RELATO DE EXPERIÊNCIA III
TÍTULO: PLANEJAMENTO REPRODUTIVO, PRÉ-NATAL E PUERPÉRIO NO CONTEXTO DA UBS
ESPECIALIZANDO: RAPHAEL ALMEIDA SANTIAGO DE ARAUJO
ORIENTADOR: RICARDO HENRIQUE VIEIRA DE MELO
O relato em questão constitui uma breve análise acerca das estratégias utilizadas pela equipe de saúde básica no que tange às práticas de acolhimento e acompanhamento em termos de planejamento reprodutivo, pré-natal e puerpério. Através de reuniões semanais, a equipe de saúde da família destacou alguns aspectos positivos e a necessidade de melhoria em determinadas abordagens.
Como descrito por Luiz et al (2015), a assistência ao planejamento reprodutivo fundamenta-se em ações de promoção, prevenção, informação e educação em saúde de modo que sejam consideradas as particularidades e os direitos reprodutivos e sexuais dos homens e mulheres no contexto da comunidade. Nesse sentido, um conjunto de práticas são adotadas no serviço de saúde básica visando à consolidação do indivíduo enquanto detentor da capacidade de escolha reprodutiva.
A Unidade Básica de Saúde através da qual se baseia a experiência aqui relatada conta com algumas políticas de assistência reprodutiva, embora encontre alguns déficits na consolidação integral das práticas. Em meio às discussões realizadas pela equipe, foi acordada a organização de diretrizes em três eixos. No primeiro, foi discutido o papel da UBS na divulgação da informação sexual e reprodutiva, perpassando pelo caráter educativo do processo. Já no segundo, foram observadas as ações preventivas e de promoção em saúde. Diante das observações de tais eixos foi realizado, por fim, um debate acerca das possibilidades de melhoria dos serviços ofertados através de intervenções efetivamente práticas.
Constatamos um déficit preocupante no que tange à divulgação da informação e estruturação de grupos de discussão sobre reprodução e sexualidade. Ações educativas sobre a decisão de ter ou não filhos não são promovidas no contexto da comunidade, e o diálogo com a população é segmentado. Conteúdos relacionados às questões de gênero e sexualidade, prevenção de HIV/AIDS e outras DSTs não são discutidos com a comunidade, embora haja um programa satisfatório de prevenção. Quanto aos assuntos intrínsecos à saúde sexual, o debate é restrito ao público jovem; gestantes e idosos não contam com o serviço de aconselhamento.
Métodos contraceptivos básicos, tais quais preservativos (masculino e feminino), anticoncepcionais oral e injetável, pílula do dia seguinte e dispositivo intrauterino (DIU), são ofertados à população. Contudo, foi detectada uma necessidade de melhorar a abordagem de modo que a comunidade tome conhecimento da disponibilidade, das implicações e da adequação dos métodos a cada particularidade.
Quanto ao tratamento das DSTs diagnosticadas, o serviço conta com algumas limitações. Dentre elas, o fator que se sobressai é a falta de algumas medicações na farmácia da Unidade. Quanto aos casos diagnosticados de HIV, a equipe realiza notificação e encaminhamento adequados.
O pré-natal consiste no acompanhamento e na orientação da mulher durante todo o período gestacional. A conjugação desses fatores visam, de tal modo, promover e sustentar o bem-estar físico e emocional da gestante durante os estágios de gravidez, parto e nascimento. Para garantir o direito da mulher a uma gestação tranquila e saudável, a equipe de saúde básica deve dispor de uma infraestrutura adequada que potencialize uma ação multiprofissional de qualidade. Importante destacar, ainda, a necessidade de um acompanhamento especial no período que sucede o parto. Chamado de puerpério, é definido como o tempo que decorre até que que o estado geral da mulher retorne aos padrões anteriores à gestação.
De acordo com o estudo de Andrade et al (2015),
“A atenção de saúde no puerpério consiste em momento oportuno e necessário para prestar assistência à criança desde o nascimento, abrangendo ações de promoção da saúde, prevenção, diagnóstico precoce e recuperação dos agravos à saúde. Esse também é o momento ideal para realizar a captação precoce das crianças para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Unidade de Saúde da Família (USF).” (ANDRADE et al, 2015, p.182).
