11 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

A SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

 

ESPECIALIZANDO: DANIELLE ALBUQUERQUE SOUSA
ORIENTADOR: ISAAC ALENCAR PINTO
COLABORADORES: AGENTES COMUNITÁRIAS DE SAÚDE MARIA GORETTI E ANA CRISTINA.

 

A Saúde mental é um tema muito importante na Estratégia de Saúde da Família. Todos os dias recebemos pessoas precisando de acolhimento para atender seus problemas de comportamento, sejam depressivos, ansiosos, ou até agitados.

Uma minoria, no caso da área adstrita que é da responsabilidade da nossa equipe, recorre ao álcool para superar as situações que estão enfrentando no momento. Muitos já estão em uso de algum medicamento para reduzir os sintomas que o incomodam, mas acabam com a falsa impressão de que o uso dessas “drogas” é para a vida toda, tornando-se dependentes. É preciso olhar para o paciente e a família deste para assim entender a doença e buscar alternativas, nem sempre medicamentosas, para solucionar a sua aflição e devolver a sua saúde.

Na nossa equipe existe um grande número de usuários de medicamentos benzodiazepínicos e antidepressivos. Uma minoria está em tratamento com antipsicóticos e anticonvulsivantes. Todos usuários crônicos. Ainda não temos o registro total desses usuários crônicos mas aproveitamos a reunião para elaborar uma planilha a fim de contabilizar e acompanhar melhor esses pacientes, assim como os agentes comunitários de saúde também.

A proposta é lista os pacientes em uso de medicações para a saúde mental, por microárea e respectivo agente, especificando o diagnóstico do mesmo, medicações em uso e a data de início do tratamento, assim como também informar se o paciente possui vícios (drogas, álcool, entre outros) e se está instável (em sofrimento psíquico), identificando assim os casos de gravidade. Com essa planilha podemos identificar aqueles pacientes que necessitam de atenção integral para construir uma linha de cuidado. A proposta de registro da equipe segue na tabela 3.

Após a construção da tabela, conversamos sobre como poderemos preencher esses dados. Uma ideia foi separar os prontuários referente a microárea de cada agente para verificar e colher os dados daqueles que fazem uso de medicações para a saúde mental. Combinamos que no dia das visitas domiciliares realizadas semanalmente às quartas feiras pela manhã, o agente responsável pela microárea visitada, ao término da visita, irá trazer os prontuários para junto com o médico e enfermeiro verificarem as informações necessárias para preenchimento da planilha.

Após essa primeira verificação, com a planilha parcialmente preenchida, o agente irá verificar os dados durante as visitas afim de atualizar os mesmos, complementar ou corrigir. Somente após esta etapa é que teremos as informações necessárias e confirmadas para analisar a situação da saúde mental na nossa área e verificar as potencialidades e fragilidades.

Tabela 3 – Proposta de registro dos pacientes de saúde mental.

Microárea 1 – Nome do agente responsável

Qtd

Nome

Sexo

DN

Pront.

SUS

Diag.

Início

TTO

Vícios

Grave

1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Microárea 2 – Nome do agente responsável

Qtd

Nome

Sexo

DN

Pront.

SUS

Diag.

Início

TTO

Vícios

Grave

1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Microárea 3 – Nome do agente responsável

Qtd

Nome

Sexo

DN

Pront.

SUS

Diag.

Início

TTO

Vícios

Grave

1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Microárea 4 – Nome do agente responsável

Qtd

Nome

Sexo

DN

Pront.

SUS

Diag.

Início

TTO

Vícios

Grave

1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Microárea 5 – Nome do agente responsável

Qtd

Nome

Sexo

DN

Pront.

SUS

Diag.

Início

TTO

Vícios

Grave

1

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Infelizmente apesar da nossa equipe ser integrada e participativa, não vamos poder contar com a participação da nossa enfermeira nessa ação, pois a mesma encontra-se em licença médica por grave problema de saúde sofrido. Trata-se de funcionária antiga, que conhece todos os pacientes da área, inclusive aqueles da microárea que está sem agente de saúde. A falta dessa contribuição provavelmente irá comprometer o resultado final. Mas todos da equipe presentes se disponibilizaram para realizar a tarefa da melhor forma possível.  

Pacientes para a saúde mental são atendidos pela nossa equipe como demanda espontânea ou cuidado continuado programado. Além da nossa área, atendemos também alguns fora de área que já fazem uso de medicação crônica e necessitam de nova receita para continuar o uso da medicação pois geralmente não há vagas suficientes para a consulta com o médico especialista. É demorado para conseguir marcar a consulta com o especialista. Mas, mesmo referenciando o paciente, mantemos o cuidado continuado em conjunto.

Na nossa unidade não dispomos da ajuda de um NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família). Temos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) na zona norte, onde trabalhamos. Quando os pacientes são encaminhados, através de uma ficha de referência, não recebemos a ficha com o espaço da contra referência preenchido. Combinamos com o próprio paciente o retorno na Estratégia de Saúde da Família para ele informar sobre o atendimento recebido pelo especialista, suas orientações e medicações prescritas, para assim acompanharmos o mesmo.

Geralmente o paciente é encaminhado para o especialista somente quando refratário ao tratamento com o médico generalista, ou casos mais graves como convulsão e Alzheimer onde é necessário o acompanhamento conjunto.

Durante a consulta na estratégia sempre procuramos conversar com o paciente sobre as drogas em uso e um programa de desmame para o uso de benzodiazepínicos, assim como também falamos sobre a higiene do sono, que fala sobre evitar certos hábitos e alimentos antes de dormir, para não dificultar o sono. Alguns pacientes já seguem a higiene do sono, assim como fazem uso de chá, mas geralmente não resolve seus problemas.

Sobre usuários de álcool, temos um paciente adulto que está sempre sofrendo trauma crânio encefálico devido o abuso de álcool. Já foi admitido várias vezes no Hospital de referência em trauma craniano, o Walfredo Gurgel, onde acaba apresentando crise de abstinência alcoólica. Mesmo tendo um CAPS ad (CAPS álcool e drogas) em seu bairro o mesmo se recusa a ir. Mora com a mãe idosa, a avó e os irmãos já casados e com filhos. Moram todos na mesma casa.

Em visita domiciliar a avó deste, vimos o mesmo deitado na cama com curativo na cabeça. Anda com a ajuda de muletas e está em uso de medicação controlada devido crises convulsivas como sequela dos traumas sofridos. Mesmo com as limitações e sequelas, a genitora informa que o usuário não deixa o álcool e que esse comportamento afeta todos da família. Este é uma paciente grave que precisa de uma linha de cuidado para atenção integral em saúde mental.

Conversando com a equipe sobre a elaboração e preenchimento da planilha a fim de contabilizar a realidade da saúde mental na nossa área de atuação vimos que será muito importante ter essa informação para saber como está a saúde mental dos pacientes, se refratários ou estabilizados, quais são os mais graves, podendo ajustar o nosso atendimento, analisando o que mais poderíamos fazer para melhorar as condições desse paciente, procurando saber o núcleo familiar do mesmo, se a família acolhe e ajuda nos problemas mentais, e se podemos intervir ou ajudar de alguma outra forma que não apenas medicamentosa.

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