26 de novembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

LUTANDO CONTRA O ETILISMO

 

ESPECIALIZANDO: MARCOS JOSÉ DE OLIVEIRA LIMA

ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS

 

A dependência química por substâncias psicoativas acomete cada vez mais indivíduos em todo o mundo chegando a ser considerada um problema de saúde pública. Tal dependência é uma doença crônica, com etiologia multifatorial, e interferência ambiental e social. As famílias envolvidas encontram-se comumente fragilizadas e sem o preparo adequado para lidar com a situação, cabendo aos profissionais que assistem esses dependentes alcançarem meios de também “instrumentalizar” essas famílias para o cuidado efetivo e reabilitação destes pacientes. 

O alcoolismo, também denominado Síndrome de Dependência do Álcool, afeta um elevado número de homens e mulheres, interferindo não apenas na saúde destes, mas repercutindo na vida familiar e social dos dependentes. É uma doença que não escolhe nível social, raça ou crença e teve seu início há milênios, com a propagação do consumo alcoólico pela sociedade em busca de liberdade, euforia e prazer.

Na comunidade assistida pela Unidade de Saúde da Família (USF) São Sebastião, no município de Nova Cruz, Rio Grande do Norte (RN), existem 26 pacientes alcoólicos cadastrados, mas se estima que a ocorrência do etilismo seja bem maior. Tendo em conta que o alcoolismo é um fator de risco de doenças cardiovasculares como Hipertensão Arterial Sistêmica, consideramos a importância da realização desta microintervenção com a finalidade de diminuir o índice de uso e abuso do álcool nesta comunidade, assim também estimular estilos de vida mais saudável.

Considerando, que se trata de um problema complexo, que engloba aspectos sociais, culturais, econômicos e de saúde, os quais direta ou indiretamente afetam a sociedade como um todo. Com a realização desta microintervenção pretendemos trabalhar em prevenção e educação como estratégia relevante e necessária ao enfrentamento do alcoolismo nesta comunidade.

Acredita-se que a família tenha um papel determinante na reinserção desses indivíduos na sociedade, podendo também incidir negativamente sobre os mesmos promovendo retorno ao vício. Tendo em vista os efeitos deletérios do álcool sobre o indivíduo e sobre a sociedade, a microintervenção justifica-se pela possibilidade de intervir junto às famílias assistidas na comunidade, orientando sobre os riscos do alcoolismo, estimulando os pacientes etilistas a procurarem tratamento, e promovendo um maior acolhimento dos dependentes químicos e seus familiares e rede de apoio na Unidade de Saúde.

O objetivo da microintervenção foi realizar ação educativa sobre alcoolismo na comunidade. Para tanto, foram realizadas ações de capacitação da equipe assistencial, busca ativa por etilistas, consultas e aconselhamento individual, além de realização de palestras. 

  • Capacitação da Equipe Assistencial: foi realizada durante uma tarde na própria Unidade Básica de Saúde (UBS) e teve como objetivo além de apresentar a microintervenção, estimular a humanização e acolhimento dos pacientes na Unidade.
  • Busca Ativa: foi realizada busca ativa na comunidade por casos de etilistas. Como é frequente a resistência em assumir o vício, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) também entregaram panfletos sobre o alcoolismo, já disponibilizados pelo Ministério da Saúde. 
  • Palestras: foram realizadas duas palestras abordando o tema do etilismo e apresentando os tratamentos possíveis existentes na própria USF.
  • Consultas e aconselhamento individual: os etilistas encontrados na busca ativa (n=29) foram ouvidos individualmente, consultados e orientados quanto ao tratamento disponível. No município, existe um grupo de apoio com reuniões mensais e foi apresentado aos pacientes a possibilidade de participarem de tal grupo.

 As ações realizadas tiveram como base a política de redução de danos, em que há soberania da autonomia do paciente. Não foram observados resultados imediatos de abandono do hábito e estes também não eram esperados dada a complexidade da questão do etilismo. Entretanto, entende-se que até mesmo a participação dos pacientes e seus familiares nas ações educativas, o melhor preparo da equipe e a frequência dos pacientes nas consultas (18 pacientes se consultaram), já representa um grande êxito.

Além desta ação, realizamos a discussão em equipe de um caso clínico que chama atenção pelo êxito do acompanhamento. Trata-se de uma família composta por quatro membros: pai, mãe, filho de 12 anos e crianças de sete anos. O filho de 12 anos procurou a ACS solicitando ajuda, pois sua irmã de 07 anos não ia à escola e era muito maltratada pelos pais, que imersos no universo do etilismo, não cuidavam dos filhos ou da casa como deveriam.  Ao relatar o caso na USF, a equipe decidiu procurar auxílio do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e foi prontamente atendido pela Assistente Social.

Marcamos então uma consulta em que deveriam estar presentes o casal e seus dois filhos. Ao chegarem à USF, as crianças foram encaminhadas para avaliação médica e de enfermagem e a Assistente Social, procedeu-se uma reunião com os pais, acompanhada de um psicólogo do Núcleo Ampliado em Saúde da Família (NASF). Percebeu-se que o etilismo se intensificou há oito meses, com a morte do filho mais novo (cinco anos), por uma “bala perdida”. Desde então, a mulher que nunca havia bebido passou a acompanhar o marido ao bar até chegar à condição atual.

A Assistente Social foi bem clara quanto ao risco de perderem a guarda das crianças, importância de matricular a filha na escola e procurarem tratamento para o etilismo. O casal está fazendo uso de medicação e tem acompanhamento semanal com médico da USF e psicólogo do NASF. A filha mais nova foi matriculada na escola e o filho mais velho relatou durante sua consulta que houve grande melhora no ambiente familiar. É importante salientar que o acompanhamento só teve êxito pelo pronto atendimento dos profissionais do NASF e do CRAS, que deram todo suporte necessário a USF.

 

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