5 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: SAÚDE MENTAL E O CONSUMO DE PSICOTRÓPICOS NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE (UBS).

ESPECIALIZANDO: Jorge Luis Campos Legón.

ORIENTADOR: María Betânia Morais de Paiva.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que não existe definição “oficial” de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a “saúde mental” é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resilência psicológica. Admite-se, entretanto que o conceito de saúde mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais (BRASIL, 2013).

A atenção básica tem como um dos seus princípios possibilitar o primeiro acesso das pessoas ao sistema de saúde, inclusive daquelas que demandam um cuidado em saúde mental. Neste ponto de atenção as ações são desenvolvidas em um território geograficamente conhecido, possibilitando aos profissionais de saúde uma maior proximidade para conhecer a história de vidas das pessoas e de construir vínculos com a comunidade/território, conhecendo onde moram, bem como, outros elementos do seu contexto de vida. Podemos dizer que o cuidado em saúde mental na atenção básica é bastante estratégico pela facilidade de acesso das equipes aos usuários e vice-versa (BRASIL, 2013).

Várias doenças fazem parte dos transtornos de saúde mental. Hoje em dia muitos pacientes chegam à Unidade Básica de Saúde (UBS) procurando tratamento para melhorar os sintomas que apresentam, e assim, poder continuar sua vida cotidiana sem maiores alterações. Quando o médico pergunta: “Faz quanto tempo que o senhor (a) não é avaliado por psiquiatria?” O paciente responde: “faz muito tempo”. Isso significa que não tem o controle e o acompanhamento que realmente precisa como pessoa com transtorno mental.

Na UBS onde trabalho, Dr. CID Salem Duarte, não tinha o livro para registrar os medicamentos psicotrópicos que os pacientes consumiam constituindo o nosso principal problema, pois não havia monitoramento nem avaliação dessa realidade. Desse modo, fizemos uma reunião de equipe para no coletivo pensarmos uma solução para essa situação, e assim, registrar todo medicamento psicotrópico que fosse entregue ao paciente com a data, tipo de medicamento, quantidade, hora de saída, nome do paciente e a receita e no dia da visita domiciliar os membros da equipe de saúde iria verificar se o paciente está tomando ou não a medicação.

Além disso, foram feitas palestras com a maioria dos pacientes que consomem esses remédios explicando a necessidade de avaliação regular por psiquiatria e os riscos que podem apresentar caso venham a tomar medicamentos de uma forma indiscriminada e sem o devido acompanhamento profissional. Essas palestras foram realizadas na UBS, no horário da tarde e a outra numa escola, com os adolescentes e seus pais.

Segundo o Ministério da Saúde (2005), a assistência em saúde mental passa pela Lei 10.216/2001, que oferece o atendimento dos pacientes na própria comunidade, em parceria com as UBS e estabelecimentos de saúde, promovendo uma mudança no modelo assistencial, de modo que essas pessoas saiam das instituições de internação e passem a conviver em sociedade, caracterizando a reforma psiquiátrica no Brasil. Logo após, houve a construção de uma rede comunitária de cuidados, que foi fundamental para a consolidação da Reforma Psiquiátrica, substituindo o hospital psiquiátrico.

No município onde trabalho, o atendimento aos pacientes com doença mental começa pela UBS, sendo elas a porta de entrada e podendo resolver uma grande parte das demandas locais. Os pacientes que chegam precisando de atenção por alterações psiquiátricas são acolhidos pelos funcionários da UBS e posteriormente atendidos pelo médico. Teve um caso de um paciente que segundo os familiares sofre de esquizofrenia há mais de 20 anos, tomava a medicação regularmente, mas ainda apresentava agressividade e mostrava-se ansioso e com sintomas psicóticos sem acompanhamento médico. Foi orientado que devia ter uma atenção integral. Esse paciente foi referido para o serviço de psiquiatria para uma melhor avaliação e posterior ajuste do tratamento. Depois de alguns dias ele voltou com os familiares sem praticamente sintomas da doença. Com isso podemos ver como o trabalho em conjunto das UBS com a atenção secundária faz a diferença e ajuda a melhorar os sintomas de pacientes com transtornos mentais que precisam de assistência e cuidado.

Além das Unidades Básicas de Saúde (UBS) existem também, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) e no caso de precisar de internação os usuários são encaminhados para o hospital municipal de referência. No âmbito da atenção secundária existe Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) e o Núcleo da Saúde da Família (NASF).

O principal objetivo da minha Equipe de Saúde da Família (ESF) é a promoção de saúde e prevenção dessas doenças, mas a baixa escolaridade dos pacientes compromete o trabalho de educação em saúde. Para diminuir esse problema são feitas as palestras repassando informações importantes relativas à saúde mental procurando assim, melhorar o conhecimento dos pacientes. Já foi possível visualizar após a realização das atividades educativas e utilização do livro de registros de psicotrópicos, a redução de pacientes de 20 para 12 nas consultas agendadas, onde é realização uma avaliação minuciosa para continuidade ou manutenção da medicação. Nosso principal objetivo como equipe de saúde era diminuir o uso de medicamentos psicotrópicos sem necessidade e se precisar fazer uso de alguma medicação deve ser avaliado e acompanhado tanto pela equipe básica de saúde quanto por psiquiatria, para melhorar a expectativa de vida correndo o menor risco possível. Os pacientes compreenderam a abordagem e o resultado foi uma diminuição na quantidade de consultas de saúde mental, com uma diminuição do consumo de indiscriminado de medicamentos.

O trabalho com os pacientes foi difícil, mas foi bastante positivo, pois com a diminuição do consumo indiscriminado de psicotrópicos aumenta-se a qualidade de vida. Para equipe foi grande o aprendizado, pois tudo pode ser possível, inclusive fazer com os pacientes compreenderem sua doença e passem a  utilizar medicamentos de maneira racional avaliando os risco e benefícios para evitar reações adversas ou complicações em decorrência do uso indiscriminado.

 

                                   REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 176 p.: il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 34).

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde Mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 548 p.: il. (Caderno HumanizaSUS ; v. 5)

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.

MARTINHAGO, F.; OLIVEIRA, W.F. A prática profissional nos Centros de Atenção Psicossocial II (CAPS II), na perspectiva dos profissionais de saúde mental de Santa Catarina. Saúde em Debate. Rio de Janeiro, v. 36, n. 95, p. 583-594, out./dez. 2012.

 

 

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