8 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

TÍTULO: A IMPORTÂNCIA DE ACOLHER O PACIENTE DE SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE.
ESPECIALIZANDO: Jefferson Endrisse.
ORIENTADORA: Maria Betânia Morais de Paiva.

O primeiro acesso ao sistema de saúde é um dos princípios da atenção básica e desse modo, deve estar atenta para a demanda no cuidado em saúde mental que vem crescendo gradativamente em todo país. O uso irregular e sem recomendação médica de medicamentos, pode causar graves dependências, pois medicamentos como os benzodiazepínicos, por exemplo, tem efeito tranquilizante e utilizado por longo tempo pode gerar uma dependência e dificultar o desmame.
Cresce nos centros de saúde do município em que atuo a procura por esses medicamentos, muitas vezes, por relato de alguém próximo ao paciente ou por problemas do cotidiano que poderiam ser modificados com o incremento de uma atividade física, nutricional ou orientação psicológica realizada pelos profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). A falta de informação sobre a dependência e males destes fármacos faz com que os usuários adquiram de forma irregular por longos períodos, dificultando o desmame posteriormente.
Na Unidade Básica de Saúde (UBS) em que atuo, reservamos um dia na semana, a terça-feira, para renovações de receitas, assim abrindo espaço durante a semana para demanda agendada e futuras emergências. Venho me deparando com o aumento de receituário azul – B (substâncias psicotrópicas) utilizados, procuro fazer uma breve anamnese com algumas perguntas básicas sobre sintomas antes do uso da medicação, tempo, dose atual e orientações sobre a ocorrência de déficit de atenção e o risco de ingerir álcool nesse período, bem como, dependência caso o uso seja superior a 4 semanas e agendar um retorno, para em último caso, encaminhar para um especialista.
Pensando neste contexto atual do município, marquei com minha equipe uma breve reunião onde coloquei em pauta esta situação, percebemos que, tínhamos várias defasagens começando pelos registros dos usuários em uso crônico destes fármacos, decidimos desde então, criar um acompanhamento com ajuda da equipe multidisciplinar e das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) de cada território, pois mantém um contato mais próximo das famílias e conhecem a realidade e problemas de cada uma, e posteriormente encaminham para o cuidado especializado na Equipe de Saúde da Família (ESF).
Em um pequeno sítio próximo a unidade de saúde, um paciente de 40 anos que será identificado como Sr. J. nome fictício, para proteger sua identidade, com diagnóstico de esquizofrenia há 2 anos, faz uso de quetiapina e risperidona diariamente. Percebemos que, o paciente não vinha a nossa unidade com frequência e que sua irmã sempre renovava suas receitas mensalmente, pois o mesmo não podia sair de casa. Diante dessa realidade eu e minha equipe fizemos uma visita domiciliar e percebemos que o paciente estava sem cuidados de higiene e alimentação. Na mesma semana o NASF também foi acionado e estipulado atendimentos agendados e visitas domiciliares periodicamente.
No tocante ao atendimento, ressaltei com a equipe que se trata de um processo em que vamos conhecendo o paciente, seus problemas, angústias a cada ida dele ao serviço, não devemos focar na “cura” como ausência de sintomas e sim na escuta e no processo de diminuição de sofrimento. Outra estratégia que podemos lançar mão é do matriciamento, consiste quando duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica. A comunicação entre os dois ou mais níveis hierárquicos ocorre, muitas vezes, de forma precária e irregular, geralmente por meio de informes escritos, como pedidos de parecer e formulários de contrarreferência que não oferecem uma boa resolubilidade. O matriciamento deve proporcionar a retaguarda especializada da assistência, assim como um suporte técnico-pedagógico, um vínculo interpessoal e o apoio institucional no processo de construção coletiva, em um modelo de cuidados colaborativos projetos terapêuticos junto à população. constitui-se numa ferramenta de transformação, não só do processo de saúde e doença, mas de toda a realidade dessas equipes e comunidades (CHIAVERINI et al,2011).
Não contamos com Centro de Apoio Pssicossocial (CAPS), no município, as referências são pactuadas com a cidade vizinha, em termos de profissionais da saúde mental, contamos apenas com a psicóloga do NASF. Neste contexto é importante que a saúde mental na atenção básica tenha como objetivos, proporcionar ao usuário um momento para refletir, ter empatia, acolher, devemos incluí-lo na sociedade e não excluir como era feito nos anos 70, época manicomial, pois a atenção básica é a porta de entrada e de inclusão na rede de cuidados.
De uma forma geral, após o conhecimento do matriciamento, foram reduzidos os encaminhamentos aos especialistas, pois havia dificuldades em reconhecer os problemas daquele paciente que consistia no atendimento individual pelo profissional de saúde mental agora é realizados por vários profissionais, acredito que, os desafios das equipes se resume em medo ou desinteresse, à sobrecarga de trabalho, dificuldade em organizar os horários na unidade básica, outro fator que se resulta em uma participação incompleta de profissionais são, as férias, afastamentos.
Outro ponto negativo é a falta de capacitação de alguns profissionais para atuar com crianças e adolescentes, induzindo ao encaminhamento desses pacientes, desse modo, temos muito para melhorar na saúde mental, buscamos sempre cursos para tal finalidade e reuniões mensais para melhoria dos atendimentos.

REFERÊNCIAS
Guia prático de matriciamento em saúde mental / Dulce Helena Chiaverini (Organizadora) … [et al.]. [Brasília, DF]: Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011.

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