma fase de construção a passos lentos. Existe apenas um CAPS, que atende a todo o município e todos os tipos de transtornos mentais desde os mais graves aos mais leves. Então isso se torna difícil, pois em alguns casos atendo pacientes com transtorno de ansiedade, que precisam mais de um acompanhamento do psicólogo do que de medicação, e infelizmente só temos um psicólogo que não faz esse tipo de acompanhamento individualizado e rotineiro.

Também existem casos em que o paciente está com dificuldade de dormir e por essa razão é prescrito medicação controlada, o que acaba por aumentar esse uso indiscriminado de controlados, e sem acompanhamento mensal pelo psiquiatra, pois já está ultrapassando seu limite de consultas e assim fica cada vez mais difícil fazer o desmame daquela medicação. Ou seja, aqui nos deparamos com casos que poderiam ser resolvidos apenas com a escuta e acompanhamento da psicologia, e de pacientes que fazem uso de controlados e poderiam fazer o desmame da medicação e avaliação pelo psiquiatra se tivéssemos profissionais suficientes para cobrir a grande demanda. Aqui também não tem NASF, o que dificulta ainda mais. Nós não temos uma contra referência direta do CAPS. Isso é feito pelas visitas dos ACS em suas micro áreas, que nos passam informações nas reuniões da equipe.

Minha equipe e eu gostamos muito da experiência de estar à frente com a população, exercendo a profissão e compreender o quão importante é um profissional ter um olhar humanizado. Esta experiência foi importante para constatar a necessidade de intervenção junto à população. Infelizmente não foi possível criar mecanismos de minimizar o uso indiscriminado de medicamentos controlados. Dessa forma se faz necessário uma reflexão por parte de todos nos em quanto ao uso de forma racional existindo um acompanhamento constante dos pacientes por um profissional da equipe de saúde. Aprendemos a ouvir o paciente, atendê-lo em sua singularidade e compreender a sua dor, visto que muitos utilizam medicamentos psicotrópicos como medida de “fuga” aos problemas do dia-a-dia. Ter empatia pelo outro é essencial, pois te faz compreender as dificuldades que possam existir e assim diminuir conflitos.

É necessário dar continuidade a pesquisa, buscando meios de minimizar o uso indiscriminado de medicamentos psicotrópicos, buscando parcerias inter e intrasetoriais para investigar o perfil de uso de psicofármacos na APS para faz-se planejar estratégias de intervenções em saúde mental, relacionadas com a promoção do uso racional dos medicamentos. Também é essencial elaborar estratégias para melhorar o acesso, tratamento dos usuários e uso racional de psicofármacos, incluindo a revisão das listas de medicamentos essenciais e a capacitação dos profissionais da APS.

Além disso, torna-se imperioso efetivar a implementação de programas que visem desburocratizar a entrega das receitas de psicofármacos para os usuários, utilizando recursos já existentes nos serviços de saúde, como o acolhimento humanizado e formação de vínculo com a equipe da UBS, com enfoque na integralidade para detecção dos transtornos mentais por todos os profissionais e agentes de saúde.

Para a enfermagem, especificamente, sugere-se criação de oficinas e grupos de educação para a saúde com o intuito de inserir o usuário na comunidade e aumentar o vínculo com esses pacientes. Em contrapartida, é evidente que o usuário assistido pelas equipes de saúde, contribui positivamente para melhoria da qualidade de vida. Diante disso, entende-se que a educação e a promoção da saúde caminham juntas, gerando possibilidades para que o paciente de saúde mental se conscientize e empodere, objetivando a sua qualidade de vida.

Conclui-se que, o uso indevido de psicotrópicos envolve todos os atores sociais por vários motivos, dentre eles destaca-se os terapêuticos, a automedicação e a praticidade e/ou conforto por alguns profissionais gerando grande preocupação quanto à falta de informação sobre as consequências do seu uso crônico pelos usuários. Ações de proteção, promoção, recuperação da saúde e prevenção de doenças são desenvolvidas com enfoque multiprofissional, entre os integrantes da equipe da UBS. Todos têm uma grande responsabilidade na promoção da saúde tornando-se notável a necessidade e a importância da disponibilização do tratamento e do uso de medicamentos no tratamento dos reais transtornos na saúde mental. Dessa forma se faz necessário uma reflexão por parte de todos quanto ao uso de forma racional existindo um acompanhamento constante dos pacientes por um profissional da equipe de saúde.

 

Referências

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

 

 

ANEXO 1: Registro de paciente saúde mental, 2018.

 

No.

Nome e Sobrenome

Idade

Data de nascimento

No. Cartão de SUS

Endereço

Medicamentos/ Dosagem/

Apresentação/

Dose

Diagnóstico

Tempo de

Tratamento

Acompanhamento

Psiquiatria ou Psicologista

Observação

 

Sim

Não

1-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

7-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

8-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

9-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

10-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                       

 

Fonte: Elaboração própria, 2018.

 

1 Star2 Stars3 Stars4 Stars5 Stars (No Ratings Yet)
Loading...
Ponto(s)