13 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos
AÇÕES DE MELHORIA DO ATENDIMENTO À SAÚDE MENTAL NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE MÃE CRISTINA
ESPECIALIZANDA: LISBETH PÉREZ MENÉNDEZ
ORIENTADORA: DANIELE VIERA DANTAS

   Negligenciada por demasiado tempo, a Saúde Mental é entendida hoje como essencial para o bem-estar geral das pessoas, das sociedades e dos países, devendo ser universalmente encarada sob uma nova perspectiva (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2001). Com isso, o manejo precoce e o tratamento de transtornos mentais no contexto da Atenção Primária possibilitam a um maior número de pessoas ter um acesso mais fácil e rápido a esses serviços, proporcionando não somente uma atenção melhor como reduzindo o desperdício com exames supérfluos e impróprios.Em 2013, os dados apresentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2013) no “Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020” apontam que doenças mentais e neurológicas atingem hoje, aproximadamente, 700 milhões de pessoas em todo mundo, e pelo menos um terço dos que sofrem com problemas psíquicos não tem sequer acompanhamento médico.

   Ao longo do tempo no Brasil existirem várias transformações na atenção ao paciente com sofrimento psíquico. Em consonância com os preceitos da Reforma Psiquiátrica Brasileira, a constituição do Sistema Único de Saúde (SUS) desencadeou uma série de mudanças nas modalidades de cuidado em Saúde Mental, a qual destronou o modelo centrado exclusivamente no hospital psiquiátrico, para ações e modelos mais humanizados em dispositivos abertos e inseridos na comunidade (BRASIL, 2005; SILVA, 2009; TENÓRIO, 2002). Depois dessas mudanças a qualidade de vida destes pacientes aumentou significativamente, porém existem algumas dificuldades em todos os níveis de atenção que devem ser resolvidas.

   Desde que comecei o trabalho no Brasil, especificamente na Unidade Básica de Saúde (UBS) Mãe Cristina, em Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte (RN), percebi que existe um elevado número de pacientes que consomem enorme quantidade de psicofármacos, durante períodos prolongados de tempo e sem supervisão médica. Com o objetivo de otimizar os atendimentos destes pacientes na comunidade decidi realizar uma micro intervenção.

  A partir de uma análise desta situação e em conjunto com a equipe de saúde elaboramos uma base de dados de pacientes com doenças psiquiátricas e incluímos no livro de registros outros aspetos antes ignorados. Encontrei algumas dificuldades pois a equipe não possuía registro dos usuários em uso crônico de benzodiazepínicos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e antidepressivos. Além disso o registro de usuários com necessidade decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas somente estava contemplada no prontuário individual de cada paciente, não existia um registro organizado.     

  Primeiramente foi necessário elaborar um instrumento prático que permite coletar cada um dos aspectos necessários como: nome do paciente, data de nascimento, doença psiquiátrica diagnosticada, outras doenças crônicas associadas, medicamentos que consomem, dosagem e tempo de tratamento. Para isso, construímos um livro de registro de pacientes, no qual foi muito importante a participação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para fazer as visitas domiciliares aos pacientes já diagnosticados e coletar os dados necessários.

  Na UBS não temos planejamento de consultas para as pessoas com sofrimento psíquico, elas chegam por livre demanda, mas o tempo de espera para o primeiro atendimento é mínimo, sempre há prioridade. Por enquanto, estabeleci um horário fixo semanal para fazer os atendimentos aos pacientes com estas doenças e assim avaliar o estado de saúde real de cada paciente. Foi escolhido as quartas-feiras pela manhã como o momento dedicado à saúde mental. Durante o atendimento, é possível analisar o tempo de tratamento, a evolução de cada paciente e assim a efetividade do tratamento. E nesta etapa, percebemos algumas dificuldades como o desconhecimento dos pacientes de seu diagnóstico e a duração do tempo de tratamento, sendo necessário encaminhar muitos deles para o psiquiatra novamente.

  Par realizar a linha de cuidado escolhi um paciente masculino, 42 anos, com história de transtorno afetivo bipolar diagnosticado há mais de 10 anos. Ao chegar à consulta, acompanhado de sua mãe, comecei o interrogatório necessário para esclarecer sobre início da doença, fatores desencadeantes, história familiar de doenças psiquiátricas e outras. Quanto ao seu estado de saúde atual, apresentava quadro de ansiedade há um mês, hipertensão arterial e uso de álcool e cigarro. O tratamento medicamentoso inclui Rivotril, 1 comprimido, à noite; Carbonato de Lítio 300mg, 1 comprimido, pela manhã; Depakote 250 mg, 1 comprimido, à tarde. Para controle da hipertensão arterial faz uso de Captopril 25 mg, 1 comprimido, pela manhã. Ao exame físico, não foi achado sinais de outras doenças. No final do atendimento, além de renovar as receitas dos medicamentos, indiquei exames complementares para avaliar condição renal, cardiovascular e hepática assim como os níveis de sódio em sangue e de plaquetas. Realizei as orientações gerais dando ênfase no abandono do consumo de álcool e cigarro, explicando os danos que atinge em sua saúde e agendei uma consulta para avaliá-lo após um mês. Depois da avaliação completa do paciente, elaborei resumo da história clínica e decidi encaminhá-lo para os serviços especializados existente no município com o objetivo de evitar a necessidade de hospitalização, impedir comportamento autodestrutivo e suicídio e reduzir a gravidade e a frequência dos episódios.

  Em nosso município, existe um Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) II que atende entre 60 a 70 mil pessoas e 37 municípios, contando com psicólogo, psiquiatra, monitor de pedagogia, terapeuta ocupacional e educador físico, além de assistente social que é encarregado recepcionar o paciente e de iniciar a ficha e história individual. No CAPS II, o paciente poderá contar com vários tratamentos, medicamentoso e outras terapias. Entre as terapias disponíveis no município está a terapia cognitiva comportamental, psicoterapia e terapia familiar. O município não conta com serviço de atenção aos usuários de drogas e álcool, mas conta com atenção ao paciente fumante. Além disso, existem dois Núcleos Ampliado de Saúde da Família (NASF) que atendem cada um dos postos de saúde e que contam com psicólogo, fonoaudiólogo, nutricionista, educador físico e fisioterapeuta.

   Entre as potencialidades do município existe uma boa organização na rede de saúde mental, contamos com todos os especialistas e além disso muitos medicamentos são entregados de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde. Embora existam dificuldades, com a contrarreferência dos especialistas que muitas vezes não são enviadas para o médico da atenção básica, que fica em total desconhecimento e a existência do preconceito da população que considera que o CAPS e somente para doidos.

  Entre as mudanças observadas com esta micro intervenção destacam-se maior controle dos pacientes com doenças psiquiátricas e consumo de psicofármacos. Considero que no futuro a UBS será capaz e realizar atividades educativas encaminhadas a este tipo de pacientes cumprindo com o estabelecido no Programa de Melhoria da Qualidade da Atenção Básica e alcançando maior qualidade de atendimento.

REFERÊNCIAS

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Relatório sobre a saúde no mundo. Saúde Mental: nova concepção, nova esperança. Brasília, 2001.

_. Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020. Geneva, Switzerland: OMS, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental no SUS. Informativo da Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. v. 4. n. 21.

_SILVA, M. B. B. Reforma, responsabilidades e redes: sobre o cuidado em Saúde Mental. Ciência & Saúde Coletiva, v. 14, n. 1, p. 149-158, 2009.

_TENÓRIO, F. A reforma psiquiátrica brasileira da década de 1980 aos dias atuais: história e conceito. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 9, n. 1, p. 25-59, 2002.

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