2 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Atenção à Saúde Mental na Atenção Primaria à Saúde.

Especializando : Mirian Morales Rodriguez

Facilitador: Cleyton Cezar Souto Silva

 Titulo: A saúde mental: um reto para a equipe da ESF 008 da UBS Igarapé da Fortaleza.

 

          Nos últimos anos, o Ministério da Saúde, através das políticas de expansão, formulação, formação e avaliação da Atenção Básica, vem estimulando ações que remetem a dimensão subjetiva dos usuários e aos problemas mais graves de saúde mental da população neste nível de atenção. A Estratégia Saúde da Família (ESF), tomada enquanto diretriz para reorganização da Atenção Básica no contexto do Sistema Único de Saúde – SUS, tornou-se fundamental para a atenção das pessoas portadoras de transtornos mentais e seus familiares (CORREIA et al, 2011).

          As intervenções em saúde mental devem promover novas possibilidades de modificar e qualificar as condições e modos de vida, orientando-se pela produção de vida e de saúde e não se restringindo à cura de doenças. Isso significa acreditar que a vida pode ter várias formas de ser alcançada, experimentada e vivida. Para tanto, é necessário olhar o sujeito em suas múltiplas dimensões, com seus desejos, anseios, valores e escolhas. Na Atenção Básica, o desenvolvimento de intervenções em saúde mental é construído no cotidiano dos encontros entre profissionais e usuários, em que ambos criam ferramentas e estratégias para compartilhar e construir juntos o cuidado em saúde (BRASIL,2013).

          Durante o módulo Atenção à Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde, conheci a reforma psiquiátrica acontecida no Brasil nos últimos anos,  a nova política nacional de  saúde mental com muitos avanços, mas  existem muitos problemas relacionados à integralidade da atenção em Saúde, compreendi a  importância da Atenção Primária à Saúde, por meio da Estratégia de Saúde da Família, como porta de entrada para a rede de cuidados em Saúde Mental, com esta motivação fiz uma reunião com minha equipe.

          Reconhecemos que ainda é um problema o atendimento à saúde mental em nossa área de abrangência, a equipe não identifica as pessoas com sofrimento psíquico e transtorno mental, não  fazemos o acompanhamento delas por meio de atividades individuais e/ou grupais, não funcionamos como porta de entrada, não conhecemos todos os pacientes em sofrimento psíquico, não temos registro dos usuários em uso crônico de benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, e  outros, nem tampouco temos  registro dos usuários com necessidade decorrente do uso de, álcool e outras drogas. Pelo que elaborei uma planilha e apresentei para a equipe, com o objetivo de fazer esses registros, e nos permitir um melhor acompanhamento desses pacientes.   Concordamos em iniciar um processo imediato a partir da primeira semana do módulo, de vistas a todas as famílias para identificar os pacientes, utilizando o instrumento elaborado.

          A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de nosso município tem um Centro de Atenção Psicossocial infantil (CAPSi), um Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas  (CAPS ad), não temos CAPS para adultos, que são atendidos  pela especialidade de  psiquiatria na Policlínica Maria Tadeu Aguiar, só duas vezes na semana, o qual é insuficiente para todo o município. É importante destacar que essa consulta de psiquiatria  começou há 20 dias. Quando o quadro do paciente for de maior grau ele passará a receber o tratamento com medicamentos de acordo com avaliação integral do médico psiquiatra do Centro, a exemplo para conter as abstinências, procurando a redução de danos e sequelas do paciente.

          No Centro o paciente também participa de palestras educativas, assim como de grupos terapêuticos. Contamos também na rede no município com o serviço móvel de urgência (SAMU), que é utilizado para encaminhar as emergências psiquiátricas o hospital de emergência na capital do estado, município de Macapá, e os casos que precisam de internação no serviço de psiquiatria do hospital geral. Frisamos que existem falhas na comunicação, pois não recebemos a contra referência dos pacientes que são atendidos nestas instituições existindo descontinuidade das ações tanto pelo serviço de atenção básica como pelo serviço especializado.

           Para demostrar o funcionamento da rede de pessoas e serviços de saúde mental em nosso território, selecionou-se um caso de uma pessoa atendida na nossa unidade básica, com necessidade de uma atenção integral em saúde mental e da construção de sua linha de cuidado. Trata-se de uma usuária de 54 anos de idade, hipertensa e obesa, de nossa área de abrangência, chega a consulta e começa a dizer que não está bem, queixa-se de perda de peso, fadiga e insônia há três meses. Relata que vem se sentindo gradualmente mais cansada, e fica acordada até tarde da noite, porque não consegue dormir. Queixa-se das cobranças no seu trabalho e não tem disposição para fazer as coisas. Refere também que não está mais conseguindo limpar e organizar sua casa pois não tem ânimo. Queixa-se de seu marido, muito ausente nos últimos 2 anos. Neste momento ela chora e lamenta a vida que está levando.  Quando começa a se queixar das dores crônicas nas costas, braços e mãos, diz que nada melhora essas dores e os médicos não valorizam o que ela diz: “a senhora não tem nada, seus exames estão todos normais”. Foram necessários múltiplos profissionais com cuidados interdisciplinares (medico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, nutricionista, psicólogo, psiquiatra e agente comunitário de saúde). Por meio da reunião de matriciamento, entre ESF e NASF, discutiram-se ações diversas que contemplavam não apenas a saúde física, como também a ampliação do suporte à família para o bem-estar biopsicossocial dos cuidadores, além de fortalecimento de todos para o enfrentamento da doença e a reabilitação.

           A realização desta microintervenção nos permitiu identificar nossas debilidades e deficiências com a saúde mental, foi um despertar para nossa equipe iniciar um processo de mudanças, com ações que vão permitir ter resultados satisfatórios, tais como: elaboração do instrumento para o controle dos pacientes de saúde mental e que consomem substâncias ou drogas, fazer visitas domiciliares para o preenchimento do instrumento pelas agentes comunitárias de saúde, fizemos um cronograma para o atendimento deles na unidade básica de saúde pela equipe, além  do cronograma de avaliação deles pelo equipe do especializado NASF.

          Nas intervenções dos demais membros da equipe, ficou aberta a falta de conhecimento dessa rede de atenção à saúde mental, uma ACS argumento que para a atenção à saúde mental se limitava só quando algum familiar ou paciente solicitava a renovação da receita de medicamento controlado pensando que esse atendimento era só pelo o psiquiatra e não pelo o médico da família.

          Os ACS relataram a necessidade de capacitação para ter maior preparação nos cuidados dos pacientes psiquiátricos e suas famílias, pelo que refleti sobre a importância do implementar o apoio matricial. Expliquei que contando com a psicóloga do NASF, de fácil aceso em nossa UBS, não aplicávamos a clínica ampliada e o apoio matricial, sendo imprescindível essa troca de saberes para uma maior integralidade do cuidado. Também já contatamos a psicóloga para iniciar em conjunto com a equipe atividades de tratamento grupal para os pacientes em sofrimento psíquico.

          Acho que o maior resultado desta microintervenção até hoje é a mudança na mentalidade dos membros da equipe na reponsabilidade que temos no cuidado da saúde mental de nossa população, constituindo uma motivação e fortaleza para a implementação das ações concordadas.

          Outro resultado desta Microintervenção foi escutar a mudança na mentalidade dos membros da equipe na reponsabilidade que temos no cuidado da saúde mental de nossa população, constituindo uma motivação para a implementação das ações planejadas. Considero que minha participação neste curso de especialização nós deixam adquirir novas e melhores ferramentas para contribuir a organização do processo de trabalho de minha equipe na atenção a nossa comunidade.   

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