TÍTULO:ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA ATENÇAÕ PRIMÁRIA NA UBS CENTRO UM, NOVA CRUZ.
ESPECIALIZANDO: ISABEL ZAYAS FERRER
ORIENTADOR: MARIA BETANIA MORAIS DE PAIVA
O Relatório sobre a Saúde no Mundo da OMS evidencia com clareza o impacto dos transtornos mentais sobre a sociedade. Estes são universais afetando pessoas de todos os países, sociedades, classes sociais e em todas as idades.(1)
Em 1990, estimou-se que os transtornos mentais eram responsáveis por 10% do total de anos de vida ajustados por incapacidade – AVAI perdidos em virtude de todas as doenças e lesões. Essa proporção chegou a 12% em 2000. Projeta-se, para até 2020, um crescimento da carga representada por esses transtornos para 15% do total. Dentre os transtornos mais comuns, que causam incapacidades graves, estão os depressivos, associados ao uso de substâncias, esquizofrenia, transtornos da infância e adolescência, retardo mental e doença de Alzheimer. (1)
Dados mais gerais de pesquisas realizadas pela Organização Panamericana da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde, evidenciam a magnitude dos problemas mentais, que aumentará dentro de 25 anos. Há uma estimativa de que, em cada quatro habitantes do planeta, um enfrentará algum tipo de transtorno mental, podendo ser a depressão, a esquizofrenia, o atraso mental, o distúrbio da infância e adolescência, a dependência de álcool ou de drogas, ou o mal de Alzheimer.(1)
No Brasil, os levantamentos epidemiológicos apontam para uma estimativa de 9% para os Transtornos de Ansiedade, 3% para os Transtornos Somatoformes, 2,6% para os Transtornos Depressivos (na população feminina) e a Depedência ao Álcool com 8,0% (população masculina) e os Transtornos de Ansiedade com 4,3%. A prevalência global de transtornos mentais na população brasileira está estimada em 20%.(1)
Em todo o Brasil, 18,6 milhões de pessoas (9,3% da população) sofrem com distúrbios relacionados à ansiedade. Já 11,5 milhões (5,8% do total) são afetadas pela depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que coloca o país no topo da lista de maior prevalência da doença, na América Latina. Apenas em 2015, foram registrados oficialmente cerca de 12 mil suicídios no Brasil.(2)
Saúde mental é um conceito vago que engloba desde transtornos como dislexia, autismo,síndrome de Down, demência senil, depressão, que se manifestam de diferentes formas e com diferentes sintomas, até distúrbios psicológicos e de comportamento – ansiedade e estresse, por exemplo – diretamente relacionados com as condições de vida impostas pela sociedade atual. (3)
Embora seja uma patologia tão abrangente, é longa a tradição de lidar mal com as pessoas que têm “problemas mentais”. Num passado não tão remoto assim, quem nascia com uma doença psiquiátrica ou a desenvolvesse durante a vida era trancafiado num quarto, isolado de toda a família, e os parentes procuravam evitar a aproximação de vizinhos e amigos, porque essas enfermidades eram motivo de vergonha. (3)
Atualmente, a Política Nacional de Saúde Mental vigente no Brasil e instituída por lei federal defende o atendimento dessas pessoas fora dos hospitais e enfatiza a necessidade de sua reabilitação psicossocial. Para que isso seja realizado de forma eficaz, é necessária a implantação de medidas de apoio não só ao paciente, mas também à sua família. (3)
Na minha Unidade Básica de Saúde (UBS) foi feita uma reunião com a equipe e o tema discutido foia atenção à saúde mental na atenção primária. A equipe decidiu fazer um levantamento dos dados dos pacientes com transtornos mentais na nossa área com o objetivo de fornecer uma melhor atenção e fazer um melhor acompanhamento a esses pacientes.
Depois de feita a conversa com a equipe, foi feita uma planilha com os seguintes dados: microárea, prontuário, nome e sobrenome, idade, número do Cartão do SUS, tipo de psicofármaco usado, tempo de uso, comorbidades clínicas, data da última consulta, uso de outras drogas (álcool, tabaco, crack, etc). Essa planilha seria preenchida primariamente pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) com o apoio do resto da equipe.
