30 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

    

 

  

 

 

APERFEIÇOAMENTO DA LINHA DE CUIDADOS À SAUDE MENTAL NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

 

ESPECIALIZANDA: MARLEN CHANG GARCIA

ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS

           

O paciente psiquiátrico na história da humanidade com a maior probabilidade tem sido o individuo mais discriminado, excluído e incompreendido da sociedade, problema que permanece até nossos dias, derivando a necessidade de desenvolver políticas de tratamentos integrais que ofereçam qualidade de vida ao paciente tanto como aos familiares. O mundo atual tão demandante e competitivo tem incrementado o número de pessoas que demandam assistência médica apresentando diversas doenças mentais, incluindo um sem fim de atendimentos por causa do estresse, que tem vido ser uma das maiores epidemias do século.

Na minha Unidade Básica de Saúde (UBS), a realidade de cada dia, são vários prontuários com receitas em cima da minha mesa para serem renovadas e, na maioria dos casos, os pacientes não tem acompanhamento adequado das doenças com as quais convivem.

Motivo pelo qual se fez necessário desenvolver uma atividade para a análise e reflexão das dificuldades apresentadas em nosso trabalho cotidiano, definir as fortalezas e debilidades que tínhamos como equipe e começar fazer mudanças referentes ao tema da saúde mental na comunidade, onde temos um grande número de pacientes que fazem uso crônico de medicamentos de controle especial, além de considerável cifra de pacientes consumidores de álcool e outras drogas.

Na reunião mensal da equipe correspondente ao mês de julho, foi feita uma análise aprofundada na qual foram identificados problemas que vinham sendo causa de fracasso no acompanhamento dos pacientes com transtornos psiquiátricos e dependentes de substâncias químicas. Encontramos que na unidade existe um registro dos pacientes em uso crônico de benzodiazepínicos, ansiolíticos, antidepressivos, anticonvulsivantes e antipsicótico, mas na verdade se tratava de um sub-registro que não continha informações precisas nem a quantidade real de pessoas com sofrimento psíquico ou em uso de álcool e outras drogas. Foi constado também que a equipe não desenvolvia ações dirigidas ao acompanhamento dos casos e diminuição das doses quando necessário.

Prosseguimos na elaboração de uma planilha que se adequasse às necessidades de informação que a equipe necessita para registrar corretamente os dados dos pacientes em uso de psicofármacos, álcool e outras drogas. Acordamos que seriam os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) os responsáveis de coletar as informações, previamente capacitados pela médica e enfermeira sobre alguns conceitos básicos da saúde mental.

A planilha criada incluiu nome e sobrenome do paciente, data de nascimento, cartão nacional do Sistema Único de Saúde (CNS), diagnóstico, nome do medicamento, dosagem e apresentação farmacêutica, frequência de consultas e visitas domiciliárias, sinalizando com um asterisco os pacientes com sofrimento psíquico grave. Outra planilha semelhante coletaria os dados dos pacientes com necessidade decorrente de uso de álcool e outras drogas, especificando sempre que fosse possível o tipo de substância.

É importante destacar que a equipe agenda com prontidão as consultas dos pacientes com transtornos mentais sem espera prolongada. Além disso, é oferecido acolhimento humanizado para esses pacientes, que são sempre escutados com atenção, assim como um sistema organizado de visitas domiciliárias para aqueles diagnosticados com doença mental grave e profundo e impossibilidade de locomoção.

Além disso na reunião mensal da equipe, foi apresentado por um ACS o caso de um paciente com histórico de esquizofrenia e que a mãe tinha procurado a UBS relatando episódio de crise com agressividade, “vendo e escutando coisas” e ameaçando matar aos vizinhos. Tratava-se de um paciente masculino, 25 anos de idade, com ensino médio incompleto, desempregado, residente com a mãe, que foi abandonada pelo esposo quando o paciente tinha oito anos.

O paciente foi um aluno com dificuldade de aprendizagem e na época direcionado para escola que atendia as crianças com necessidades especiais. Tinha um comportamento violento e autodestrutivo (automutilação e uso de drogas), motivo pelo qual foi marcada uma visita domiciliar. Constatado que efetivamente o paciente apresentava sintomas de descompensação psicótica decidimos ativar a rede de serviços de saúde mental e reforçar o conhecimento da equipe ao respeito.

A rede de atenção psicossocial do município de Vera Cruz, Rio Grande do Norte, conta com a seguinte organização:

  • Atenção Básica (Estratégia Saúde da Família-ESF e Núcleo Ampliado de Saúde da Família-NASF): o NASF oferece atendimento psicológico individualizado, terapia de grupo, práticas integrativas complementares, atendimento nutricional e fonoaudiológico, práticas corporais e atividade física.
  • Hospital de Pequeno porte: atendimento ambulatorial, emergência 24 horas.
  • Centro de Referência em Especialidades (CRE), município de Vera Cruz: atendimento psiquiátrico, duas vezes por mês.
  • Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), município de São José do Mipibú: os encaminhamentos são feitos pelo psicólogo do NASF, o contato é feito por telefone e por ficha de referência. A contrarreferência se dá através de relatórios e reuniões. Este serviço oferece atendimento psicológico, psiquiátrico, oficinas de arte, trabalho de grupo, de segunda a sexta, das 8h às 16h.
  • CAPS Álcool e outras drogas (AD), município de Santo Antônio: os encaminhamentos são feitos pelo psicólogo do NASF, o contato é feito por telefone e por ficha de referência. A contrarreferência se dá através de relatórios e reuniões. São oferecidos serviços de atendimento psicológico, psiquiátrico, oficinas e atividade física.
  • Hospital psiquiátrico, município de Natal: os pacientes, quando em surto, são encaminhados (regulados) pelo médico de plantão do hospital municipal. A contrarreferência se dá através de relatório que são entregues a família que por sua vez apresenta a ESF.
  • Comunidades Terapêuticas: esse dispositivo só é acionado por iniciativa da família. Nós enquanto trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) acreditamos que os serviços de internação são sempre para condições extremas e optamos pelo cuidado em saúde mental de forma aberta e na comunidade. Entendemos o CAPS como principal protagonista do atendimento às situações de crise em saúde mental e dispositivo essencial no processo de reforma psiquiátrica.

A articulação com o NASF para elaborar a linha de cuidado do paciente aconteceu sem contratempos. Foi construído um Projeto Terapêutico Singular (PTS) para este caso após fazer o diagnóstico situacional e definir os objetivos e metas, dividindo as tarefas e responsabilidades entre todo o pessoal envolvido. A reavaliação do PTS será realizada nas reuniões mensais da equipe, conjuntamente com o NASF e também em reuniões com a família e o próprio paciente.

Para o desenvolvimento do PTS contamos com várias fortalezas, como ter uma equipe de saúde da família completa, estrutura física da unidade muito perto da estabelecida pelo Ministério de Saúde e o apoio do NASF articulado e com alto nível de profissionalismo. Entre nossas debilidades pode se mencionar a falta de apoio da gestão municipal no concernente a estratégias de capacitação e não utilização de recursos de educação permanente dirigidas a aumentar o nível de conhecimentos dos profissionais da saúde.

 

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