13 de novembro de 2018 / SEM COMENTÁRIOS / CATEGORIA: Relatos

A Política Nacional de Assistência à Saúde da Mulher (PNAISM) enfatiza a assistência integral e as ações de promoção da saúde como princípios norteadores para garantir direitos sexuais e reprodutivos, consolidando os avanços do programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM). O planejamento familiar é objeto de atenção também na Constituição Federal do Brasil, que em seu artigo 226, parágrafo sétimo, considera – o de livre decisão de todo casal (COSTA at all, 2013).

Durante a nossa prática profissional na Estratégia de Saúde da Família (ESF), foi comum encontrarmos famílias em condições de vida singularmente especiais que exigem atuação profissional diferenciada. Tratam-se de famílias consideradas em situação de risco, com grande número de filhos e, dessa forma, acredita-se que o melhor método anticoncepcional é aquele apropriado às necessidades do casal. Foi identificado por nossa equipe que existia uma fragilidade significativa em relação à abordagem adequada para a oferta de contraceptivos em nossa área. As usuárias estavam fazendo uso aleatório dos mesmos sem nenhuma entrevista ou consulta médica e sem realização de exames de rotina.

A partir do momento que recebiam a primeira orientação que quase sempre não era de um profissional de saúde, estavam comprando e usando contraceptivos indiscriminadamente sem nenhum controle.  Resolvemos então adotar uma ação de intervenção através da médica e enfermeira durante os atendimentos de mulheres em idade fértil ou puérperas através de perguntas  sobre contracepção durante a consulta, anamnese dirigida, com perguntas sobre tabagismo, hipertensão, história de trombose de qualquer tipo, doença cardíaca, amamentação, diabetes, enxaqueca com aura, hepatite viral, câncer de mama, uso de medicamentos de uso contínuo como anticonvulsivantes, Lupus Eritematoso Sistêmico (LES) com anticorpos antifosfolípides positivos ou desconhecidos, Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença inflamatória pélvica, entre outras. Durante a consulta em alguns casos realizamos a solicitação de exames.

A partir de então, os métodos contraceptivos são apresentados à usuária que fica a vontade para esgotar suas dúvidas,  em caso de perguntas mais específicas que não sejam respondidas em decorrência de algo mais especializado, será agendada uma nove consulta de retorno breve. A prescrição sempre é realizada pelo médico, a partir então, a paciente é encaminhada à sala de educação e saúde onde terá uma entrevista com a assistente social que fará o seu cadastro para que possa receber seu contraceptivo gratuitamente de forma contínua, mensalmente. A cada retorno mensal serão feitas perguntas para verificação de algum efeito adverso garantindo assim uma maior segurança prescritiva. A usuária também recebe uma carteirinha, onde haverá um controle sobre as datas ou ausências de recebimento do contraceptivo. No caso em que a usuária opte por um método mais invasivo como o DIU ou laqueadura de trompas, será encaminhada ao especialista em ginecologia que existe dentro da Unidade Básica de Saúde (UBS). Quanto ao controle do uso do contraceptivo, se for detectado alguma alteração no momento do recebimento mensal, a usuária será encaminhada inicialmente à enfermeira da equipe que fará a escuta, e se julgar necessário, encaminhará ao médico. Porém independentemente de qualquer queixa ela fará consulta para reavaliação a cada três meses.

Tenho a perfeita convicção que esta intervenção ainda necessita ser ampliada, principalmente  com  a educação continuada de nossos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que são os profissionais que estão diariamente nas microáreas, para que possamos resgatar as inúmeras usuárias dentro do nosso território, identificando quem está fazendo uso de contraceptivos sem prescrição e acompanhamento do profissional de saúde. Ainda, podemos programar ações em nível das escolas, onde encontramos adolescentes grávidas de nosso território, quase sem condições físicas e psicológicas de cuidar e amparar seus filhos.

Características próprias do desenvolvimento psicoemocional durante a adolescência e a vivência da sexualidade tornam os adolescentes vulneráveis à riscos como gravidez indesejada, aborto e doenças sexualmente transmissíveis, dentre elas, HIV/AIDS e Hepatite C. Tais riscos podem comprometer o projeto de vida ou a própria vida dos adolescentes (DUARTE et all, 2011).

Esta experiência me fez perceber que não devemos maximizar dificuldades em relação as ações que necessitam de intervenção, apesar das dificuldades do nosso pouco tempo para reunirmos em equipe, onde todos possuem inúmeros afazeres, sempre podemos realizar um esforço maior, ou melhor, organizado, sensibilizando a equipe que ao observamos os resultados positivos é mais um passo  em benefício ao nosso usuário, em seu bem estar e satisfação, esse sentimento de tarefa realizada é enormemente gratificante.

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