22 de julho de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA TODOS

 

ESPECIALIZANDA: RAQUEL TIEZZI FERNANDES

ORIENTADORA: DANIELE VIEIRA DANTAS

 

Ações educativas de planejamento reprodutivo e acessibilidade aos métodos contraceptivos para aqueles pacientes que manifestam desejo em utilizá-los estão entre as prioridades de ações da equipe. Isso porque no dia a dia da prática, os profissionais deparam-se com inúmeros casos de gravidezes não planejadas e mulheres e homens que não desejam uma gravidez, mas que também não utilizam nenhum método contraceptivo apesar da prática sexual frequente. 

Apesar de grupos educativos abordando sexualidade e planejamento reprodutivo ainda não serem realizados pela equipe, os temas são constantemente abordados em consultas médicas.  Nestas são promovidos esclarecimentos sobre a decisão de ter filhos, métodos contraceptivos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST), além de questões de empoderamento feminino, mostrando a mulher como protagonista de seu próprio corpo e autora das decisões sobre ele.

Não basta, porém, apenas difundir o conhecimento sobre os métodos contraceptivos. É preciso oferecê-los e facilitar o acesso a eles pela população. Contraceptivos hormonais injetáveis (mensais e trimestrais) e orais estão sempre disponíveis na unidade básica. No entanto, outros métodos como o dispositivo intra-uterino (DIU) de cobre e os contraceptivos definitivos (laqueadura ou vasectomia) ainda tem o seu acesso dificultado, já que dependem do encaminhamento via sistema de regulação, que em muitos casos ocorre de forma lenta. Para que o DIU passe a ser implantado na própria unidade, faltam capacitações dos médicos generalistas das equipes.

No que diz respeito ao pré-natal e puerpério, as gestantes acompanhadas pela equipe são registradas em um livro, porém esse registro se dá após a primeira consulta na unidade. Como há microáreas sem cobertura de Agente Comunitário de Saúde (ACS) dentro do território da equipe, o processo de busca ativa ainda não acontece integralmente. Para facilitar a busca ativa de gestantes que faltem ao pré-natal em data prevista, um calendário de gestantes está sendo criado.

As cadernetas são adequadamente preenchidas e os exames complementares são solicitados de acordo com o guia de pré-natal do Ministério da Saúde (MS). No entanto, algumas gestantes demoram a receber os resultados dos exames pelo laboratório. Em alguns casos, os resultados nunca chegam, atrasando as etapas de solicitação de exames do pré-natal. Outra falha importante e recorrente no sistema do pré-natal é que, apesar de serem solicitadas durante as consultas médicas as ultrassonografias (USG) obstétricas, estas solicitações vão para o sistema de regulação e na maioria das vezes não são agendadas. Algumas gestantes acabam optando por realizar os exames em setores privados. 

Nas consultas do pré-natal os temas de cuidados nutricionais e estilo de vida saudáveis são frequentemente abordados. Assim como as mudanças do corpo materno e a saúde mental, direitos sociais e trabalhistas. A maioria das gestantes comparece ao pré-natal sozinhas, mas a participação dos parceiros no processo da gestação é constantemente incentivada. Além disso, o processo da amamentação e da importância desta para o filho e a mãe também são abordados a fim de diminuir a insegurança materna.

No puerpério, um ACS ou a enfermeira realiza a visita puerperal em até sete dias e agendam a consulta médica puerperal para manutenção do vínculo, avaliação da puérpera, orientações gerais e início da puericultura.

Dentro da temática de planejamento reprodutivo, pré-natal e puerpério, tão importante quanto o processo de educação da população é a educação permanente dentro da própria equipe, já que os profissionais são multiplicadores de informações sobre saúde para a população. Como existiam divergências de condutas e de conteúdo orientados a população, detectou-se a necessidade de atualização de acordo com os guias e protocolos mais atuais do Ministério da Saúde.

Um exemplo de informação erroneamente difundida é sobre o preventivo ser o exame para diagnóstico e rastreio de vaginoses e que poderia ser realizado a partir do início da atividade sexual da paciente, independente da idade. Com o incentivo e realização de exame citopatológico de colo de útero de rastreamento em adolescentes de 15 anos, diferente da população alvo preconizada pelos guias do MS. Alguns outros exemplos seriam exames desnecessariamente solicitados no pré-natal e a ideia de check up laboratorial em crianças sem queixas.

A fim de se evitar a informações errôneas ou desatualizadas a população, foram iniciados grupos de estudos dentro da própria equipe, com bibliografias oficiais do MS ou de sociedades médicas. Esses estudos terão continuidade mensal em uma das reuniões de equipe. A cada reunião um novo tema será abordado e direcionado para cada categoria de profissional, a fim de homogeneizar as condutas e que estas sejam corretas e atuais.

Como desafio, tem-se a resistência de profissionais que tem dificuldade em aceitar informações novas ou o embasamento científico acima de opiniões e crenças pessoais. Porém, pouco a pouco, seja em um grupo de estudos oficial ou em conversas durante outras interações da equipe, as informações vão sendo trazidas e discutidas, formal ou informalmente, a fim de atingir ao máximo de profissionais envolvidos no processo de trabalho. Apesar da resistência de alguns profissionais, a maioria tem aceitado de forma positiva e tem corrigido as informações difundidas.

O que torna o processo de educação permanente mais difícil é que não basta oferecer capacitação, depende de que os profissionais queiram se manter estudando e se aprimorarem. A informação com a tecnologia nos dias atuais é facilmente acessada em qualquer local, está disponível, porém o indivíduo precisa querer buscá-la e compreendê-la.

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