3 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Título: De Portas Abertas

Especializando: LÍDIA GALVÃO WILHELM

Orientadores: Maria Betania Morais de Paiva

Colaborador: Mackson Emiliano Farias da Silva (Agente Comunitário de Saúde) 

      O movimento da reforma psiquiátrica com o processo de desinstitucionalização, vem favorecendo a construção de estruturas externas capazes de substituir os hospitais psiquiátricos e, dessa forma, construir uma rede de atenção de acordo com cada grau de complexidade. A Unidade Básica de Saúde se coloca em seu nível mais básico. 

 Em nossa unidade, estamos participando de um curso de especialização e no módulo de saúde mental, como tarefa de microintervenção, foram colocados para nossa reflexão, alguns tópicos de avaliação do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade (PMAQ) que subsidiariam iniciativas para melhorar a assistência para nossa comunidade.

Um dos nossos grandes problemas identificados foi a constatação de que sequer conhecíamos os nossos usuários de saúde mental: não contávamos com nenhum instrumento de registro de pessoas que usam medicação ou álcool e outras drogas.Juntamente com essa reflexão,foi proposto a elaboração de um instrumento que nos permitisse conhecer e melhorar o acompanhamento de usuários de psicotrópicos.

Reunimos a nossa equipe e colocamos em discussão qual seria a melhor forma de registro e que dados seriam inseridos no mesmo.

 

Optamos, então, por elaborar uma planilha como se apresenta abaixo, para implantação imediata. 

REGISTRO DE SAÚDE MENTAL

Número

Nome

Cartão Nacional do SUS

Número do Prontuário

CID 10

Medicação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cada usuário de saúde mental que vá à unidade para atendimento terá seus dados inseridos na planilha e seu número registrado no cartão de prontuário, para não ocorrer risco de duplo registro. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) também deverão fazer busca ativa daqueles mais resistentes ao atendimento.

Ao chegar esse usuário à UBS, o que podemos oferecer em relação ao atendimento? Como está organizada a nossa rede de atenção? Emergiram do grupos esssas questões problematizadoras. 

Novamente nos reunimos enquanto equipe para conversar a respeito dessa rede e sobre o que podemos fazer para melhorar esse atendimento.

No Distrito Oeste, onde estamos inseridos, temos as seguintes unidades da rede com as quais podemos contar ao encaminhar os nossos usuários e ao elaborar para cada um a sua linha de cuidados:

– Policlínica da Cidade da Esperança;

– Centro de Atenção PsicoSocial Infantil (CAPS-I); 

– Centro de Atenção PsicoSocial (CAPS);

– Centro de Convivência;

– Centro de Atenção PsicoSocial Alcool e Drogas (CAPS-AD);

– Hospital Colônia Doutor João Machado.

Como exemplo, vamos relatar a construção da linha de cuidados para uma usuária do nosso serviço, a adolescente L. B. G. X. de 16 anos que frequenta nossa unidade desde de Janeiro de 2018, quando chegou apresentando um quadro depressivo grave, com tentativas de suicídio.Foi medicada e encaminhada para o CAPSI onde começou a ser atendida pelos psicólogo e psiquiatra e ainda, acompanhada pela equipe da UBS.Há  uma semana, a mãe nos procurou preocupada pelo fato da filha recusar a medicação prescrita, continuar com pensamentos negativos e tentar o suicídio duas vezes no último mês. 

Desse modo, solicitei a vinda da usuária para consulta e juntamente com a mãe conversamos a respeito das alternativas de tratamento disponíveis. A mesma referiu que a psicoterapia “não acrescentava nada”, a medicação a deixava “como um zumbi” e “era antissocial” para participar de grupos. Enfim, foi aventada a possibilidade de internação, alternativa que teve a sua aceitabilidade como “esperança” de controle e melhor adaptação ao tratamento. A dificuldade era conseguir alguém para acompanhá-la na internação.  

A psiquiatra foi articulada no CAPSI e fez a solicitação de vaga no hospital. A família saiu em busca de alguém para companhia e, assim, ficou traçada a linha de cuidados de L. B. G. X. articulando Unidade Básica de Saúde, CAPSI e hospital.

Não foi uma tarefa das mais simples, em virtude das dificuldades enfrentadas:

– Não existe na rotina, uma integração das equipes das várias unidades;

– Não contamos com o NASF para matriciamento e, dessa forma, ficamos sem apoio para discussão e encaminhamento dos casos;

– O sistema de referência e contra-referência não funciona, faltam vagas para consultas especializadas e quando elas acontecem não nos chegam as contra-referências.

No entanto, contamos com vários pontos positivos: o estímulo à participação das equipes da minha unidade nas discussões de casos, a melhora das relações entre as unidades da rede de cuidados e, enfim, a possibilidade concreta de organizarmos a linha de cuidados da nossa adolescente com a sua participação e a definição daquele tratamento mais viável para a mesma.

 

 

[4]Hirdes Alice. A reforma psiquiátrica no Brasil: uma (re) visão. Ciênc. saúde coletiva  [Internet]. 2009  Feb [cited  2018  Aug  24] ;  14( 1 ): 297-305. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232009000100036&lng=en.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000100036.

 

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