Nesse período, cabe à equipe de saúde extrapolar sua ação para além dos fatores biológicos da saúde de modo a considerar os aspectos socioeconômicos e culturais os quais também influem no processo de manutenção do bem-estar da gestante e da criança.
Ao longo das reuniões, a equipe destacou alguns pontos imprescindíveis na adequação dos serviços de acompanhamento pré-natal e atenção puerperal. De forma geral, a atuação da UBS caracteriza-se satisfatória dentro das perspectivas básicas de promoção e orientação em saúde da gestante.
No que compete ao contato com as gestantes da Unidade e do bairro, há a estruturação de duas ações principais. Os agentes comunitários de saúde são responsáveis pela busca ativa das gestantes, inclusive adolescentes, da Unidade. Além disso, é feito um levantamento mensal das gestantes do bairro, independente do caráter privado ou público do serviço pré-natal ao qual a mulher está submetida.
De acordo com o Manual Técnico de Assistência Pré-Natal, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2000), para traçar as estratégias de cuidado da gestante, são solicitados todos os exames complementares recomendados – tais como tipagem sanguínea, hemoglobina e hematócrito, urocultura, citopatologia uterina, ultrassonografia, VDRL, anti-HIV, HBsAg, protoparasitológico, bacterioscopia da secreção vaginal, além de investigação sorológica de toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus. Alguns exames, no entanto, não são cobertos pela prefeitura; assim, é solicitado que sejam realizados no meio privado.
Além disso, as gestantes são orientadas sobre a importância dos cuidados nutricionais e da manutenção de hábitos de vida saudáveis. Nesse contexto, as consultas e orientações são registradas na caderneta da gestante. Isso permite um controle adequado da progressão do acompanhamento pré-natal em sua completude. A regularização dessas abordagens de promoção, de tal modo, encabeçam a possibilidade de prevenir possíveis danos à saúde da mãe e/ou do feto. Em caso de diagnóstico de DSTs, por exemplo, o tratamento é realizado em paralelo. Quanto ao período que sucede o parto, há orientações acerca da importância da amamentação e do retorno para a consulta de puerpério.
Diante das observações destacadas ao longo das reuniões com a equipe, entendemos que há um déficit maior em termos educação/orientação em planejamento reprodutivo e educação sexual. Assim, cabe a elaboração de um plano de ação o qual integre um aumento no fluxo de informação por parte da Unidade com um maior contato com a população. Dentro das limitações estruturais e organizacionais, é possível desenvolver um projeto comunitário de educação reprodutiva, sexual e de gênero. Duas vezes ao ano, a equipe da Unidade poderia realizar na circunvizinhança a Semana do Planejamento e do Debate: Orientações e Perspectivas em Saúde Sexual e Reprodutiva.
Os debates em saúde sexual da gestante, do adolescente e do idoso seriam organizados em nichos. Além do compartilhamento de relatos e experiências, seriam introduzidas nas discussões algumas orientações e possíveis encaminhamentos. Para homens e mulheres, seria fomentada uma palestra sobre a importância do planejamento familiar, pontuando ainda métodos de prevenção de concepção. Para reforçar o objetivo educativo dos grupos de discussão e da palestra, seriam distribuídos panfletos simples e ilustrativos para a população.
Uma discussão aberta sobre gênero e sexualidade, com a participação de profissionais da saúde convidados, também poderia ser implementada. Necessário também aproveitar cada oportunidade de contato com a população para, além de educar, demonstrar que a Unidade é um espaço de acolhimento, prevenção e promoção de saúde. O estreitamento dos laços com a comunidade, nesse sentido, permite maior assertividade no pleno funcionamento da UBS, uma vez que possibilita o desenvolvimento de um sentimento de confiança e credibilidade dos usuários perante à equipe e aos serviços ofertados.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, R. D.; SANTOS, J. S.; MAIA, M. A. C.; MELLO, D. F. Fatores relacionados à saúde da mulher no puerpério e repercussões na saúde da criança. Esc Anna Nery.v.19, n.1, p.181-186, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência Pré-natal: manual técnico. Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde. SPS/Ministério da Saúde, 2000.
LUIZ, M. S.; NAKANO, A. R.; BONAN, C. Planejamento reprodutivo na clínica da família de um Teias: condições facilitadoras e limites à assistência. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v.39, n.106, p.671-682, 2015.
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