ACOMPANHAMENTO AOS PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS NA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DR. JOSÉ FERNANDES ARAÚJO, MUNICÍPIO ROSÁRIO DO CATETE.
ESPECIALIZANDO: MANUEL EDEL SALINA FERNÁNDEZ
ORIENTADOR: ROMANNINY HEVILLYN SILVA COSTA
A saúde mental está relacionada com a promoção de saúde, prevenção de transtornos mentais e o tratamento e a reabilitação das pessoas afetadas pelos mesmos.
Sabemos que a rede de saúde mental deve e pode ser constituída por vários dispositivos assistenciais que possibilitem a atenção psicossocial aos pacientes portadores de transtornos mentais, ainda deve ser baseada segundo critérios populacionais e as demandas específicas de cada município.
No município em que atuo como médico da Estratégia de Saúde da Família não possui uma rede de atenção a saúde mental segundo os critérios previstos pelo Ministério de Saúde, o mesmo não possui um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), nem Núcleo de Apoio à Saúde da Família -NASF, tampouco outros programas específicos voltados para esta assistência e que desenvolva estas ações de saúde mental na atenção básica.
Hoje, nosso município conta apenas com os serviços de Psicologia e Psiquiatria, porem não vinculados ao CAPS ou NASF, sendo o fluxo da seguinte forma: quando o paciente é atendido na Unidade Básica de Saúde, caso seja identificada a necessidade do atendimento específico, este é encaminhado pelo médico da equipe, onde o usuário se dirige a Secretaria de Saúde para respectivo agendamento. Entendo que toda a Atenção Básica deveria funcionar de forma articulada, se tivéramos o CAPS como serviço estratégico na organização e da regulação dessa rede.
Entendo também que a Introdução de uma rede de saúde mental no âmbito das ações da Atenção Primária à Saúde constitui um grande desafio em todo mundo, mas devemos partir do ponto de que oferecer um cuidado em saúde mental desde a atenção básica é garantir que o princípio da integralidade preconizado pelo Sistema Único de Saúde, seja cumprido, devendo assim a Unidade básica de saúde ter papel fundamental na coordenação das redes e garantir ao usuário o acesso oportuno de acordo com as suas necessidades.
No nosso município, os pacientes que tem transtornos depressivos, ansiedades ou outros podem solicitar os medicamentos indicados pelos profissionais médicos na farmácia municipal. Os medicamentos psicotrópicos formam parte da lista de medicamentos disponibilizados pelo Sistema único de Saúde (SUS), sendo controlados e dispensados através de receitas especiais em diferentes apresentações.
Eles incluem os sedativos como o diazepam, que são indicados nos distúrbios de ansiedade e o sono; também encontramos a fluoxetina ou a sertralina que são prescritos nos transtornos depressivos; aqueles pacientes que sofrem de alucinações ou delírios são controlados com os antipsicóticos, tais como a risperidona e haloperidol, e por último, encontramos o lítio que junto a determinados anticonvulsivantes são utilizados no tratamento dos distúrbios afetivos do humor e outras condições.
Em reunião com a equipe de saúde, falou-se sobre a necessidade de ter um controle dos pacientes que fazem uso das medicações “controladas”. Decidimos elaborar uma planilha para acompanhar os usuários de psicofármacos, com o fim de ter um controle das medicações que tomam assim como a posologia e se tiveram alguma consulta com o psiquiatra. Desse modo, garantimos um melhor acompanhamento dos doentes. Além disso, obteremos o diagnóstico necessário pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
No instrumento incluímos a data do atendimento do médico da UBS, nome e sobrenome, data de nascimento, idade, endereço, CID-10, medicamento com sua apresentação, a dose diária para ser tomada e a data de avaliação pelo psiquiatra (no caso tenha sido avaliado) (apêndice 1). Construir o instrumento de registro solicitado pelo PMAQ foi um grande desafio, principalmente pela desarticulação desse serviço em meu município, porém foi também bastante gratificante, pois ao tempo em que construí esse instrumento percebi que deveria torná-lo objeto principal da microintervenção sobre essa linha de cuidado.
Desta forma e através da utilização e melhora constante deste instrumento poderemos de hoje em diante traçar o perfil de nossos usuários portadores de saúde mental, o que não era possível anteriormente, bem como acompanhá-los de uma forma mais rigorosa e direcionar ações especificas voltadas a cada necessidade.
Além deste instrumento, identifiquei a necessidade de construção de outro de Referência e Contra Referência para que a partir da implementação do mesmo possamos melhorar a atenção ao paciente, além de que com este instrumento será possível trocar informações acerca do paciente de forma mais efetiva (Apêndice 2).
Paciente M.A.M.G, 50 anos, viúva, aposentada, tem 3 filhos e 3 netos, portadora de Esquizofrenia que foi diagnosticada há 5 anos, seu quadro de doença mental é instável por apresentar delírios, alucinações e agressiva com os seus familiares, às vezes. Fizemos uma visita domiciliar para orientações sobre o uso das medicações e conhecimento do núcleo familiar.
Foi percebido um ambiente familiar instável com conflitos por parte dos filhos em virtude de quem iria residir com a mãe e tomar conta da mesma, este conflito parte de seus dois filhos mais velhos que são casados e somente vão visitá-la e pagar as despesas da casa e as medicações; a filha com a qual reside apresenta problemas de saúde mental, pois desenvolveu depressão pós-parto com agravamento do quadro e agora esta fazendo uso de drogas e bebidas alcoólicas, a família já foi abordada em diversas ocasiões com relação ao quadro de saúde mental da mãe e da sua filha mais nova, pois as duas não podem residir sozinhas.
As dificuldades no desenvolvimento do tratamento por parte da equipe de Saúde da Família vêm da deficiência do serviço por não possuir o NASF e o CAPS para realizar abordagens e terapias adequadas. Em todas as visitas da equipe à paciente sempre são convocados os filhos para falar sobre as condutas, o uso correto das medicações, a necessidade de avaliação psiquiátrica e a realização de atividades para eliminar a ociosidade da mesma.
A equipe aprendeu que se faz necessário a abordagem, a comunicação e a humanização para obter sucesso nesses casos. As famílias precisam união já que o fortalecimento familiar proporciona estabilidade na saúde mental dos pacientes.
Percebo que tanto para mim, como médico da equipe quanto para os demais profissionais da equipe sabemos que para o fortalecimento e cuidados são necessários os processos educativos permanentes aos funcionários da Atenção Básica, com assistência do cuidado ao paciente e sua família e a sensibilização da comunidade para saber as necessidades e dificuldades que enfrentam no dia a dia.
Deveriam existir mais estratégias por parte da gestão referente à educação permanente neste tema, para que assim possamos estar preparados para lidar com o mesmo.
Além disso, percebo a necessidade de um maior investimento para que ocorra uma melhor organização dos sistemas de saúde municipais, especialmente nos serviços envolvendo a rede de saúde mental do município a fim de garantir o acesso da população aos serviços adequados e a uma melhor assistência, além do fortalecimento da rede de saúde mental, o que poderia ocorrer principalmente através da Implantação de um CAPS Regional no município.
Apêndices:
Apêndice 1:
Apêndice 2:
Ponto(s)