TÍTULO: A SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NA UNIDADE DE SAÚDE SALÉM DUARTE.
ESPECIALIZANDO: LEDYS HERRERA BACERRA
ORIENTADOR: MARIA BETANIA MORAIS DE PAIVA
COLABORADORES: MEIRE SOUSA, AMANDA KALINE, IONE DE ARAUJO, MARIA EDLEUZA SOARES, POLIANA SANTANA.
A experiência a ser relatada nesse tópico diz respeito a microintervenção sobre o funcionamento da linha de cuidado em saúde mental na ESF Drº Salém Duarte, com a elaboração do instrumento de avaliação externa do Programa de Melhora do Acesso e Qualidade na Atenção Básica (PMAQ-AB) e conhecimento da Rede de Atendimento Psicossocial (RAS).
A Reforma Psiquiátrica Brasileira iniciada no fim da década de 1970, possibilitou uma transformação na assistência à saúde mental, propondo novos espaços para os sujeitos com sofrimento psíquico intenso, que antes tinham apenas o manicômio como alternativa de ‘tratamento” (MARTINHAGO; OLIVEIRA, 2012).
Assim, a Lei Federal 10.216, de 2001 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispondo sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais. O processo de desinstitucionalização de pessoas internadas é impulsionado, com a criação do Programa “De Volta para Casa”, constituindo uma política de recursos humanos para a Reforma Psiquiátrica e traçando a política para a questão do álcool e de outras drogas, incorporando a estratégia de redução de danos (BRASIL, 2005).
Logo após, houve a construção de uma rede comunitária de cuidados, que foi fundamental para a consolidação da Reforma Psiquiátrica, substituindo o hospital psiquiátrico e segundo o Ministério da Saúde (2011), na horizontalização decorrente do processo de matriciamento, o sistema de saúde se reestrutura em dois tipos de equipes: Equipe de referência e Equipe de apoio matricial.
Primeiramente foi convocada uma reunião com a equipe de saúde para preencher a ficha espelho do PMAQ/AB sobre a atenção em saúde mental prestada pela unidade.[MB1]
Fonte: PMAQ/AB
Durante a reunião, a equipe se mostrou prestativa e como potencialidade os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) se prontificaram a unir-se para preencher a ficha espelho (instrumento) dentro de período de duas semanas.
Como é possível observar na imagem, a unidade realiza todas as ações identificadas pelo PMAQ/AB. As consultas para as pessoas em sofrimento psíquico são agendadas em dias específicos e em horários específicos, sempre utilizando como apoio matricial o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e o Núcleo Ampliado em Saúde da Família (NASF).
O tempo de espera para o primeiro atendimento de pessoas em sofrimento psíquico na unidade de saúde é mínimo, sendo a consulta realizada no mesmo dia para melhorar o fluxo de atendimento.
A equipe realiza ações para pessoas que fazem uso crônico dos medicamentos como os benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, estabilizadores de humor, bem como, os ansiolíticos de um modo geral para o acompanhamento e avaliação dos casos e diminuição das doses quando indicado.
A Equipe de Saúde da Família (ESF) onde atuo funciona como equipe de referência interdisciplinar, atuando com uma responsabilidade sanitária que inclui o cuidado longitudinal em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) realizando esclarecimento diagnóstico, estruturação de um projeto terapêutico e abordagem da família.
Para exemplificar como funciona a Rede de Atendimento Psicossocial (RAPs) na minha cidade, tomo por base o atendimento a um caso com a paciente XX que veio até a ESF necessitando de uma atenção integral em saúde mental, pois esta é usuária de drogas ilícitas e apresentou o desejo de parar com o vício.
As estratégias para trabalhar com os usuários de drogas lícitas e ilícitas consistem na clínica ampliada e apoio matricial, com atendimento e acolhimento integral e intersetorial, onde:
– A paciente X.X compareceu a UBS e foi atendida e acolhida primeiramente pelo enfermeiro;
– Depois, a usuário foi atendido por mim (médica), e utilizei o ASSIST[MB1] , um instrumento útil na triagem do uso abusivo de álcool e outras drogas;
– A usuária foi avaliada clinicamente e psiquiatricamente; foram solicitados exames laboratoriais e de imagem conforme necessário para esclarecimento do quadro clínico/psiquiátrico apresentado;
– De acordo com os resultados dos exames a conduta foi tomada;
– A usuária é aconselhada a interromper completamente o uso da droga;
– É perguntado se ela está preparada para interromper o uso das drogas e é encorajada a procurar um serviço especializado para o qual será encaminhada;
-É encaminhada para o CAPS para tratamento medicamentoso e psicológico, além do apoio familiar e reintegração social.
Dessa forma, a linha de cuidado da paciente condiz com a seguinte representação da CAPS do município:
Fonte: próprio autor
A comunicação com tais serviços ocorre de maneira unilateral, ou seja, o CAPS e o NASF disponibilizam para atendimento mental cerca de 30 vagas cada para a ESF Drº Salém Duarte. Quando um paciente é referenciado, a enfermeira liga para o CAPS ou NASF para o preenchimento de uma dessas vagas e encaminha o paciente para lá. Compete ao CAPS o atendimento com psiquiatra e fornecimento de medicações psicotrópicas e compete ao NASF o atendimento com psicólogos.
Sobre o atendimento oferecido como apoio matricial do CAPS e NASF, como potencialidades temos essas duas equipes que integram e complementam os cuidados em saúde municipal aos pacientes atendidos pela ESF, de maneira perspicaz e satisfatória. Como dificuldades na RAPs do município, há a falta de um hospital psiquiátrico destinado a possíveis internações, pois as mesmas ocorrem no hospital geral da cidade.
A articulação com os serviços do CAPS e NASF foi positiva pois prestaram assistência no desenvolver do caso e de muitos outros, nunca negaram atendimento ou vagas para consultas individuais.
Com a continuidade dessa microintervenção, espera-se que o acolhimento aos usuários de drogas seja mais sensibilizado. O usuário deve ser acolhido a qualquer momento sem preconceitos, sem confrontação, com compreensão e multidisciplinar com o objetivo de atender a todas as demandas e necessidades e não apenas às questões de saúde.
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia prático de matriciamento em saúde mental. [Brasília, DF]: Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011.
MARTINHAGO, F.; OLIVEIRA, W.F. A prática profissional nos Centros de Atenção Psicossocial II (CAPS II), na perspectiva dos profissionais de saúde mental de Santa Catarina. Saúde em Debate. Rio de Janeiro, v. 36, n. 95, p. 583-594, out./dez. 2012.
Ponto(s)