13 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

   

O ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL REALIZADO PELA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DR SUELDO CÂMARA

ESPECIALIZANDO: JORGE ORGES MARTINEZ

ORIENTADOR: MARIA BETANIA MORAIS DE PAIVA

 

Esse relato de experiência irá mostrar como ocorre a atenção a saúde mental na área de cobertura da Unidade Básica de Saúde (UBS) Drº. Sueldo Câmara e a implementação do livro de controle de psicotrópicos, sobre esta ação de microintervenção que foi extremamente necessária na comunidade, tendo em vista o elevado uso de benzodiazepínicos.

Assim, a Rede de Atenção em Saúde (RAS) mental funciona horizontalmente, começando pela porta de entrada que é a UBS e depois a equipe de referência interdisciplinar, atuando com uma responsabilidade sanitária que inclui o cuidado longitudinal em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), realizando esclarecimento diagnóstico, estruturação de um projeto terapêutico e abordagem da família (BRASIL, 2013).

Ou seja, a rede de atenção em saúde mental em meu município funciona da seguinte forma: o paciente é atendido pela UBS Sueldo Câmara e avaliado se será encaminhado ao CAPS (psiquiatra) ou NASF (psicólogo), sendo referenciados a esses dois serviços. Assim o paciente irá ser avaliado e receberá um esquema terapêutico junto a um plano de ação de sua linha de cuidado, e retornará para a UBS (contra referência), para ser acompanhado pela Equipe de Saúde da Família (ESF), a qual dará seguimento ao seu plano de atenção.

A unidade está organizada parcialmente com os requisitos mínimos do Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da Atenção (PMAQ), pois ainda não constava de um instrumento de registro dos pacientes em uso de psicotrópicos na área cobertura. Dessa forma, não era possível ter informações geradas sobre a proporção de atendimentos em saúde mental pela UBS. Este problema foi solucionado mediante a reunião com a equipe que veremos ao decorrer desse relato.

A quantidade de pacientes em uso de benzodiazepínicos atendidos na ESF é ampla e como sugestão de promoção devem-se focar na educação em saúde, através de palestras, oficinas de artesanato, momentos sociais, que estimulem o lazer das pessoas.

A capacitação da equipe para acolhimento e compreensão de alguns transtornos psicossociais e mentais como a ansiedade e depressão é fundamental, ajudando a melhorar o atendimento e acolhimento desses pacientes, subsidiando as práticas do clínico e do enfermeiro e colaborando para que estes também participem das atividades educativas.

Em reunião com os profissionais da Unidade de Saúde da Família Drº Sueldo Câmara, juntamente com a equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), para discussão e seleção dos problemas mais frequentes e de relevância que deparamos no nosso cotidiano, chegamos à conclusão de que o uso contínuo e em longo prazo dos benzodiazepínicos, mais frequentes em mulheres e idosos, é um dos problemas que nos intrigou devido à forma que os usuários vêm fazendo uso da medicação.

A comunidade não tem atrativo cultural, festivo ou esportivo, sendo a maioria da população sedentária e resistente à mudança do estilo de vida, o que seria benéfico à saúde promovendo uma melhora significativa do quadro clínico físico, mental e laboratorial. Tal situação nos chamou atenção, gerando preocupação por parte da equipe devido às implicações que o uso abusivo de benzodiazepínicos pode causar, como dependência.

O uso abusivo de benzodiazepínicos vem se tornando uma preocupação de saúde pública devido ao uso contínuo, dependência e seus efeitos colaterais de leves a graves de acordo com o tempo de uso.

Não se tem uma estimativa exata em relação ao número de dependentes dos benzodiazepínicos na Equipe de Saúde da Família (ESF), este motivo pelo qual levou a desenvolver este trabalho, em busca do desmame dos medicamentos, esclarecimento e consequências que podem ser acarretadas na saúde devido ao uso prolongado e desnecessário.

O tema abordado é algo que vem sendo discutido entre a equipe, sendo assim, um tema importante e um problema a ser resolvido, combatido na área de abrangência.

O uso indevido de benzodiazepínicos tem crescido nos últimos anos e se tornado objeto de preocupação na área da saúde pública junto com outros medicamentos psicotrópicos e o uso indiscriminado da medicação, sem adesão correta ao tratamento podem levar a dependência e ao longo do tempo dificultar o desmame.

