23 de outubro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

Título: Organização e atenção à saúde mental em uma Unidade Básica de Saúde do Rio Grande do Norte

Especializando: Ana Lúcia Lins Pinto

Orientadora: Maria Helena Pires Araújo

 

O sofrimento mental é o resultado do impacto emocional na vida do indivíduo, da sua condição social, do seu temperamento, da sua história de vida e da sua rede de apoio. É extremamente necessário que o profissional de saúde compreenda esse contexto de maneira particular, para cada uma das pessoas que o procuram, e dessa forma colaborar com a promoção da saúde (BRASIL, 2013).

Nesse sentido, nossa quarta microintervenção aborda sobre a importância da Estratégia de Sáude da Família (ESF) como primeira linha de cuidado em saúde mental e como se dá a organização dessa rede na atenção primária.

A primeira etapa para a realização dessa atividade foi a convocação de toda a equipe para discutirmos algumas questões a fim de definir se nossa UBS estava organizada com os requisitos mínimos do Programa de Melhoria de Acesso e da Qualidade da atenção (PMAQ). A partir dessa reflexão, percebemos que a nossa UBS não possui um registro único dos usuários em uso crônico dos medicamentos utilizados em saúde mental, as anotações de alguns pacientes são feitas nos cadernos individuais dos agentes comunitários de saúde e as mesmas não são compartilhadas com a equipe. Além disso, os registros são bastante desatualizados, não sendo possível registrar o número de casos mais graves de usuários em sofrimento psíquico. Notou-se também que a equipe não possui registro dos usuários com necessidade decorrente do uso do crack, álcool e outras drogas.

Dessa forma, com o objetivo de reunir os registros existentes dos usuários que recebem cuidados na área da saúde mental, atualizar e inserir novos dados, foi criada uma planilha que armazena as seguintes informações: nome e número do prontuário do indivíduo; data de nascimento; número do cartão SUS; diagnóstico; medicamentos em uso; tipo de acompanhamento; gravidade; dependência de outras drogas; agente comunitário de saúde responsável pela área e observações gerais.

A construção dessa planilha foi um desafio e tanto para mim. O apoio da equipe deixou bastante a desejar e o tempo retirado para reunião e elaboração da mesma foi bastante criticado pois “foi mais um momento sem atendimento em uma área com grande demanda”. Mesmo assim, ficou acordado que os agentes de saúde ficariam responsáveis em preencher e atualizar a planilha de acordo com sua área. 

A segunda etapa dessa microintervenção foi a escolha de um caso de pessoa atendida na UBS que necessitasse de uma atenção integral em saúde mental para realização da linha de cuidado. Então, foi selecionada uma mulher, 51 anos, portadora de hipotireoidismo, hipertensão arterial, depressão, ansiedade generalizada e transtorno de pânico. Em uso apenas dos antihipertensivos, pois foram os únicos que não havia abandonado. Foram realizados exames laboratoriais, iniciado tratamento para controle da doença da tireóide e depressão e, solicitado apoio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF – AB) por meio de ficha de referência para psicologia. Devido a demora do atendimento, a mulher teve uma piora do quadro e passou a frequentar à UBS quase diariamente à procura de ajuda. Foi então que fizemos uma nova ficha de referência dessa vez para o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) com urgência e após 10 dias, aproximadamente, a mesma foi atendida pela psicóloga e psiquiatra. Não recebemos contrarreferência, mas mantemos o acompanhamento e controle da paciente com as renovações das receitas prescritas pela psiquiatria.

Essa situação é corriqueira onde trabalho e nem sempre conseguimos esse apoio, pois a região apresenta um grande número de pacientes com transtornos mentais, tanto em zona rural como zona urbana e acaba sobrecarregando os serviços de tal forma que os mesmos não conseguem desempenhar seu papel tão bem como poderiam.

Sendo assim, para construção dessa linha de cuidado enfrentamos problemas como: a dificuldade de estabelecer um diálogo com a psiquiatra e psicóloga, o fato de não recebermos a contrarreferência com os planos de ação para seguimento da paciente, a dificuldade de fazer a paciente compreender que o fato de estar sendo acompanhada pelo CAPS,  não significava que deixaria de ser acompanhada também pela equipe da UBS, e principalmente, a grande demanda de pacientes em nossa área de abrangência.

Com objetivo de planejar melhorias do acesso e apoio à saúde mental no município foi realizada uma reunião com a equipe do CAPS e todas as equipes das unidades básicas, na qual foram expostos os problemas enfrentados pelas equipes e sugestões para resolução dos mesmos. O momento foi de bastante produtividade e pude observar o empenho da equipe do CAPS e de alguns profissionais da UBS, assim como o desejo mútuo de estabelecer um elo entre as equipes que garanta a atenção integral à população.

Para tanto, foi criado um grupo de whatsapp com médicos e enfermeiros para facilitar o diálogo sobre os casos e cada UBS elegeu um representante de sua equipe para ser o elo entre os serviços e, na nossa, a escolhida foi a enfermeira. O projeto é novo, mas a expectativa é de sucesso.

A realização dessa microintervenção nos proporcionou momentos de bastante aprendizado e foi fundamental para compreender que o sucesso das práticas em saúde mental depende do apoio de uma rede de profissionais de saúde trabalhando de maneira interligada.  A partir do preenchimento da planilha criada, teremos melhores condições de planejar e realizar ações voltadas às pessoas com sofrimento psíquico, bem como acompanha-las buscando a promoção da saúde.

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