No |
Microárea/ Prontuario |
Nome e Sobrenome |
SUS |
Idade |
Tipo de psicofármaco |
Tempo de uso |
Comorbidades clínicas |
Data da última consulta |
Uso de álcool, crack, etc |
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A equipe ainda está recolhendo os dados de esses pacientes. Temos vários casos que precisam de um acompanhamento mais detalhado. Por exemplo, temos um caso de uma paciente de 28 anos com episódios depressivos e surtos de psicose freqüente. A mesma faz uso de medicamentos antipsicóticos, ansiolíticos e antidepressivos os quais ela pega no Centro de Atenção Psicosocial (CAPS) que fica em nossa cidade. Foi feita uma linha de cuidado para seu atendimento de forma integral. Ela tem consulta médica na nossa Unidade Básica de Saúde em conjunto com a psicóloga que faz parte do Núcleo Ampliado em Saúde da Família (NASF) cada quinze dias e está em acompanhamento com a psiquiatra uma vez ao mês. Além disso, o ACS realiza uma visita domiciliar mensal. O NASF está localizado em nossa unidade e o psiquiatra trabalha em outra UBS próxima o que facilita o acompanhamento do quadro clínico. Quando a paciente precisa de uma consulta de urgência a referência ao nível secundário é feita na unidade com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Depois a contrarreferência é enviada a equipe para dar o acompanhamento necessário.
Depois de feito o instrumento e de realizada a conversa, a equipe aprendeu que ainda temos que trabalhar mais na atenção à saúde mental em nossa população, pois o acompanhamento fornecido não é suficiente. Temos pacientes sem avaliação adequada pela equipe que precisam de uma melhor conduta. Além disso, temos pacientes que recusam de fazer o acompanhamento necessário.
Nossa UBS conta com várias potencialidades como a presença de NASF no município, constituído por um psicólogo, um nutricionista, um fisioterapeuta e um fonoaudiólogo.
O NASF deve atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais das Equipes Saúde da Família (ESF) e das Equipes de Atenção Básica (EAB) para populações específicas, compartilhando as práticas e saberes em saúde nos territórios sob responsabilidade destas. (4)
Criado com o objetivo de ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como sua resolubilidade, o NASF deve buscar contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente, por intermédio da ampliação da clínica, auxiliando no aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários e ambientais dentro dos territórios. (4)
Também contamos em nosso município com a presença dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e com um especialista em psiquiatria que fornece atendimento aos pacientes que precisam de uma avaliação mais exaustiva.
Os CAPS são considerados locais de atendimento em níveis de alta complexidade em saúde mental e objetivam reduzir a gravidade do transtorno mental, visando estabelecer um programa de reabilitação psicossocial, com a possibilidade de acolhimento, cuidado, construção de vínculos, bem como proporcionar maior grau de socialização ao sujeito em sofrimento psíquico. As equipes são constituídas por uma gama de profissionais, desenvolvendo um grupo multiprofissional que avalia o quadro do usuário.(5)
A organização da saúde mental é coordenada pela SMS, a qual também fornece seu apoio nos casos de pacientes que precisam uma referência às clínicas ou hospitais para internação.
Foi identificado como uma grande dificuldade para fazer o trabalho, a presença de duas microáreas descobertas sem ACS, o que dificulta a coleção dos dados necessários.
Temos uma boa articulação com o CAPS e o NASF. Se o caso é de urgência a referência é feita pela equipe e o paciente pode ir lá sem precisar a coordenação da SMS.
Observamos como mudou a idéia da equipe de que os pacientes com transtornos mentais sempre devem ser avaliados pelo psiquiatra. Esses pacientes precisam de um conjunto de ações que podem ser feitas pela equipe na atenção primária e só alguns casos devem ser avaliados pela atenção secundária.
Depois de recolher os dados necessários esperamos fornecer a esses pacientes um atendimento individual e centrado na pessoa.
Referências