ACOMPANHAMENTO DE PACIENTE DE SAÚDE MENTAL EM UNIDADE DE SAÚDE E REDE DE APOIO
ESPECIALIZANDO: ANDRÉ GEORGE FERREIRA E CÂNDIDO
ORIENTADORA: MARIA HELENA PIRES ARAUJO BARBOSA
A Saúde Mental é um tema ainda permeado de muitas dúvidas e receios entre os profissionais da saúde. Não é algo visível, palpável e mensurável como seria uma lesão de pele em um indivíduo. Vai além disso visto que é oculto na mente e invisível, ainda leva angústia para a maioria dos médicos ao estar diante de um indivíduo com demandas da psiquiatria, pois a própria formação acadêmica é carente de uma melhor preparação para este tipo de usuário. Com base nisto é que se torna fundamental a abordagem do tema no curso de especialização oferecido no Programa Mais Médicos.
Antes desta intervenção e ao observarmos os pontos apontados na autoavaliação AMAQ, percebemos que não possuíamos um registro sobre a saúde mental e os pacientes psiquiátricos na nossa área de atuação da equipe. Com o objetivo de melhor conhecer as demandas de saúde mental presentes na área de abrangência da minha equipe, montamos um quadro digital (Quadro 2) que será alimentada pela equipe com informações mais relevantes sobre os indivíduos acometidos por comorbidades mentais. O guia de autoavaliação, além da experiência nos atendimentos realizados até o momento, foram fundamentais para a elaboração de tal instrumento. Conforme for sendo utilizado, avaliaremos se há necessidade de inclusão de mais itens ou retirada dos já propostos.
Em nossa equipe, o paciente psiquiátrico procura realizar os seus agendamentos de consulta em igual tempo aos demais pacientes, que geralmente leva de uma a duas semanas entre o agendamento e a consulta realizada. Entretanto, os casos agudos são avaliados na triagem que realizamos no primeiro horário de cada dia e aqueles que demandarem atendimento no dia, são direcionados para serem consultados ao final do turno pela manhã. Este período é melhor devido a menor movimentação dentro da unidade e sem ter a pressão de que há pacientes a serem atendidos. Assim há um melhor tempo para casos agudos, como tentativas de suicídio por exemplo. Até o momento não estamos realizando ações voltadas para esta parcela de pacientes, que fazem uso crônico de medicamentos psicotrópicos, a fim de melhor abordar o desmame de tais medicamentos naqueles que já não requerem o uso ou estão estabilizados.
Estimulado a conhecer melhor a rede de atenção à saúde mental em Natal, pude tomar conhecimento sobre a presença do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Oeste, o qual atende às demandas geradas pela unidade de saúde da qual faço parte. Além de identificar o Hospital Colônia Doutor João Machado (Hospital João Machado) como o nosocômio de referência em psiquiatria no estado do Rio Grande do Norte, localizado em Natal. Entretanto, a unidade na qual sirvo possui psicóloga, mas que está há alguns anos afastada de suas atividades laborais. Por este motivo é que ficamos carentes de seus serviços quando é necessário um suporte psicológico para os indivíduos assistidos na Unidade Mista Felipe Camarão (UMFC). Apesar de termos em nosso distrito um Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), o mesmo não tem oferta de serviços psicológicos para a UMFC, já que em teoria há na nossa unidade a psicóloga.
Diante deste retrato de rede de apoio é que será abordado um caso psiquiátrico importante atendido em minha equipe, Equipe 16. Trata-se de uma mulher, 21 anos, casada, natural e procedente de Natal, ensino superior incompleto, católica e atendente de telemarketing. Caso trazido inicialmente por uma agente comunitária de saúde após contato com a mãe da usuária, informando sobre tentativa de suicídio com uso de medicamentos. Em primeira consulta, a mulher relatou problemas importantes no trabalho, envolvendo suspeita de assédios morais e pressão psicológica para atingir metas, tornando tal ambiente impróprio para sua saúde mental. Tal situação culminou em tentativa em casa de suicídio com ingesta de medicamentos. Relatava também ainda ter desejo de tirar a própria vida, como também ter perdido a vontade de cuidar do filho.
Em pactuação com a usuária ela entregou a família todo e qualquer medicamento, além de manter consultas semanais comigo enquanto aguardaria uma consulta de urgência no CAPS. Feitas tais medidas também foi pactuado com a mãe que sempre haveria alguém junto a usuária 24 horas por dia. Realizado o encaminhamento para o CAPS em caráter de urgência e agendada consulta somente com três semanas a frente da consulta inicial. Após atendimento com psiquiatra foi comunicada que a mesma faria uso de medicamentos, além de terapia em grupo. Ao observar em terceira consulta na unidade que a usuária se encontrava mais estável, foi pactuado que a mesma se consultaria a cada 15 dias, para assim poder fazer ainda seguimento da mesma, e posteriormente espaçar a consulta mensalmente. A comunicação entre a unidade, através do médico, e o CAPS ocorreram de forma precária. Mesmo encaminhando ficha de referência (com espaço para contrarreferência a ser preenchida), e reforçando a paciente a conversar com a médica psiquiátrica do CAPS a escrever em tal espaço, não houve qualquer registro físico das ações do CAPS. É um problema presente não somente nesta especialidade, mas sim na maioria dos casos em que o paciente é referenciado ao especialista. A comunicação se deu somente através do relato da paciente e da análise das receitas feitas pela especialista, mesmo após envio de outras solicitações de contra-referência.
Ponto(s)