CAPÍTULO V: Atenção à Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde Edith Kluppler Mendes, Município Lagarto- SE.
Quando falamos de Saúde Mental na Atenção Básica, achamos que estamos frente um tema de manejo contínuo pela Equipe de Saúde.
No Brasil, ainda são escassos os dados que fazem referência à utilização de psicotrópicos na população (ALFENAS, 2015). Estima-se que a prevalência mundial dos transtornos mentais e de comportamento seja de 12%, sendo a maioria dos casos tratados na Atenção Primária em Saúde (ROCHA; WERLANG, 2013).
É de conhecimento geral que o uso indiscriminado de psicotrópicos é uma realidade e representa um motivo de preocupação, uma vez que o uso prolongado dessas drogas provoca efeitos colaterais indesejáveis e dependência química.
No transcurso do trabalho do dia a dia, a equipe percebeu uma alta demanda de usuários que faz uso de psicotrópicos, seja para o tratamento da ansiedade, anticonvulsivantes, antipsicóticos, entre outros transtornos mentais. Nesse sentido, consideramos necessário elaborar um instrumento para acompanhar os usuários que fazem uso de psicotrópicos (em anexo).
O município de Lagarto conta com os serviços do Centro de Atenção Psicossocial – CAPS e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, os quais trabalham de maneira interativa com as Unidades Básicas de Saúde-UBS.
Foram identificadas potencialidades e fragilidades da equipe. A principal potencialidade foi à infraestrutura da equipe e os equipamentos necessários para o desenvolvimento das ações. Foi evidenciada a deficiência de registros de controle dos usuários que fazem uso desse tipo de medicação.
A equipe não tinha muita informação sobre como é o funcionamento e como esta organizada a Rede de Atenção Psicossocial de Saúde Mental em nosso município, por isso tomamos como primeira estratégia realizar uma visita nas instalações do CAPS. Temos um CAPS 2 integrado por um equipe multifuncional para os atendimentos da Saúde Mental nas comunidades. Não contamos com Hospitais de internamento psiquiátrico no município.Foi abordado o tema de referência e contra referência, que não estava em funcionamento.
Existe também o CAPS AD que faz atendimento aos usuários consumidores de drogas e álcool. Contamos com uma sede em nosso Município. O CAPS dá apoio também através da residência terapêutica aos usuários que levam mais de dois anos internados em clínicas psiquiátricas que perderam contatos com familiares.
Antigamente, as consultas para as pessoas com sofrimento psíquico não eram agendadas, eles são eram atendidos quando aconteciam como demanda livre e ficavam aguardando pela ordem de chegada.
Nas estratégias traçadas se organizou um grupo de usuários que fazem uso de substâncias psicotrópicas por meio de sua identificação no prontuário na unidade de saúde. A visita domiciliar foi outra estratégia útil na abordagem do indivíduo com sofrimento mental, onde a equipe da UBS pôde entender melhor o problema do paciente e a dinâmica familiar, assim como buscar o envolvimento dos familiares no tratamento, além de identificar alguma relação do adoecimento psíquico com as relações interpessoais no núcleo familiar.
Os indicadores utilizados para monitorar estas ações foram à ficha de atendimento individual, a ficha de uso de psicotrópicos (instrumento criado para fazer o levantamento dos usuários), a ficha de atendimento coletivo, as reuniões da equipe. Estes indicadores vão avaliar o número de atendimentos feitos pelos profissionais de saúde, e avaliar o número de serviços ofertados pela equipe, assim como maior controle sobre os usuários destas drogas psicotrópicas.
Depois de conhecer um pouco melhor o funcionamento e trabalho do CAPS, nossa equipe planejou uma visita domiciliar a um paciente e sua família. A visita foi direcionada a conhecer o entorno do paciente e avaliar o estado mental do mesmo no momento.
Temos um paciente de 32 anos de idade, JIBS, raça mestiça, com antecedentes de doença mental, que há um ano não faz acompanhamento psiquiátrico e apresentava um comportamento agressivo, pelo o que a família e a comunidade relataram, chegando a ter apresentado comportamento violento. Tinha um aspecto descuidado e a pele cheia de feridas, recusa-se a usar medicação e não se alimenta adequadamente, além de apresentar resistência a realizar sua higiene pessoal.
A equipe da UBS referenciou o paciente para as equipes do CAPS e NAFS para traçar um plano de cuidados e seguimento especializado. Foi avaliado em conjunto e se determinou tratar com medicação psicotrópica. Fazendo uso agora das seguintes medicações:
-Carbamazepina 200mg -02 comprimidos ao dia;
-Haldol 50mg/ml – 01 ampola de 15 em 15dias – intramuscular.
-Clorpromacina -25mg- 01 comprimido ao dia.
Além disso, está sendo acompanhando em consulta uma vez ao mês e realizamos visita domiciliar uma vez na semana e o acompanhamento pelo psiquiatra está ocorrendo a cada três meses.
O pacienta se apresenta estável e sem atos de violência, tendo melhor cuidado de seu aspecto físico e higiene pessoal, ajudado pela família.
ANEXO 1:
Ficha Espelho para acompanhamento de dados referentes a Doenças Mentais:
Data de atendimento |
Número de Prontuário ou cartão de SUS |
Nome do usuário e apelido |
Idade |
Povoado de residência |
Avaliação psiquiátrica |
Medicação de que faz uso |
Dose do remédio |
Frequência de consultas |
CID 10 ou Diagnóstico provável |
Tempo de uso de medicamento psicotrópico, se for o caso |
Uso ou consumo de outras sustâncias ou medicações |
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REFERÊNCIAS
ALFENAS, M.D. Uso de Psicotrópicos na atenção primaria. Dissertação (mestrado em Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Publica Arouca. Rio de Janeiro, 2015.
ROCHA, B.S.: WERLANG, M.C. Psicofármacos na Estratégia Saúde da Família; perfil de atualização, acesso e estratégias para a promoção do uso racional. Ciência &Saúde Coletiva, v. 18, n. 4, 2013.
Ponto(s)