Com esse problema em saúde mental na comunidade, houve a descoberta do problema de não ter um livro de registro dos pacientes que fazem uso dos benzodiazepínicos e de outros psicotrópicos, sendo necessário criar um livro de registro.

Foi marcada uma reunião com a equipe, que acatou a idéia e achou necessária essa implementação e chegamos a um modelo de livro (instrumento), o qual foi aberto, seguindo as informações abaixo:

  • Nome do paciente;
  • Data da consulta;
  • Data da receita;
  • Data da retirada do medicamento;
  • Nome do medicamento;
  • Próximo retorno.

 

Dessa forma, maiores informações sobre o uso de benzodiazepínicos e outros psicotrópicos serão mais complementares, pois como potencialidade a equipe se mostrou bem disposta a escrever no livro de registro sempre que for preciso.

As dificuldades encontradas estão em torno da própria população que não adere ao desmame do medicamento, pensamento esse que pode ser transformado quando houver mais educações em saúde para tratar do assunto.

Para Bordim (2012), a crescente demanda nos diagnósticos remetentes à saúde mental traz em paralelo o aumento da demanda de prescrições de benzodiazepínicos, sem contar com outros eixos motivacionais de seu uso como terapias novas, automedicação, método não centrado na pessoa, enfim, várias outras coisas que colaboram para o uso absurdamente descontrolado dos BZDs.

Nandi (2012, p. 237) complementa, afirmando que “o processo de medicalização assim como pressões na indústria farmacêutica faz com que o consumo seja cada vez maior e o uso racional do medicamento não se concretize”.

Portanto, é importante que o médico de saúde da família reconheça o manejo clínico adequado do quadro patológico de seus pacientes, que se necessário encaminhe ao psiquiatra e acompanhe o uso de medicamentos psicotrópicos, como os benzodiazepínicos, alertando os pacientes ao uso não prolongado e fornecendo as devidas orientações.

As potencialidades dessa microintervenção foram ótimas, pois a equipe abraçou a ideia de ter um livro de registro para os pacientes em saúde mental e com uso de psicotrópicos.

Referente ao atendimento em saúde mental, certa vez atendemos um caso de uma paciente a R.A.T, 45 anos, que veio ate a ESF, recém mudou de cidade e foi cadastrada para ser atendida. De acordo com a primeira consulta, e com informações obtidas com seu marido, a paciente possuía o diagnóstico de Esquizofrenia e era avaliada pelo CAPS de sua cidade anterior.

Dessa forma, a paciente foi referenciada para o CAPS da minha cidade, para ser avaliada por um psiquiatra e dar continuidade ao seu tratamento, com a elaboração de um plano terapêutico em conjunto com minha ESF. Depois de ser avaliada pelo psiquiatra do CAPS, a paciente será contrareferenciada para a ESF, onde será acompanhada em consultas mensais ou de rotina, e também será avaliada quanto ao uso correto das medicações psicotrópicas. Essas medicações são disponibilizadas sem custos pela farmácia municipal mediante receituário médico e solicitação médica de psicotrópico.

Assim, há uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPs) em meu município, a qual pode ser ilustrada através da seguinte figura:

Figura 01 – Rede de Atenção Psicossocial (RAPs)

 

 

Observa-se que faz parte dessa linha de cuidado da RAPs, o Hospital municipal psiquiátrico, no caso se houver necessidade de internações e também as emergências psiquiátricas, com o suporte do SAMU.

Espero com a continuidade dessa estratégia que possa proporcionar um maior controle e monitoramento dos pacientes em saúde mental e consequentemente,  atender aos requisitos do PMAQ, bem como promover o funcionamento adequado da Rede de Atenção Psicossocial.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BORDIM, D, C. Consumo de psicofármacos por usuários da unidade de saúde do bairro São Pedro da área 30: revisão de prontuários. Especialização em Saúde da Família-Modalidade a Distância. Resumos dos Trabalhos de Conclusão de Curso. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde Mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 161 p. – (Cadernos de Atenção Básica; 34) (Série A. Normas e Manuais Técnicos), 2013.

 

NANDI. Ádila Carara. Utilização do psicofármacos na Atenção Básica de Saúde. Especialização em Saúde da Família-Modalidade a Distância. Resumos dos Trabalhos de Conclusão do Curso. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. 2012.

 

 

 

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