18 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Título: Ações na atenção à saúde mental na Unidade Básica de Saúde Clemildo Amâncio dos Santos, do município de Umbaúba, no estado Sergipe.

Espccializando: Lieni García Martín.

Orientador: Maria Helena Pires Araújo Barbosa.

            A Saúde Mental é um dos problemas mais comuns e com alta prevalência nos territórios de saúde de todo o Brasil. Não existe ao certo uma definição formada sobre saúde mental, pois além de sua dimensão biológica e psíquica, fatores culturais, sociais e econômicos exercem influência e podem estar a ela atrelados, e sua manifestação pode afetar aspectos relacionados aos sentimentos, pensamentos, comportamentos e atividades ocupacionais, bem como em perturbações e problemas em relação a sua vivência social, familiar e pessoal como um todo (BRASIL, 2013).

            Com o desenvolvimento e melhoria das ações de saúde, a saúde mental é entendida hoje como essencial para o bem-estar geral das pessoas, das sociedades e dos países. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) se constitui numa estratégia adequada para trabalhar a saúde mental na atenção básica, estando suas equipes engajadas no dia a dia da comunidade, incorporando ações de promoção e educação para a saúde na perspectiva da melhoria das condições de vida da população.

            A Unidade Básica de Saúde (UBS) Clemildo Amâncio dos Santos, localizada no povoado Matinha, do município de Umbaúba/SE tem uma área de abrangência grande, realizando ações de atenção à saúde para 5600 usuários. A equipe aderiu ao Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção (PMAQ) e a saúde mental está organizada com requisitos mínimos desse programa.

            Com relação ao registro dos usuários em uso crônico de psicotrópicos, foi observado que os dados eram insuficientes e que havia um subregistro no número de usuários de drogas lícitas e ilícitas. Para sanar essa problemática, foi realizada uma reunião com a equipe da atenção básica: a médica, o enfermeiro, auxiliar e técnico de enfermagem, 13 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), o cirurgião-dentista e a auxiliar em saúde bucal. Foram avaliados os dados necessários para incrementar as folhas de cadastramento dos clientes que possuem demandas de saúde mental. Os padrões foram avaliados em conjunto com todos os participantes da reunião.

           Os objetivos da equipe são garantir o registro atualizado de todos os usuários de psicotrópicos, assim como daqueles que são dependentes de álcool e/ou outras drogas ilícitas do território e viabilizar o atendimento oportuno de acordo com as necessidades de saúde dos indivíduos.

            Para alcançar os objetivos, a médica da equipe realizou uma sensibilização sobre saúde mental para a equipe de saúde da atenção básica. Os dados foram coletados das seguintes fontes: registros dos prontuários individuais da Unidade Básica de Saúde (UBS), de fontes secundárias como Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), sala de situação, entrevistas com informantes-chave da comunidade utilizando questionários curtos e observação ativa da área pelos membros da equipe, realizada especialmente pelos ACS. Foi necessário trabalhar com folhas de papel, canetas, laptop, como material de apoio.

            Existiram dificuldades na realização da reunião, pois não tive um 100% de assistência dos ACS, por encontrarem-se de férias ou licença maternidade. Os principais fatores que dificultaram o controle dos usuários com dependência aos psicotrópicos e/ou consumidores de drogas lícitas ou ilícitas foram, em grande parte, relacionados às situações desgastantes do dia a dia, à falta de enfrentamento da doença pela desinformação, a desorganização do processo de trabalho do serviço de saúde e o elevado número de usuários na área de abrangência da equipe.

           Hoje a equipe possui registro dos usuários em uso crônico de benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, estabilizadores de humor, bem como os ansiolíticos, também possui registro do número dos casos mais graves de usuários em sofrimento psíquico assim como registro dos usuários com necessidade decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas.

          A elaboração das folhas de cadastramento permitiu um melhor acompanhamento desses usuários e contribuiu para reforçar a importância de conhecer os fatores que dificultam a adesão da pessoa com demandas que necessitam de atenção em saúde mental ao tratamento farmacológico e/ou não farmacológico, considerando seus conhecimentos, suas características individuais e sua cultura, conhecendo melhor a sua maneira de ser, sentir e agir.

            A equipe, como parte da organização do trabalho, faz o cronograma de cada mês e com isso a programação dos atendimentos dos clientes de saúde mental, sejam na UBS ou nas casas como visitas domiciliares, dependendo da situação individual do usuário.

            Assim os usuários que estão cadastrados têm o acompanhamento de 3 em 3 meses com os profissionais da equipe, onde é avaliado o estado geral, a adesão ou não ao tratamento, pode ser realizada a renovação ou modificação dos medicamentos ou doses. Reconhecendo que o apoio da família é muito importante, a equipe estimula sempre um acompanhante nas consultas. É possível oferecer informação aos clientes e suas famílias em processos de educação em saúde. É importante diminuir os fatores de riscos modificáveis, na população, sensibilizando as pessoas de toda a comunidade sobre a importância da promoção da saúde e da prevenção de danos secundários da doença.  Elas podem ser alcançadas por meio da adoção dos estilos de vida saudáveis.

            Os clientes que não estão cadastrados chegam à consulta por demanda espontânea, agendada ou programada. O acolhimento é oferecido para escuta ao usuário de modo que ele se sinta seguro para expressar suas preocupações e dúvidas, e que o usuário crie vínculo com os membros da equipe que vão estar disponíveis para o acompanhamento dele. Também há a avaliação pelo clínico geral, definindo-se o diagnóstico e tratamento.

