16 de setembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

ATENÇÃO INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL

ESPECIALIZANDA: BETANIA ALBUQUERQUE PIRES ROCHA NEUMAN

ORIENTADOR ISAAC ALENCAR PINTO

Com o objetivo de organizar o processo de trabalho a fim de melhorar a atenção dada aos usuários com problemas de saúde mental, a equipe 112 da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Vale Dourado se reuniu para analisar os indicadores da Autoavaliação para Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (AMAQ) e identificar áreas relacionadas à organização de processo de trabalho na atenção a saúdem mental que poderiam ser melhoradas. Para isso, elaboramos uma ficha para a coleta de dados referentes a esses usuários (que segue abaixo), incluindo número do cartão SUS, nome completo, idade, sexo, psicofármacos utilizados, sofrimento psíquico grave, uso de álcool, crack e outras drogas.

Atualmente, nossa unidade dispõe de um registro geral dos usuários que sofrem de doença mental e que participam do grupo de saúde mental, que se reune mensalmente. Porém nossa equipe não possui um registro de todos os usuários em uso crônico de benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, estabilizadores de humor, ou ansiolíticos de um modo geral. Nossa equipe também não possui registro do número dos casos mais graves de usuários em sofrimento psíquico, ou de usuários com necessidade decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas.

O agendamento das consultas para as pessoas em sofrimento psíquico de nossa área de abrangência pode ser feito diretamente pelo paciente ou através do agente comunitário de saúde. Geralmente o tempo de espera para o atendimento de pessoas em sofrimento psíquico na unidade é curto, se o paciente for da área de abrangência de uma equipe de ESF, já que a unidade dá prioridade ao atendimento desses usuários. 

Se o paciente for fora de área, o agendamento se dá por demanda espontânea, porém esse atendimento geralmente se resume a renovação de receitas de medicamentos de uso crônico, em geral benzodiazepínicos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, estabilizadores de humor ou ansiolíticos.

 

Nossa equipe não conta com o apoio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) nem de matriciamento. Contamos com equipe de apoio do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e CAPS AD (álcool e drogas), porém é difícil conseguir atendimento nesses CAPS devido a grande demanda de pacientes com sofrimento mental que procuram esses serviços.

Para a presente microintervenção, escolhemos o caso de uma paciente do sexo feminino, de 43 anos de idade, que necessita de uma atenção integral em saúde mental para realizar a construção de sua linha de cuidado. A paciente mora sozinha desde que seu irmão mais velho a expulsou da casa de seus pais. Após a separação de seu marido há cerca de cinco anos, a paciente foi morar com seus pais, que são idosos. Desde então a paciente vinha dependente financeiramente de seus pais. 

Após ter sofrido um assalto com lesão corporal grave há cerca de dois anos, a paciente começou a receber um auxílio doença e vinha conseguindo arcar com suas despesas e morar sozinha, já que havia sido mandada embora de casa pelo seu irmão. O mesmo é usuário e traficante de drogas e explora os pais idosos, retirando deles os recursos financeiros. 

Esse irmão mais velho em uma ocasião tentou matar o irmão mais novo com uma facada no abdômem. O mais novo foi submetido a cirurgia de emergência e sobreviveu, porém desde esse incidente os relacionamentos intra-familiares têm se deteriorado bastante. O conjunto desses problemas têm afetado a saúde mental da nossa paciente. 

Após o assalto, nossa paciente passou a sofrer de ataques de pânico e passou a ter medo de sair de casa. Procurou a unidade básica onde foi prescrito Fluoxetina e Clonazepam, e a mesma apresentou melhora do quadro. No entanto, há cerca de 2 meses a paciente perdeu sua única fonte de renda, que era o auxílio doença. Desesperada, ela foi para casa e pensou em se matar. A mesma relatou que estava na cozinha e pegou uma faca afiada e iria enfiar a faca em seu abdomem quando sua irmã bateu à porta. No dia seguinte a paciente veio à UBS em busca de ajuda. 

 

Nossa paciente apresenta graves problemas sociais, financeiros, familiares. físicos e mentais. Dentre as ações propostas para esse caso tivemos o acompanhamento em psicologia, psiquiatria, CAPS, além de visitas regulares do agente comunitário de saúde e da equipe de ESF. Outra ação proposta seria a participação nas reuniões de saúde mental que ocorrem mensalmente em nossa UBS.

A paciente foi referenciada aos serviços de psicologia e psiquiatria, porém como não contamos com o apoio do NASF, ela ainda não conseguiu realizar uma consulta. Encaminhamos também a paciente ao CAPS porém ainda não tinha conseguido uma vaga. Encontramos dificuldades quanto a referência desses pacientes para os serviços de psicologia e psiquiatria. 

Logo após a perda do auxílio doença e a tentativa de suicídio, a paciente foi morar com familiares em uma área descoberta pela ESF. Porém continuamos a acompanha-la. O agente comunitário de saúde da microárea em que ela morava continua em contato com essa paciente e sua família, pois mesmo ser ter a obrigação profissional, ele se vê como obrigação ajudar essa paciente e sua família, e consequentemente toda a comunidade. 

A nossa equipe compartilha do mesmo sentimento e continuamos a prestar cuidados a nossa paciente. Esperamos que essa intervenção tenha continuidade e que nossa paciente receba os cuidados em saúde mental de que necessita. Esperamos ainda poder fazer mais microintervenções com outros pacientes que precisam de uma intervenção semelhante para a melhoria das condições de saúde e de vida da nossa comunidade do Vale Dourado.

 

 

 

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