            Dependendo do estado do indivíduo pode ser necessário o atendimento do cliente de forma compartilhada com outros serviços, e para isso ele pode ser encaminhado para a avaliação pelo especialista no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB). O usuário também pode participar das atividades em grupo como parte do tratamento não farmacológico. Os casos necessários são encaminhados para o Hospital Psiquiátrico, que fica no município capital do estado. 

            Na equipe da UBS em questão, está programado para as últimas quartas feiras de cada mês o matriciamento com os representantes dessas instituições e os membros da equipe. Essa é uma estratégia de organização da clínica e do cuidado em saúde a partir da integração e cooperação entre as equipes responsáveis. Sendo assim, é feito um intercâmbio muito proveitoso, discussão de casos, atendimentos compartilhados, atendimentos individuais do profissional do NASF-AB precedida ou seguida de discussão com a ESF, construção conjunta de projetos terapêuticos, ações de educação permanente, intervenções no território e na saúde de grupos populacionais e da coletividade, ações intersetoriais, ações de prevenção e promoção da saúde, assim como discussão do processo de trabalho das equipes.

            Dentre as dificuldades que afetam os profissionais da USB destaca-se a ausência da contrareferência dos encaminhamentos feitos e as constantes mudanças dos médicos psiquiatras.

            Diante do apresentado, na UBS Clemildo Amâncio dos Santos, uma das Agente Comunitária de Saúde, aproveitou o momento da reunião de avaliação da equipe para apresentar o caso que tinha acontecido na sua área na tarde do dia anterior. Como todos os dias ela fazia as visitas quando chegou em uma casa onde moram mãe e filha. A ACS não tinha sido bem recebida em uma visita domiciliar anteriormente e estranhou porque mesmo sendo de conhecimento que essa usuária tem transtornos psiquiátricos nunca tinha tido esse comportamento.

            Poucos minutos depois a mãe da usuária encontra a nossa ACS e lhe fala que a sua filha tem uma perna doente, mas que se recusa a sair de casa para avaliação médica. Chegamos ao acordo para fazer uma visita domiciliar com urgência com a equipe multidisciplinar da equipe 04, sendo essa composta pela médica, o enfermeiro, técnica de enfermagem e ACS.

            Na nossa chegada à casa a mãe da cliente referiu que há dias ela havia começado a apresentar comportamento estranho, falta de apetite, sem sair de casa nem falar com ninguém, com queixa de dor na perna, febre, não fala, , não dorme direito e refere que além disso escuta vozes que falam coisas ruins. 

            A usuária D.A.S. de 43 anos tem antecedentes pessoais de esquizofrenia paranóide e tem sido acompanhada por psiquiatras particulares de forma irregular, e abandona o tratamento frequentemente. Ademais, ela recusa o acompanhamento pelo especialista do Sistema Único de Saúde (SUS). Mora só com a mãe, não casou e não teve filhos, não trabalha e nem estuda. A genitora referiu que D.A.S. não é de muitos amigos. Durante a vista, a mãe relatou que esse seria o segundo surto que a filha sofrera e que o último ocorreu há mais de 8 anos.

           Durante a consulta a usuária não colaborou com a anamnese, e nem com o exame físico. Mostrou a perna da lesão de longe e se trancou no quarto. Na inspeção deu para ver o membro inferior direito com aumento de volume e pele avermelhada.

           Fiz a prescrição de antipsicótico, analgésico e antibiótico para uso oral e realizei as indicações para o cuidado da usuária. Além de explicar à mãe solicitaria a avaliação psiquiátrica da cliente e haveria uma visita domiciliar da equipe do Centre de Atenção Psicossocial (CAPS). Também fiz o encaminhamento para o pronto atendimento da cidade, mas a mãe referiu que não ia levar a filha. A paciente saiu do quarto e referiu que não quer tomar remédios e que não vai sair da sua casa.

           Foram feitas as articulações para a avaliação imediata pelo psiquiatra e a equipe do CAPS numa visita domiciliar. A usuária nem saiu do quarto para falar com a equipe, recusou a nossa atenção e não aderiu ao tratamento indicado. A avaliação com o psicólogo do CAPS foi realizada por meio de visita domiciliar e depois de 2 dias ele conseguiu interagir com a usuária. Entretanto, ela continuou sem ingerir os medicamentos prescritos.

         O psiquiatra voltou após 3 dias da visita domiciliar à casa da usuária e ela aceitou falar com as pessoas da equipe dele, ficou mais comunicativa e referiu os mesmos sintomas. Depois da seção de terapia a cliente aceitou começar o tratamento, mas com a ideia de que os comprimidos são para controlar os nervos. Além disso, começou o tratamento antipsicótico IM e o tratamento para a linfangite do membro inferior direito.

           Após 72 horas do início do tratamento foi feita a visita domiciliar pela equipe multidisciplinar 04 para avaliação da evolução da usuária em conjunto com a equipe do CAPS. A melhoria foi evidente e a usuária foi orientada a participar das atividades feitas no CAPS. Por fim, ela foi agendada para consultas semanais com o psiquiatra, durante o primeiro mês de tratamento, e sendo acompanhada também pela equipe de saúde da família 04.

            Após as consultas com o psiquiatra, o psicólogo e a médica da equipe da atenção básica, a usuária obteve melhoras no estado geral. Foi explicado para a cliente e a mãe dela sobre a importância da adesão ao tratamento e do acompanhamento regular no CAPS. Atualmente D.A.S está compensada e exerce atividade laboral.

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